- Amor – Joana tenta acordar Luke de um sono pesado.
- Uhn...
- Você passou o dia inteiro deitado, deixe de ser preguiçoso senhor Vanklein.
Luke sorri de lado e abre os olhos.
- Senhor Vanklein... Gostei disso...
Joana dá um tapinha em seu ombro.
- Ei! É você senhorita Burton, quem me cansa! Estou aqui ao léu, em suas mãos, sem defesa.
Joana lhe dá um tapa mais forte.
- Ai! Está vendo!
- Certo pobre coitado sob meus domínios, tome seu remédio – ela entrega junto ao medicamento um copo d'água.
Luke se levanta um pouco, recostando-se na cabeceira da cama e toma o remédio com uma careta. De pé ao lado dele, Joana pega o copo vazio e o coloca sobre a cômoda, aproveitando para ajeitar as flores no jarro, sobre o mesmo lugar.
- Você fica tão linda pela manhã – Luke diz pegando na mão dela, e interrompendo seu trabalho.
- Uhn... – Joana coloca a mão livre na cintura – o relógio já marca quatro da tarde – ela segura um riso e Luke gargalha.
Ele a puxa fazendo-a sentar-se em seu colo e a beija rápido.
- Deixe- me corrigir-me. Você é linda todas as horas.
Joana balança a cabeça e lhe dá um beijo leve. O delicado toque de Luke em sua nuca a faz desmanchar-se. Batidas são ouvidas na porta.
- Senhorita Joana? – Kate chama.
- Sim? – Responde enquanto Luke beija seu pescoço.
- A senhorita tem visita.
Joana franze o cenho. Não conhecia muitas pessoas em Londres. As visitas que receberam até o momento eram do médico ou de algum advogado ou informante de Samuel. O que não acontecia muitas vezes.
- Já volto – ela diz depois de dar um beijinho em um Luke chateado.
Levanta-se alisando o vestido, e parte para a sala. Ao chegar ela tem uma grata surpresa.
- Minha bailarina preferida?! – Joana exclama.
- A própria! – A bela mulher aproxima-se e as duas se abraçam sorrindo.
- Não sabia que estava em Londres – Joana diz.
- E não estava. O grupo fará uma curta temporada no West End e depois, férias. – ela esbanja graciosidade.
- Como soube que eu estava aqui?
- As notícias correm, querida. Ainda tem aquele bom e velho gin no armário?
- Sempre.
Elas sentam-se no sofá e Joana lhe serve uma pequena taça.
- E como está Paris? – Joana pergunta.
- Do mesmo jeito que você a deixou, bela e intensa – as duas riem – você está diferente...
- Como?
- Não sei... Mais deslumbrante – Joana balança a cabeça e ri.
Neste momento, um soldado totalmente desavisado cruza a sala e estaca ao ver que há visita.
- Ah... Perdão... Boa tarde, com licença – ele diz seguindo em disparada para os quartos.
- Uh lá lá – A jovem comenta quando ele some – então essa é sua receita para estar mais bela do que nunca?
- Não fale bobagens! – Joana fica um pouco nervosa, pois nem Thomas nem Luke podem ser vistos em sua casa – É meu primo. Um primo distante – ela tenta soar firme – e comprometido – reitera.
A moça sorri.
- Acalme-se Joana... Bem, e como vão os negócios? Estou querendo uma peça exclusiva!
As duas conversam por mais um tempo, e Joana mente dizendo estar em Londres por conta de novos tecidos e tecnologias. A jovem bailarina despede-se, prometendo voltar em breve.
- Até breve Joana querida. Foi muito lhe rever – diz sincera.
- Digo o mesmo. Até breve Maud – se abraçam apertado.
As duas conheceram-se em uma pequena viajem de Joana a Londres, por motivos reais de negócios. Uma das bailarinas do grupo La foule, Ellen, era amiga de Joana de seu tempo na França, e a partir dessa amizade em comum começaram outra.
Joana aceitou o convite, na época, de passar uns dias em Paris, e lá, as damas se divertiram entre músicas, compras e risos. Trocavam cartas de tempos em tempos. Elas se distanciaram um pouco depois da morte de Ellen, acometida por uma grave tuberculose.
Joana riu sozinha com os olhos um pouco marejados, lembrando-se deste tempo, enquanto reunia em uma bandeja delícias preparadas por Kate.
- Você ainda me tratará assim quando minha perna melhorar?
- Não mesmo – Ela segura um sorriso e coloca a badeja sobre a cama.
Luke faz um gesto de desdém com a mão.
- Mas então, quem era a visita? – Ele morde uma fatia de pão de milho com geleia de framboesa.
- Era uma antiga amiga. Não a via há tempos. Chegou a pouco em Londres e soube que eu estava aqui. Ah... – Joana expressa-se apreensiva por um momento – Ela viu Thomas...
- O QUE?!
- Calma! Consegui disfarçar bem. Disse que era um primo e Thomas passou tão rápido que acredito que não tenha gravado seu rosto.
- Não estou gostando disso Joana. Uma hora alguém vai descobrir, e se me veem aqui? O que dirá?
- Luke, a cada dia o seu mal. Ela é uma amiga confiável, ainda que desconfiasse de algo, falaria comigo primeiro.
- Mas não a vê faz tempo, como você mesma disse, como vai saber?
- Quando pessoas são amigas de verdade não importa o tempo. Ela falaria comigo. Ela já passou por tantas coisas difíceis que só a tornaram a pessoa de caráter que é hoje. Se a conhecesse entenderia.
Luke respira fundo.
- Tudo bem... É que... Eu me preocupo.
- Eu sei... – Joana passa uma mão em seu rosto e sorri de leve – agora coma, está delicioso.
Enquanto comem sentados um ao lado do outro, Joana conta seus pontos turísticos franceses favoritos.
- Ah! Esse eu conheço – Luke diz – nas férias da faculdade uma vez, fiz uma rápida passagem por Paris e só tive tempo de conhecer o Arco.
- Podemos ir juntos um dia – Joana diz sonhadora – te levarei à Catedral de Notre Dame, à Torre Eiffel, ao Louvre... E para assistir um espetáculo do grupo La Loie Fuller, é imperdível.
Luke arqueia um pouco as sobrancelhas.
- La Loie Fuller?
- Sim. Já ouviu falar? Maud é bailarina de lá.
- Ma... Maud?
Joana franze o cenho.
- Sim. Maud Thompson, minha antiga amiga que veio aqui hoje... O que foi?
- Eu conheço Maud Thompson.
Continua...
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Pedra Negra
RomanceNo decorrer da história do mundo presenciamos objetos fazerem parte de nossas vidas, damos significados à eles e muitos atravessam gerações. Mas, o que é realmente interessante são as histórias de vidas inteiras que se atravessam nessas peças, entre...