Dimitri, com a boca suja de chocolate, tentava responder as perguntas de Annalize da forma mais discreta possível. Apesar de ter lido bondade e sinceridade na moça, não sabia se Lonan gostaria que ele tagarelasse sobre o que já ouviu, ou sobre a clara mudança que reparou no rapaz de uns tempos para cá.
- Parece uma vida trabalhosa Dimitri – Disse Annalize com ternura, depois que o menino lhe respondeu sobre onde vive e o que faz.
- É... Deve ser. A verdade é que não sei como seria se não fosse assim. Mas sou muito feliz – ele fez questão de ressaltar, levantando o pequeno garfo no ar.
Annalize sorriu para ele e sentiu tristeza, pois sabia que haviam muitas histórias como a de Dimitri. Queria poder ajuda-lo. Conversaram mais um pouco sobre diferentes coisas até que Annalize lembrou-se do que ele havia dito.
- Então Dimitri, esse é seu terceiro pedaço de bolo e não me respondeu o que Lonan diz sobre mim.
Limpando a boca e terminando de mastigar o menino respira fundo e arria os ombros em sinal de rendição.
- Bom, ele falou de você algumas vezes – Annalize apoiou os cotovelos na mesa – Uma vez o ouvi falar seu nome com a querida Muriel na banca de frutas, eles sempre conversam...
- Uhn... Quem é Muriel? – Ela pergunta com curiosidade e pequenas gotas de ciúme.
- É a mãe dele, mãe emprestada – Dimitri diz a última frase baixinho.
- Ah... – Annalize assentiu.
- Estava falando algo sobre você ir à reserva. Como ele parecia feliz além do normal, mexendo numa fita azul como um tonto, resolvi me inteirar.
Annalize riu e começou a roer uma unha.
- Ele disse que estava ajudando amigos e para eu parar de perturba-lo com perguntas. Mas não sou o tipo de sujeito que desiste. Fiz a brincadeira do sim ou não e ele caiu como um pato do lago Windermere. – Dimitri dizia rindo.
Annalize arqueou as sobrancelhas.
- Como é essa brincadeira? – ela perguntou.
O menino se ajeita na cadeira e gesticula com as mãos como se fosse dar uma aula.
- Primeiro, faço perguntas básicas que se responde automaticamente e quando a pessoa estiver a ponto de bala pergunto o que quero saber.
Neste ponto o menino já não estava se importando tanto em contar o que ouviu a moça, a áurea de confiança era mútua.
- O que ele disse rapaz espertinho? – Dimitri adorou ser chamado de rapaz.
- Perguntei - o menino começou a contar, imitando a voz de Lonan nas respostas - O sol é quente, sim ou não? "Sim". A pedra é mole, sim ou não? "Não". A neve é fria, sim ou não? "Sim". Água queima, sim ou não? "Não". Annalize é bonita sim ou não? "Sim." Você gosta dela, sim ou não? "Sim." "Ei!" Ele disse e eu ri de doer a barriga. Quando ele percebeu, correu atrás de mim, mas joguei um cacho de mirtilos da barraca em cima dele e corri de lá.
Annalize gargalhava pela esperteza do menino e feliz por saber que Lonan gostava dela, apesar dele já ter dito. Pouco tempo depois ela fez uma trouxinha com pedaços de bolo, pães e algumas frutas e entregou ao menino, convidando-o a retornar sempre que quisesse.
Ele agradeceu e a surpreendeu com um abraço. Colocou sua boina com elegância e partiu.
"A melhor manhã que eu tive há tempos..." Ela pensou num suspiro vendo o menino correr até o portão. Depois correu para o quarto, jogou-se na cama e se acomodou de bruços para ler a carta.
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Pedra Negra
Roman d'amourNo decorrer da história do mundo presenciamos objetos fazerem parte de nossas vidas, damos significados à eles e muitos atravessam gerações. Mas, o que é realmente interessante são as histórias de vidas inteiras que se atravessam nessas peças, entre...