Capítulo 50 - Bônus Charlie

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Esse Lonan é mais louco do que eu pensei. Rojões! Por Deus...

Mas entendi o que ele quis dizer sobre aquele lugar, e se isso era necessário, por Annalize, eu faria. Não pensem que haja algum interesse por trás disso. Aprendi a gostar de Annalize como amiga com o tempo. E por um tempo, acreditei que sermos um casal facilitaria a vida de todos. Digo, minha vida, em relação a viver a vontade de meu pai.

Mas lidar com pessoas com diferentes valores e realidades abriram meus olhos para muita coisa. George me ensinou o valor do trabalho, ele nunca facilitou nada para mim na fábrica. E isso foi muito bom para meu aprendizado.

Ainda bem. Eu gosto muito daquele lugar. Mas voltando ao caos que é este momento. Annalize está presa. É isso. Porque me recuso a acreditar que haja algo para ser "tratado". Ela estava muito bem, e o olhar daquele médico era muito estranho. Como faremos para tira-la de lá eu não sei, mas parece que Lonan tem alguma ideia. Mas antes, ele vai precisar estancar esse sangue. O maldito do guarda o atingiu com uma faca em meio à luta.

Chegando à reserva o pajem me ajuda a leva-lo para dentro da casa, mesmo ele dizendo que estava bem e não precisava de apoio para andar. O ignoro e vou entrando sem bater quase arrobando a porta. Não há trancas aqui? Sou recebido pelo cachorro que late sem parar. Logo em seguida uma mulher mais velha surge e põe as mãos na boca espantada.

- Meu filho! – ela exclama. O sentamos no sofá. Me jogo sentado ao lado dele porque estou morto de cansaço e sinto a região da sobrancelha esquerda latejar.

- Calma mãe. Foi um corte superficial, está tudo bem. – Lonan diz tranquilo.

- Sua irmã me contou sua ideia maluca! – Ela diz caminhando para o corredor e voltando rápido com uma cesta, onde haviam utensílios para curativos.

Ela levanta a camisa de Lonan e realmente vejo que não é nada grave. Talvez precise de pontos. Ela começa a limpar o sangue, que já não escorre mais.

- Lonan – o chamo e ele olha para mim – o que fará agora?

- Vou precisar da ajuda de algumas pessoas, tentarei falar com eles e pode ter certeza Dawson, a tirarei de lá. Não poderá ser hoje, mas deixei meu recado. Não vai passar dessa semana – ele diz resoluto e apesar de parecer quase impossível, acredito nele.

- Pode contar comigo – aperto seu ombro e ele assente – acho melhor ir agora. Tenho um pajem a pagar.

Lonan dá um sorriso fraco.

- Oh me desculpe é... Senhor Dawson, é isso? – diz a mulher.

- Sim, mas pode me chamar de Charlie.

- Sou Muriel, não vá ainda, também está machucado.

- Não, está tudo bem, eu...

- SIHU! – Muriel grita me interrompendo.

- Sim mãe – Sihu aparece na sala.

Ah Sihu... Tão linda e misteriosa. Não parei de pensar nela desde que a vi. Passei por aquele mesmo lugar onde a conheci quase todos os dias, mas nunca mais a vi outra vez. Procurei aquele moleque que estava com ela, mas na única vez que o vi, ele correu de mim, rindo ainda por cima.

Sihu me intriga. Será que ela tem noção do quanto é bela? Fascina-me o modo como parece ser tão independente apesar de cega e o fato de ignorar meus galanteios iniciais. Deve ter jogado meu lenço fora. Sempre usei minha beleza para cortejar mulheres, como farei se ela não pode ver o que sou por fora? E se ela não gostar do que sou por dentro?

E então descubro que ela é irmã de Lonan. O sujeito um pouco mal encarado que também só vi uma vez na vida, até hoje. E agora estou aqui na casa deles... Sentado em seu sofá.

- Filha, ajude o cavalheiro com os ferimentos – Muriel solicita. Sihu fica parada por um momento e então tateia a cesta pegando algodão e o molhando em um líquido. Ela não parece não enxergar.

- Não precisa, eu...

- É... Não precisa... AI! – Lonan resmunga – Cuidado mãe.

- Você não para quieto – Muriel diz – e Charlie, fique quieto também, se não limpar isso pode inflamar.

Apenas assinto e vejo Sihu tocar de leve meu ombro, identificando onde estou e sentando-se ao meu lado. Ela desliza os dedos sobre meu rosto e quando passa pelo maxilar e sobrancelha, gemo baixo de dor. Ela começa a passar o algodão nessas áreas e resmungo baixo porque está ardendo bastante. Ela dá um pequeno sorriso. Seu rosto está tão perto... O cabelo dela é tão liso... Tenho vontade de tocar.

- Prontinho Lonan. Curativo feito. Agora vai trocar esta camisa – Muriel diz, juntando os pedaços de gaze e algodão. Lonan caminha para o corredor.

- Ah o senhor aceita uma água ou um chá? Nem o agradeci por trazer meu filho – Muriel fala com o pajem, que só agora percebo que está ali na sala também.

Sihu termina de limpar meu rosto e faz menção de levantar-se. Aproveito a conversa entre Muriel e o pajem sobre chás e tento falar com ela.

- Espere Sihu. – digo e ela permanece sentada.

- Sim?

- Você não apareceu mais na cidade.

- Não tenho tido muito tempo...

Assinto com a cabeça e então lembro que ela não pode ver.

- Entendo. Gostaria de te ver outra vez.

- Está vendo agora – ela diz e levanta-se, mas seguro seu pulso.

- Não é o suficiente – acaricio sua mão com o polegar.

- E o quanto é o suficiente para você? Até cansar-se? – ela pergunta. Será que conhece minha fama?

- Não. Até você me conhecer, por dentro. E então você decide se cansou de mim – puxo sua mão e deposito um beijo, não tão leve assim. Percebo sua respiração acelerar um pouco.

- E... E quem disse que quero te conhecer? – continuo acariciando sua mão e sinto sua voz falhar.

- Ninguém de fato. Mas você poderia se surpreender se tentasse...

- Chá preto para todos então! – Muriel diz nos chamando a atenção e Sihu solta sua mão da minha rapidamente.

O sol já se punha quando havia acabado de tomar meu chá e me despedia de Lonan, que disse que entraria em contato comigo quando colocasse seu plano em prática. Depois que Muriel foi para cozinha preparar o chá, Sihu não apareceu mais e não pude me despedir dela. Se, a vendo apenas uma vez já pensava nela, imagine agora que senti em meus lábios a textura de sua pele. Mas sei que a verei novamente, preciso de sua resposta.

Continua...

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