Joana cambaleia para trás, ela não podia acreditar.
- Onde ele está? – pergunta desesperada.
- Em minha casa, um pouco distante daqui. Ele está machucado e precisa de um médico, o soldado também.
- Soldado? – Samuel pergunta.
- Sim, soldado Thomas.
- O que aconteceu?
- Não sei ao certo, mas... – Seth explica rapidamente a teoria de Thomas.
- Meu Deus! Vamos, vamos logo para lá – diz Joana, já caminhando para a porta.
O próprio Samuel dirigiu a carruagem da família Burton, seguindo a carroça de Seth. Para Joana, o tempo nunca passou tão devagar quanto naquele momento. Segura a cabeça com as mãos, pensando se conhecia algum médico confiável, já que acreditava pelas suspeitas de Thomas, que não poderiam ir para um hospital e precisava escondê-los.
Quando a carruagem para depois de um tempo, Joana desce afobada, afundando seus saltos no chão de terra úmida. Samuel a auxilia a chegar na trilha de pedregais.
- Por aqui – Seth diz, abrindo a porta e lhes dando passagem.
Joana entra devagar, com medo do que encontraria. Vê na pequena sala, Luke adormecido sobre um sofá e Thomas deitado sobre colchas no chão. Suas mãos vão à boca, quando vê os cortes leves em seus rostos e curativos improvisados manchados de sangue.
Aproximou-se e acariciou os cabelos suados de Luke. Seus olhos marejaram. Quanta saudade ela sentia, diante de tão pouco tempo em que aproveitaram a companhia um do outro. Luke abriu os olhos devagar. Fitou aqueles olhos cor de café e abriu um leve sorriso. Pensou estar sonhando e fechou os olhos novamente.
- Você conseguiu Seth – diz Thomas sentando-se.
- Não foi tão difícil – o velho responde.
- Soldado Thomas – diz Samuel – como se sente?
- Já tive dias melhores – faz uma careta de dor ao mover o braço - mas estou feliz em ver vocês.
- Precisamos leva-los para casa – Joana diz sem tirar os olhos de Luke, passando a mão em sua testa quente – você conhece algum médico confiável Sam? Ou uma equipe inteira se for preciso, pagarei o que pedirem.
- Claro, deixe isso comigo Joana – Samuel responde.
Thomas agradece ao velho Seth com muito apreço. Deixou-lhe seu broche com o símbolo da justiça e a promessa de que voltaria e pagaria a estadia, mesmo sabendo que foi uma ajuda e não um serviço prestado. Seth riu e desejou sorte e melhoras aos jovens. Joana também o agradeceu e o abraçou.
Luke foi colocado na carruagem por Samuel e Seth, Joana colocou a cabeça dele em seu colo e continuou acariciando seus cabelos. Thomas, sentado no estofado a frente, observava a cena quando se lembrou de algo de repente.
- Que dia é hoje? E que horas são? – pergunta.
- Bem, não estou com um relógio, mas acredito que seja por volta das cinco da tarde, e hoje é domingo – responde Joana, que até então havia se esquecido da presença de Thomas.
O soldado deu um suspiro cansado. Depois de saber que seria um dos encarregados de levar os prisioneiros à Londres, Thomas pretendia voltar no mesmo dia, durante a noite para conseguir encontrar Beth na igreja pela manhã. Ainda que isso significasse não dormir mais que duas horas.
Mas agora era tarde de mais.
- Soldado? – Diz Joana.
- Sim? – diz desanimado, ainda olhando a pequena janela da carruagem.
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Pedra Negra
RomanceNo decorrer da história do mundo presenciamos objetos fazerem parte de nossas vidas, damos significados à eles e muitos atravessam gerações. Mas, o que é realmente interessante são as histórias de vidas inteiras que se atravessam nessas peças, entre...