O Lado Duro do Amor

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        Antes de ir embora da faculdade, vou a procura de Maya.
   - Vou participar. Falo para Maya que está a de costas para mim conversando com outra pessoa.
   - E o que te fez mudar de ideia? Ela pergunta, ficando de frente para mim.
   - Uma pessoa em específico. Continuo. - Mas isso não vem ao caso.
   - Pelo menos você vai participar. Ela começa a andar e eu a acompanho. - Aproveitando que você está falando sobre o baile, que tal me ajudar a arrumar?
   - Como assim? Você vai ficar responsável? Pergunto para ela.
   - Não. Uma outra garota é responsável, ela pediu a minha ajuda e eu estou pedido a sua. Ela para e olha para mim. - O baile é daqui a quatro semanas e a gente tem muita coisa pra fazer. Quanto mais ajuda, melhor. Maya sorri para mim.
    - Ok. Vou ajudar.
    - Você é a melhor Lydia. Maya me dá um abraço e se despede indo ao portão.

                         ******

      Chego em casa e vou até o escritório, onde meu pai se encontra. Dou três toque na porta e abro devagar.
   - Oi, posso entrar? Coloco minha cabeça para dentro da sala.
   - Oi filha, pode sim. Meu pai fecha o computador para focar toda a atenção em mim.
       Sento me na cadeira a frente dele, pego um copo de champanhe na qual ele está tomando e levo a minha boca.
   - Vai ter um baile na escola daqui a umas semanas. Preciso de um vestido incrível. Tomo um gole da bebida. - Pode chamar a costureira da família?
   - Claro meu amor. Meu pai se levanta e senta ao meu lado.
        Ele pega a bebida da minha mão, coloca na mesa e segura as minhas mãos, olhando bem no fundo dos meus olhos. Toda a sala ficou em um completo de silêncio e eu já sabia o que estava por vim.
   - Filha. Ele faz uma breve pausa. - Entendo que o que sua mãe fez e falou foi completamente errado, mas não da pra ficar brava tanto tempo assim.
    - Pai. Viro meu rosto para bloquear um contato entre eu e ele, mas olho para ele em seguida.
    - Você já é adulta Lydia. Sabe das coisas, não vou ficar aqui ditando o que você deve ou não fazer. Mas a sua mãe sempre esteve presente. Ele suspira e volta a falar. - Acho que já está na hora de você saber. Ele pega o copo da champanhe e leva a boca.
    - Saber do que? Pergunto a ele.
   - Eu e sua mãe não estamos mais casados.
       Solto minhas mãos da dele por que aquilo veio como uma flechada no meu coração. Durante anos meus pais ignoraram o fato de que eu devia saber sobre isso, mas resolveram esconder de mim.
   - Fizemos um acordo. Ele continua. - Não iríamos nos afastar de você para não te deixá-la triste, você ainda era uma adolescente que estava em desenvolvimento, em crescimento. Decidimos que os dois iriam trabalhar, mas que eu ficaria mais tempo com você ao invés de sua mãe.
        Minha cabeça estava borbulhando naquele momento, era informação atrás de informação e eu já estava perdida.
    - Ela sempre esteve presente na sua vida, filha. Ele volta a pegar nas minhas mãos. - Mesmo que não seja pessoalmente. Sua roupa de formatura, ela que comprou, seu aniversário foi ela quem bancou. Ela trabalhava pra te dar as melhores coisas, os melhores médicos, as melhores escolas, e tudo que pudesse ter feito você se tornar essa mulher que é hoje.
    - Não entendo. Meus olhos estavam começando a se encher de água. - Por que agora? Por que não antes? Eu merecia saber disso, eu tinha direito de saber disso. Digo com a voz ofegante.
   - Eu sei. Você está certa, você merecia saber disso a muito tempo. Ele passa o dedo em meu rosto limpando as lágrimas que são derramadas pelos meus olhos. - Eu me arrependo amarguradamente de não ter te contado antes. Mas eu não podia. Não podia estragar sua felicidade por algo que não era culpa sua.
         Levanto da cadeira, vou até a porta mas paro antes de abrir a maçaneta.
    - Eu só não acho justo ter sido enganada tanto tempo por vocês. Falo de costas para meu pai.
        Abro a porta e a fecho em seguida, sem que ele possa me responder. Vou ao meu quarto, deito me na cama de bruços, com a cara enfiada no travesseiro. Começo a chorar descontroladamente com o que eu acabará de descobrir a respeito de meus pais. Durante anos fiquei achando que eles viviam um lindo romance, mesmo não desmontando isso na minha frente. Hoje percebo que fui enganada, que não posso confiar nos meus próprios pais. Eles não me contaram algo que eu merecia, mas que qualquer um, saber. Isso veio como um tiro no meu peito, doeu e continua doendo.