Boa leitura
Gloria
A semana foi conturbada, Orlando saiu de casa na segunda e, na terça, depois do treino e de alguns compromissos, voltei para casa e encontrei todos na sala de lazer. Cléo, Antônia, Ana, Bento e Orlando estavam reunidos, conversando, mas o clima era tenso. Meus filhos debatiam entre si, tentando entender o motivo do divórcio. Perguntaram ao pai, mas ele apenas respondeu que esperassem minha chegada para que tudo fosse esclarecido.
Assim que entro na sala, os olhares se voltam para mim, me sento na poltrona e respiro fundo antes de começar a falar. Explico que há muito tempo o casamento entre mim e o pai deles não funciona mais. Eles questionam, querem entender como chegamos a esse ponto, e, antes que eu pudesse continuar, Orlando toma a frente.
— A culpa é minha — ele diz, a cabeça baixa, a voz carregada de vergonha.
Todos o encaram, inclusive eu.
— Há três anos conheci uma mulher em Paris, ela foi a um show meu, e, depois, veio até o camarim, começamos a conversar... Alguns meses depois, voltei para Paris e aceitei sair com ela. Acabamos transando. Desde então, mantemos um caso.
O choque na sala é palpável. Ana arregala os olhos, Bento solta um riso nervoso, incrédulo, Antônia se encolhe no sofá. Eu escuto tudo imóvel, como se ainda precisasse processar.
— Eu sei que errei, estou arrependido, perdi a mulher que amo, minha companheira — ele olha para mim, os olhos cheios d'água, a voz embargada. — Sei que o que fiz não tem perdão, e eu aceito o divórcio, mas, mesmo que você não acredite... eu te amo. Me perdoa, por favor.
Seguro seu olhar por alguns segundos antes de responder, sincera:
— Eu te perdoo, Orlando, mas isso não muda nada. Eu não consigo continuar nesse casamento.
O silêncio se instala por um momento até que Ana balança a cabeça, incrédula, e murmura, com lágrimas escorrendo:
— Eu não acredito que o senhor fez isso...
Bento aperta as mãos nos joelhos, o rosto vermelho de raiva.
— O senhor teve um caso por três anos, pai? Três anos traindo a mamãe?!
— Bento, calma — peço, tentando conter a tensão no ambiente.
— Que decepção — Antônia murmura, a voz fraca, quase inaudível.
— Estamos todos muito nervosos, precisamos nos acalmar e conversar depois — Cléo intervém, sempre a mais sensata, tentando apaziguar os ânimos.
— Me perdoem — Orlando insiste, a voz trêmula, visivelmente abalado.
Cléo se levanta e vem até mim, me envolvendo em um abraço apertado.
— Estou do seu lado, sempre, no que você decidir. Pai... o que o senhor fez foi cruel e quase imperdoável, mas eu ainda te amo, e você ainda é meu pai.
Bento solta um suspiro pesado e se levanta abruptamente.
— Eu vou subir.
— Eu vou embora — Ana diz, enxugando as lágrimas. — Meu voo para São Paulo sai em uma hora.
Ela caminha até mim e me dá um selinho demorado, como se quisesse dizer algo sem palavras. Depois, olha para o pai, solta um "tchau" seco e sai sem olhar para trás. Abraça Cléo no caminho e desaparece escada acima.
Orlando também vai embora pouco depois, e Cléo decide dormir comigo essa noite. Em algum momento, penso em contar sobre Paulo, mas desisto. É recente, confuso, e eu mesma ainda não sei onde isso vai dar.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Desejo oculto
FanfictionPaulo Rocha e Gloria Pires começam a gravar uma novela juntos "terra e paixão" e ao longo do tempo que passam juntos surge uma paixão avassaladora no coração deles.