Annalize deu um sorriso fraco para a pose de homem de negócios que Charlie fez. Ela o contextualizou brevemente sobre Daguerre e Luke e disse que ele poderia perguntar mais detalhes à Beth, já que não tinham muito tempo.
- Como você está conseguindo dormir lá? – Charlie pergunta.
- Eu tranco a porta, mas isso não vem ao caso agora. Diga-me, como a fábrica está seguindo sem meu pai? – Annalize pergunta.
- Os trabalhos estão seguindo de modo automático e quando decisões importantes precisam ser tomadas há uma reunião onde os diretores, daqui e do roseiral, os dois sócios, mais Daguerre e Luke, devem entrar num consenso – explicou Charlie – a porcentagem dos sócios é muito pequena, então eles não tomam nenhuma decisão sozinhos e o testamento de seu pai ainda não foi aberto para sabermos com quem ele deixou a presidência. Era sempre ele quem tinha a palavra final.
Annalize assente.
- Você acha que ele pode ter deixado para Daguerre? – ela pergunta.
- Não sei... Talvez... Apesar do meu pai ser um dos sócios e ter sido como um braço direito do seu, acredito que George queria deixar sua obra em família. É natural que seja assim. E Daguerre também trabalhou ao lado dele. – Charlie respira fundo – A verdade é que os operários tinham a esperança de que Luke se tornasse o novo presidente quando o pior aconteceu, mas com a notícia que tivemos hoje, todos estão um pouco temerosos com o futuro.
Annalize apoia o cotovelo na mesa e o queixo na mão pensativa.
- E você Charlie? – Ela pergunta lembrando-se de tudo o que presenciou até ali.
- Eu? – ele arqueia as sobrancelhas – Continuo aqui, belo como sempre.
Annalize revira os olhos.
- Quero dizer sobre seu trabalho aqui. Pareceu-me ter muito contato com os trabalhadores, longe da administração...
- Ah... Bom... – ele pondera e finalmente fala depois de um suspiro – Meu pai sempre me pressionou a conseguir uma boa posição. A conquistar tudo o que estivesse ou não ao meu alcance. Ele não aceita pouco para nós, seus filhos.
Annalize assente e o incentiva a prosseguir.
- Por um tempo achei que ele estava certo e alcançar ou conquistar posições e destaque na elite era meu objetivo. Mas, depois de muito perseguir seu pai com meu diploma debaixo do braço – ambos riem – ele me deu uma chance na fábrica, mas com a condição de que eu começasse por baixo. Primeiro fui ajudante do Roger, o homem das caixas e carregamentos.
Annalize arqueia as sobrancelhas.
- Sim, senhorita Vanklein, fiz trabalho braçal, mas foi bom para deixar meus músculos ainda mais bonitos – diz ele dobrando os braços em demonstração. Annalize balançou a cabeça em negativo vagarosamente. Charlie sorriu.
- Depois - continuou ele – fui ajudante de Edna, a dama de lenço vermelho. Ela é um pouco brava, mas muito competente. Enfim, aprendi muito com ela e com cada um com quem trabalhei, até mesmo com Frederick, de quem sou assistente agora. Foi como se um mundo novo se abrisse diante dos meus olhos. Seu pai ensinou-me que todos têm o seu valor aqui.
Annalize sorriu lembrando-se do pai e como ele de alguma maneira tocou na vida de diferentes pessoas.
- Mas sabe o que é melhor nas operárias desta fábrica? – Charlie quebra o momento singelo, falando mais baixo.
- Não, o que? – Annalize pergunta extremamente receosa da resposta.
- Todas cheiram a rosas – ele diz de forma galante e saudosa ao mesmo tempo.
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Pedra Negra
RomanceNo decorrer da história do mundo presenciamos objetos fazerem parte de nossas vidas, damos significados à eles e muitos atravessam gerações. Mas, o que é realmente interessante são as histórias de vidas inteiras que se atravessam nessas peças, entre...