Edmund voltava do almoço. Achou que estaria mais relaxado com a barriga cheia. Depois de uma manhã inteira e parte da tarde de interrogatório, sentia seus olhos arderem um pouco. Sentou-se na poltrona da sala de Stein e acendeu um charuto.
-Você está do mesmo jeito que te deixei antes de sair – comentou ele para o delegado atrás da mesa – não está de plantão. Vá para casa.
- Almocei aqui mesmo. Temos muito que fazer aqui – respondeu Stein – aliás, como vamos fazer com Daguerre? - Ambos estavam cientes de que os testemunhos e fatos levavam à culpa de Daguerre.
- Vamos indiciá-lo. Mesmo que não fique preso no início do processo contra ele por não haver um flagrante, irá a julgamento. Duvido muito que escape com todas as informações que temos. Principalmente se houver júri popular.
- Sabe – o delegado reflete – conheço esse homem há muito tempo. Os dois irmãos na verdade. Fui ao casamento deles... Às vezes, esse trabalho me faz ter asco das pessoas.
- Lhe entendo – Edmund fuma e expira a fumaça para o alto - E temos mais uma questão. Os cúmplices.
Stein suspira.
- Me dê um charuto, por favor.
...
- Como foi o seu dia? – Nina pergunta ajudando Daguerre a tirar seu paletó.
- O de sempre. Tendo que resolver tudo sozinho no fim das contas – ele retira a gravata.
- Tivemos uma visita hoje.
Daguerre vira-se para Nina e espera que ela continue.
- Annalize. Annalize, Lorenzo e aquele outro rapaz estiveram aqui.
- O que? – Ele senta na cama.
Daguerre estava ciente dos acontecimentos na Casa de Recuperação Solar pelos jornais, mas não sabia onde Annalize estava. O doutor Simon Watts estava tendo seu registro de médico cassado e antes de partir para a casa de parentes no interior, fez questão de chantagear Daguerre.
Semanas atrás...
- Não é minha culpa que pode perder seu registro – Daguerre dizia firme em sua sala na Fábrica – não fui o primeiro a pedir a sua ajuda, ou melhor, a lhe pagar para fazer um serviço. Você foi o incompetente que deixou mulheres, mulheres! – enfatizou – escaparem bem debaixo do seu nariz!
O médico riu nervoso e ficando de pé colocou as mãos na cintura.
- Por que não a prendeu no seu porão se é algo assim tão simples? – Perguntou com empáfia.
- Devia ter feito isso – Daguerre responde e ajeita a bengala que Simon deixou torta sobre a mesa.
O médico pega a bengala rapidamente e aponta para Daguerre, ainda sentado atrás da mesa.
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Pedra Negra
RomanceNo decorrer da história do mundo presenciamos objetos fazerem parte de nossas vidas, damos significados à eles e muitos atravessam gerações. Mas, o que é realmente interessante são as histórias de vidas inteiras que se atravessam nessas peças, entre...