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       Fique um bom tempo parado, em completo silêncio tentando processar tudo aquilo. Volto a olhar a carta novamente.
   - 14 de Fevereiro. Digo pra mim mesmo. - 5 dias antes de eu nascer. Suspiro e dobro a carta.
      Vejo uma foto de minha mãe com um homem, viro e vejo algo escrito atrás. "te amo tanto Vanessa, com amor Fernando". Era meu pai. Ele era alto na foto, tinha cabelos cacheados como os meus, sua pele era retina e ele tinha um cavanhaque. Vestia uma camisa preta e uma calça jeans. Minha mãe estava ao lado dele com um lindo vestido comprido vermelho, seus cabelos estavam volumosos, e em suas mãos estava um lindo buquê de flores que supostamente foi entregue a ela pelo Fernando.
       Ouço um barulho na cozinha e checo o horário no celular, meu pai acabou de chegar do serviço. Pego a ft e a carta e as seguro na minha mão, levo a caixa de volta a estante e saio do sótão.
    - Por que você não me disse? Falo chegando na cozinha e colocando a carta e a foto na mesa, para ele ver.
       Ele pega a carta e a foto, olha por uns seguidos e fecha os olhos, dando um suspiro. Em seguida olha para mim.
   - Eu posso explicar. Ele põe a carta e a foto na mesa novamente.
   - Você vai conseguir explicar por que durante 22 anos, eu nunca pude ter a chance de saber que na verdade eu tenho outro pai? Falo para ele. - E que precisou de uma aliança para mim descobrir isso tudo?
   - Foi decisão da sua mãe de não te contar, eu apenas respeitei. Ele continua. - E antes dela morrer no hospital, ela me fez prometer que eu não ia te contar sobre isso.
   - Então a melhor coisa, foi não contar para mim que meu pai verdadeiro era outro? Fizeram disso o segredinho de vocês, como se eu não tivesse direito de saber? Pego a foto e a carta na mesa. - Esperava mais de você pai. E da mamãe também. Saio da cozinha sem escutar o que meu pai estava falando.
      Fui ao meu quarto, me joguei na cama de cara no travesseiro e fiquei lá por vários e vários minutos.
      Liguei pra Lydia depois de uns minutos perguntando se ela estava disponível e se podíamos sair, felizmente ela concordou. Era umas sete horas da noite, quando eu e ela nos encontramos na praça principal da cidade.
   - O que houve? Lydia pergunta ao me ver. - Sua voz tava meio estranha na ligação.
   - Descobri algo que me deixou apavorado. Digo, enquanto dou um abraço em forma de comprimento.
   - E o que é? Ela faz outra pergunta, enquanto nós dois no sentamos no banco a nossa frente.
   - Aparentemente, Anderson não é meu pai biológico. Minha voz falha nesse momento, mas consigo terminar a frase.
   - Como assim? Lydia continua perguntando e dessa vez, seu rosto demonstra um olhar confuso.
   - Enquanto eu estava procurando um negócio no sótão, descobri uma carta de um tal de Fernando Cunha, que mandou pra minha mãe em 2001. Continuo. - Na carta estava escrito que ele se arrempede de ter traído ela e no fim, pede para ela cuidar do filho deles. "Amo você, amo Hugo, amo vocês". Repito a frase que estava no fim da carta.
   - Meu Deus. Lydia muda seu olhar confuso, pra um olhar de espanto. - Eu não sei o que falar.
   - Não tem o que falar. Só queria sair de casa, porque acabei brigando com a meu pai, ou melhor, segundo pai. Suspiro e volto a falar. - Mas eu quero conhecer o Fernando, conhecer meu verdadeiro pai.
   - Bom. Lydia pega na minha mão. - Minha família tem um detetive particular, posso pedir para ele procurar esse tal de Fernanda Cunha.
    - Não quero te incomodar com os meus problemas.
   - Você não vai. Nossas vozes se embola quando ela me interrompe. - Eu quero fazer isso porque é importante pra você Hugo, e pra mim também.
       Nesse momento eu a olho no fundo dos seus olhos e dou um lindo sorriso. Vejo cada detalhe dela e sinto um desejo aparecer dentro de mim. Minhas mãos se lança em seu rosto e o traga para perto de mim, tocando enfim, nossos lábios. Um beijo que não demora muito, mas que mesmo assim é profundo como um oceano.
    - Obrigado. Digo, quando nossos lábios se separam.
   - Eu tô aqui pra você. Lydia sussurra para mim.
  - Vamos tomar um sorvete? Pergunto me levantando e estendendo a mão para ela.
   - Claro. Ela se lança para mim e me dá um beijo novamente.
     Andamos juntos até a sorveteria que ficava a duas quadras da praça. Depois de tomar sorvete e ficar conversando, levei Lydia até sua casa, ela me convidou para dormir lá, mas depois do que a mãe dela fez comigo, fiquei meio com receio e acabei não aceitando. Prefiro ir para uma casa na qual meu pai mentiu para mim durante anos, do que ficar numa casa com uma mulher que cometeu racismo comigo.

O Lado Duro do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora