Capítulo 14 - Rolando Pela Escada

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George e Antonia se olharam e assentiram.

- Tem uma flor azul muito bonita, mas é muito perigoso - disse George.

- Pois bem, acho que você foi envenenando com isso.

- O que?!!! - disseram George e Antonia.

Annalize começou a explicar tudo o que achava até ali. Desde o papel que encontrou até a ida ao endereço. Seus pais não gostaram nada de saber que Luke e Joana foram com ela até um endereço estranho sem falar com eles. George balançava a cabeça em negativo enquanto ouvia e Antonia com os olhos arregalados colocou uma mão no coração. Os dois estavam chocados e precisaram de alguns minutos para absorveram tudo aquilo.

- Mas... Minha filha... Eu sei que Daguerre pode ser muito frio às vezes e até arrogante, mas matar? Me matar?! Como ele faria isso? Eu... Eu já tive problemas no pulmão quando criança. Pode ter voltado! E acônito não é só usado como veneno, pode ser medicinal dependendo da dose!- dizia George, tentando convencer a si mesmo, porque enquanto falava também se lembrava de sua infância e juventude com Daguerre. Da inveja, dos ciúmes, a distância dos pais, do desejo dele de sair de casa logo, a ausência quando a mãe ficou doente.

Annalize começou a falar muito mais. De como Daguerre abandonou o filho, de como trata os empregados, como dá valor a coisas fúteis, como seu humor é instável... George não podia negar nada daquilo e sentiu muita tristeza, seus olhos estavam marejados. Annalize se levantou e foi até ele o abraçando.

- Me desculpe pai, mas você precisa acreditar em mim, é sua vida!

Ele retribuiu o abraço, Antonia também tinha os olhos marejados.

- George... Sei que tudo pode ser uma coincidência, mas e se... For verdade? - Perguntou Antonia receosa.

George e Annalize se soltaram do abraço, ele deu um grande suspiro depois de tossir um pouco, com uma leve tremedeira nas mãos. Passou as duas mãos no rosto e na cabeça pensando por uns minutos.

- Primeiro, vou falar com Dr. Hall, o mais rápido possível. Amanhã cedo iremos até ele Antonia. - disse compenetrado - se ele ainda não conseguir identificar e eu não melhorar vou confrontar Daguerre com as suspeitas, o modo como ele reagir diante disso nos dirá muitas coisas.

- Ele vai negar com certeza - disse Annalize.

- Ainda que negue, vai transparecer alguma coisa. Alguma coisa vai mudar. Isso é muito difícil pra mim, eu amo meu irmão, mas se houver verdade nisso ele se verá com a justiça e essa não será mais sua casa, ou sua família - disse George com amargor - Por hora, isso fica entre nós, nem pense em ir à casa de madeira de novo Annalize, falarei com Luke e Joana também.

Annalize assentiu e enxugou uma lágrima que caiu.

- Obrigada por se preocupar comigo filha, mas seja o que for, estamos um passo a frente não é mesmo? Temos possibilidades. - disse George a encorajando a não se desesperar, apesar de estar arrasado por dentro.

Ela deu um sorriso fraco para ele e o abraçou novamente, depois abraçou sua mãe. Antonia ouviu o estômago de Annalize roncar.

- Você ainda não se alimentou não é? - pergunta ela fazendo carinho no braço de Annalize, que balançou a cabeça em negativo.

- Ficar sem comer não vai adiantar nada, fale com Margot, depois vou até a cozinha também, quero falar mais um pouco com seu pai primeiro.

Annalize assentiu, os olhou por uns instantes e saiu do escritório. Sentia sua cabeça girar um pouco. Não sabia se era pela fome, ou pela enxurrada de acontecimentos em apenas um dia. Ainda eram 17h20min. Ao ir para cozinha sentiu o cheiro do perfume de Daguerre e parou. Ele devia ter passado por ali há pouco tempo, desistiu de ir para a cozinha, precisava de ar. Lembrou-se dos pés de mirtilo perto da cerca, ela adorava essa fruta. Elas nasciam em arbustos, assim, quando era pequena, ela conseguia pega-las ao tentar ajudar senhor Tatsuo. Comia grande parte do que pegava, mas se sentia útil ao evitar que Tatsuo se curvasse para colhê-las.

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