O plano de Annalize consistia em colocar Daguerre e Constantiny frente a frente, de modo que Daguerre se acusasse em palavras. Ela sabia que situações parecidas já foram vistas em livros, mas na vida real seria algo difícil de arquitetar, de maneira que delegado Stein presenciasse o flagrante. Mas, se ela conseguisse isso, não importaria o julgamento de Luke, nem a necessidade de provas.
A carta de Lonan pareceu diminuir o desejo um pouco mascarado de Annalize de fazer Daguerre sofrer, de machuca-lo. Como se as palavras dele dissipassem as nuvens negras que a rondavam. Mas deu-lhe ânimo para continuar lutando por justiça.
O primeiro passo seria fazer com que Daguerre achasse que estava por cima, Annalize fingiria recuar. Pensando nisso, tomou a decisão de aceitar a oferta de Joana. Sairia de sua casa e claro, levaria Antonia consigo. Naquela mesma noite ela pediu ajuda a Margot para fazer as malas, estando prontas para partirem logo cedo. Antonia se mostrou um pouco reticente com a ideia no início, mas depois concordou.
Na cozinha, jantando com Margot, Tatsuo e Lorenzo, Annalize tentava acalmar a cozinheira.
- Nós iremos voltar Margot é só uma fase – ela dizia fazendo um leve carinho no ombro da senhora.
- Ah menina, como essa casa vai ficar sem vocês? – Margot diz chorosa.
- Se quiser, venha conosco – Annalize diz depois de um suspiro – aliás, todos vocês se quiserem.
- Acredito Yukan'na que seja bom você ter olhos por aqui – diz Tatsuo – os meus já não leem como antes, mas estarei atento ao que ocorrer nesta casa. Afinal que ameaça um velho traria aquele Jaki?
Annalize sorriu. Não sabia o que significava aquela palavra, mas sabia que não era algo bom.
- Bem, pensando por esse lado – diz Margot reflexiva – posso ser mais útil aqui, também não gostaria de deixar Nina sozinha.
Annalize assentiu.
- Mas e você Lorenzo? – continuou a cozinheira, dirigindo-se ao rapaz que tomava sua sopa calma e silenciosamente.
- Ficarei onde o senhor Tatsuo ficar – diz dando de ombros.
- Não rapaz, você vai com Yukan'na – Tatsuo diz serenamente.
- Mas... Mas não vou deixar o senhor sozinho! – Lorenzo indigna-se.
Tatsuo sorri.
- Eu nunca estou sozinho e Yukan'na precisará de alguém de confiança para acompanha-la onde ela precisar ir.
Lorenzo assente um pouco contrariado em ter de se afastar de Tatsuo, figura que se tornou tão marcante em sua vida, mas tomou o fato de acompanhar Annalize como uma missão e sentiu-se bem mais uma vez por confiarem nele.
Ao subir para o quarto Annalize encontrou Nina descendo as escadas com os olhos avermelhados e expressão triste, ainda que tentasse olhar para baixo para esconder.
- Está tudo bem Nina? – Annalize perguntou fazendo-a parar no caminho.
- Si... Sim senhorita – ela gagueja sem encará-la.
- Tem certeza? Quer conversar? – Annalize sempre achou Nina tão fechada, que talvez estivesse passando por algo e precisasse falar com alguém.
Percebendo que não conseguia disfarçar, Nina resolveu dar uma desculpa.
- Ah. É que... Eu soube que a casa ficará mais vazia e... Não sei, me deu uma tristeza... – Mentiu ela, em partes.
- Ah Nina – Annalize pegou suas mãos – não será para sempre.
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Pedra Negra
RomanceNo decorrer da história do mundo presenciamos objetos fazerem parte de nossas vidas, damos significados à eles e muitos atravessam gerações. Mas, o que é realmente interessante são as histórias de vidas inteiras que se atravessam nessas peças, entre...