Capítulo 24 - Bônus Sihu

176 20 12
                                    

Bônus narrado por Sihu.

Às vezes me pergunto por que minha vida tem que ser tão difícil. Não precisava ser perfeita sabe, poderia ter problemas. Mas meus problemas são tão grandiosos que poderiam ser tema de alguma ópera. Mas não vou me fazer de vítima. Na verdade, detesto quando me subestimam. Estou aqui não estou? Deve haver uma razão. Meu irmão ri quando falo sobre minha teoria de estar tudo interligado, mas não me importo. Um dia conseguirei provar isso a ele.

Até que enfim, Lemon apareceu, esse cheiro de cachorro molhado é inconfundível. Nunca vi um animal gostar tanto de se molhar. Bom, não lembro a última vez que vi um. Agora que o tempo está melhor seguirei com meu plano. Irei até aquele campo de algodão e ninguém me impedirá. Vou aproveitar que Lonan estará fora, no velório do dono das rosas Vanklein. Aliás, que coisa triste, nunca ouvi falarem mal dele, Joana o tinha como da família, talvez na volta passe na casa dela.

Mas voltando ao meu plano... Quando criança, um dos melhores dias da minha vida foi visitar um campo de algodão com a minha família. Nunca ri e corri tanto. Quero sentir de novo a sensação de me jogar no campo e o algodão natural e puro passar sobre a minha pele. Sei que não é o mesmo campo e talvez não seja tão grande como o que conheci, mas será muito importante pra mim. Para isso, primeiro terei que ir a cidade onde encontrarei Dimitri que me ajudará. Aquele moleque é muito esperto, nem parece ter só dez anos.

Ele não queria muito me ajudar com medo de Lonan, mas ele não teve escolha, me devia um favor e prometi que Lonan não saberia. Se eu fosse mais velha e com posses, adotaria Dimitri. Ele é um dos poucos que me trata normalmente e só me ajuda quando estritamente necessário. Ele é uma criança ótima. Dorme em um abrigo e passa o dia engraxando sapatos ou levando recados, isso o faz conhecer cada canto desta cidade e os hábitos dos seus moradores. Ele sempre me conta uma nova fofoca, mas me recrimina quando uso essa palavra. Ele diz que como não tem livros para ler as palavras, lê vidas, histórias reais e só as conta pra mim.

Monto em Mirna, minha égua malhada que tanto amo, ela já conhece o caminho para o centro. Sinto que o dia será ótimo...

- Você está atrasada – Dimitri me repreende quando desço de Mirna e o encontro na esquina em que costuma engraxar sapatos. Bufo para ele. Está muito mandão.

- Olha como fala mocinho.

- Desculpe, é a fome, trouxe pãezinhos? – posso sentir a expectativa em sua voz.

- Trouxe sim – entrego a sacola para ele e o som da sua mastigação é rápida.

Dimitri me explica que deixará Mirna num beco nos fundos da padaria, onde provavelmente ganhará cascas de frutas. Sorte a dela. Pegaremos o cabriole mais simples que houver. O que minha bolsinha de dinheiro conseguir pagar. Por ser um lugar longe Mirna não aguentaria a distância.

Como estou feliz, se não fosse tão vergonhoso, sairia saltitando e dançando por essas calçadas, girando meu vestido florido. Nossa... Que perfume é esse? Não consigo identificar, mas uhn... É bom. Dimitri está falando com o cocheiro... Será dele esse perfume?

- Com licença senhorita – uma voz suave a minha direita fala comigo – parece que deixou seu lenço cair...

- Ah... Obrigada – Oh céus, o dono dessa voz é o mesmo do perfume. Posso sentir. Espera. Eu havia trago um lenço? Estendo minha mão para frente e sinto um lenço macio junto com um toque gracioso em minhas mãos.

- Não há de quer, mas posso saber seu nome? – diz a voz mais próxima. E que voz encantadora.

- É Sihu, mas pensando melhor, não me lembro de ter trago algum lenço. – Digo estendendo a mão novamente. Não vou ficar com lenço alheio para agradar a voz encantadora.

Pedra NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora