Silêncio na biblioteca. Exceto pela batida do sapato de Luke no chão. Pra cima e pra baixo.
- Poderia parar de bater o pé? - Pergunta Joana quase como uma súplica.
- Me desculpe - disse Luke parando.
Ambos estavam desconfortavelmente sentados no mesmo sofá pequeno. Não havia outro por ali, mas alguém poderia ter sentado em uma das cadeiras que cercavam a mesa no canto.
Luke disfarçadamente observava os cabelos soltos de Joana, que fitava a estante a sua frente, das pontas à raiz. Passou as mãos nos cabelos e apoiou os cotovelos nas pernas inclinando-se para frente pensativo. Pelo canto dos olhos fitou os sapatos dela.
"Que demora Annalize..." pensava.
- Gostou?
Luke parou de respirar por um momento.
- Como? - virou-se para Joana.
- Esquina da Rua Singleton, por encomenda - disse Joana levantando um pouco os pés para mostrar melhor os sapatos - se disser que eu indiquei pode ganhar um desconto.
Luke riu.
- Agora, o cabelo, sinto lhe informar que não está a venda, mas pode encontrar algo parecido em alguma peruca.
Luke fez uma expressão de que tinha sido pego e sorriu sem graça, mas resolveu entrar na brincadeira. Nunca mais conversaram sozinhos desde aquela noite na casa de Joana, ele não havia esquecido aquilo, choraram juntos, se abraçaram. Queria ver mais de seu sorriso.
- Obrigada pela informação, mas acha que eu ficaria bem ruivo? - disse com falsa seriedade.
Joana o observou um pouco, como se estivesse imaginando e avaliando como Luke ficaria.
- Hum... Não, você está bem assim, mas os sapatos lhe cairiam muito bem.
Os dois riram alto sobre aquele diálogo absurdo.
Luke então teve a chance de ver seu sorriso. Um sorriso sincero e cheio. Uma risada melodiosa, daquelas que você nem precisa saber sobre o que se está rindo, mas é levado a acompanhar. Mas o olhar misterioso de Joana continuava, apesar de mais brilhante.
- Você tem um sorriso lindo Joana - disse admirado.
"O que? Por que eu disse isso em voz alta?!" pensou.
Joana diminuiu o sorriso e agradeceu.
- Obrigada.
Ela estava acostumada com elogios, mas não sentiu aquele como os outros e se detestava por isso.
- Luke, queria aproveitar a oportunidade e lhe pedir desculpas. - disse séria.
- Pelo que?
- Pelo modo que lhe tratei quando o conheci. Não costumo ser tão arrogante assim de primeira.
- Eu contribuí de alguma forma para isso? - perguntou receoso.
- Não, tem se demonstrado um bom amigo de Annalize, me desculpe.
- Tudo bem, eu acho que entendo, sendo filho de quem sou. - disse ele olhando para baixo.
Por um momento Joana se preocupou com a possibilidade de Luke saber de seu quase envolvimento com Daguerre.
- Por que está dizendo isso? - perguntou se aproximando mais.
- Ora, meu pai pode ser um assassino! - disse ele.
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Pedra Negra
RomanceNo decorrer da história do mundo presenciamos objetos fazerem parte de nossas vidas, damos significados à eles e muitos atravessam gerações. Mas, o que é realmente interessante são as histórias de vidas inteiras que se atravessam nessas peças, entre...