Capítulo 1 - Passado

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1886, numa pequena cidade da Inglaterra, onde a era das indústrias cresce progressivamente, existe uma sociedade hipócrita e soberba. George Vanklein faz parte dessas sociedade apesar de não ser hipócrita, nem soberbo.
Ele é um grande produtor de rosas, as famosas rosas Vanklein, que se tornaram grande parte da matéria prima para novos perfumes da Europa, patrimônio construído com todo seu esforço e trabalho. Mora em uma grande casa entre a cidade e o campo onde há um lago e um pequeno jardim de rosas vermelhas. George, antes de enriquecer, trabalhava com seus pais cultivando e vendendo flores numa barraca no centro da cidade. Com muito esforço seus pais conseguiram colocar ele e seu irmão Daguerre na escola.

O pai deles, Joseff adorava o mundo da ciência e das invenções e por isso colocou nomes de inventores em seus filhos (George, inventor da primeira locomotiva e Daguerre, um dos inventores da fotografia), às vezes até se arriscava em construir parafernalhas que ele acreditava serem boas. Sua esposa Leslie detestava suas invenções malucas, mas o apoiava, os dois eram grandes companheiros um do outro. Um dia, Joseff construiu algo para ela, que não era nada maluco, na verdade era um colar, simples, com a corrente prata e seu pingente era uma pedra negra aparentemente sem valor algum. Na pedra havia uma pequena fenda para se abrir, Joseff disse a Leslie para guardar algo especial ali e ela decidiu guardar uma pequena foto dos filhos, umas das invenções mais comemoradas por Joseff.

George sempre ajudou os pais e era muito querido por todos, Daguerre era mais distante, mas também ajudava. Apesar de ser o irmão mais velho se sentia o menos reconhecido, ou querido e guardava mágoas sobre a família, sonhando ir para longe e ficar muito rico para esfregar na cara da família que ele era o melhor. Mas as coisas não foram bem assim. Logo que terminou os estudos arranjou um emprego numa grande fábrica de calçados, não ganhava o bastante para se sustentar sozinho e muito menos se mudar, observava a rotina da fábrica, os cargos, chefes, de quem deveria se aproximar, até que conheceu Mariana, filha do dono da fábrica. Daguerre viu logo que se aproximando dela poderia crescer.

E foi exatamente isso que ele fez. Mariana não falava muito com as pessoas, não conhecia o mundo, mas tinha muita curiosidade. Então quando ela ia visitar seu pai na fábrica encontrava Daguerre que lhe contava muitas histórias, sonhos, lugares distantes, ele sempre foi excelente contador de casos. Suas palavras despertaram em Mariana a sua até então desconhecida ambição. Depois de um tempo ficaram noivos, Daguerre foi promovido e se casaram. Passaram a lua de mel na Suíça. Ao regressarem foram morar numa bela casa no centro da cidade, cedida pelo pai de Mariana, onde viviam aparentemente felizes. Este se deixou levar pela lábia de Daguerre e por estar muito velho, vendo a filha tão apaixonada, não criou barreiras quanto a união.

Um mês depois Joseff teve um infarto e faleceu, as coisas na casa da família Vanklein ficaram difíceis, principalmente para George que tinha que cuidar da casa, ajudar a mãe, trabalhar e estudar.

- Mãe? Mãe? - chamou George.

- Ahn, sim meu filho - respondeu Leslie, distante, olhando o céu pela janela segurando a pedra negra nas mãos.

- A senhora está bem?

- Estou sim querido, não te vi chegar, vou prepara algo pra você comer.

- Não mãe, não precisa, já comi. - disse George colocando a as mãos em seus ombros. - vamos ficar bem, vamos conseguir.

Leslie sorriu para o filho com os olhos marejados, algumas lágrimas caíram e se abraçaram.

A cada dia que se passava Leslie ficava mais abatida, mas se mantinha firme por causa de George, não queria deixá-lo preocupado. Mesmo assim ele percebia, ela já não se alimentava como antes. Juntando a tristeza pela perda do marido, a idade, o cansaço, a saudade de Daguerre que não a visitava, acabou ficando doente. Passava grande parte do dia na cama e não tinha mais tanta força para trabalhar. Uma moça, Antonia, filha de uma antiga amiga de Leslie a visitava e a ajudava nos afazeres da casa e levava flores para ela todos os dias. Então, logo depois que George se formou ela faleceu. Daguerre foi avisado e foi para a casa da mãe. Chegando lá achou que George brigaria com ele por não ter aparecido antes, mas ele lhe deu um longo abraço chorando muito. Depois do velório quando amigos e familiares iam saindo, Daguerre disse que queria ficar um pouco a sós com a mãe. George se retirou. Daguerre olhava bem fundo para o rosto de sua mãe com uma expressão indefinida, foi se aproximando mais dela, passou a mão em seu rosto para o pescoço e arrancou o cordão de prata que ela usava.

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