Capítulo 58 - Um Scotch e Um Garçom Falastrão

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- Obrigado pelas informações – diz Edmund, terminando de escrever em seu bloco – mas então para falar com sua filha, terei que ir até esse tal lugar?

- Sim – Antonia diz num suspiro triste.

O inspetor pôde notar a real angústia da mulher. Ele ouviu toda a história contada por Antonia em uma linha cronológica, tratando do passado dos irmãos Vanklein até a internação de sua filha e o atual comando parcial de Daguerre na fábrica. Admirou-se com as associações que ela fez com muita clareza, mas apesar de seus instintos lhe dizerem que ela estava sendo honesta, não podia se deixar influenciar por uma visão da história. Precisava ouvir a todos de forma imparcial. Nos próximos dias ele pretendia ouvir os outros envolvidos.

- Sinto muito – ele diz a surpreendendo. Edmund arrepende-se logo em seguida, pois acredita não dever demonstrar nenhum tipo de comoção.

- Obrigada – Antonia limita-se a agradecer com o olhar emocionado, de quem força os olhos a não derramarem lágrimas, depois de contar toda aquela história.

O inspetor lembrou-se da conversa com Samuel e da suspeita do advogado sobre o médico da família. Este seria seu próximo alvo. Estava quase anoitecendo, pegou sua lista de endereços entregue pelo delegado, enquanto saía da mansão Burton.

- É alguma emergência? – Dr. Hall pergunta ao chegar à sala, depois de ser chamado por sua empregada.

- Não doutor. Vim de Londres para lhe fazer algumas perguntas.

O inspetor Edmund apresentou-se e deu início a conversa. O médico não conseguiu disfarçar o nervosismo, secando as mãos na calça de tempos em tempos. Ele não imaginava que o caso chegaria tão longe. Ofereceu uma bebida a Edmund, que recusou dizendo não beber em trabalho. O que não era totalmente a realidade.

- É verdade que se tornou o médico da família Vanklein, pelo senhor Daguerre? – O inspetor pergunta com expressão impassível.

- Quem lhe contou isso?

- Se incomoda com essa informação? – Ele devolve a pergunta.

- Não... Claro que não. É só que faz muito tempo – Hall esforça-se para se mostrar indiferente – e sim. Foi por Daguerre, eu era médico da família de sua falecida esposa. O médico com o qual a família Vanklein se consultava havia acabado de se aposentar.

- Uhn. Entendo – Edmund anota algumas coisas – Então conhece Luke Vanklein desde bebê?

- Sim, mas ele foi para longe ainda pequeno. Nunca tive muito contato.

- Sabe doutor Hall, eu posso perguntar a qualquer médico as perguntas que vou lhe fazer. Eles podem me confirmar. Então peço que diga a verdade – Edmund inclina-se um pouco para frente no sofá onde está sentado, intimidante.

Hall assente com a cabeça.

- Quanto tempo em contato com acônito leva a asfixia?

- Depende da quantidade – o médico umedece os lábios.

- Vamos supor que seja uma quantidade pequena... Como uma colherzinha de açúcar dentro da semana – Edmund dá um pequeno sorriso sem dentes - O que me diz?

- Ahn... Não sei...

- Faça um esforço doutor...

- Bem – Hall engole em seco – Talvez uns dois meses.

- George havia melhorado de suas crises de tosse nos últimos dias de sua morte?

- Ele pareceu um pouco melhor na festa de ano novo, mas não sei depois...

Edmund anota algo em seu bloco.

Depois de mais algumas perguntas, Edmund despede-se e sai da casa do médico, com a quase certeza de que Hall tem alguma culpa.

No centro da cidade, resolve entrar em um pub. Não haviam muitas opções.

- Um Scotch, por favor – ele pede ao homem atrás do balcão.

Edmund pensa na conversa com o delegado Stein, para quem perguntou se o corpo de George Vanklein havia sido examinado por um médico criminal antes do velório. Felizmente a resposta foi positiva. Edmund teve receio que eles não tivessem um médico criminal, já que não tinham um inspetor.

Abriu sua pasta e leu o relatório do médico enquanto bebia. Fora algumas informações gerais sobre o estado de George, duas coisas mais chamavam sua atenção.

Causa do óbito: Asfixia.

Via: Não identificado.

"O que eu tinha na cabeça ao aceitar esse trabalho?" Ele pensava consigo.

Observou o garçom secar alguns copos.

- Ei. Meu bom homem – ele o chama.

- Pois não senhor?

- Trabalha há muito tempo aqui?

- Dez anos de serviço senhor – o homem sorri simpático.

- Bom... – Edmund tira seu distintivo do bolso e o mostra sobre o balcão, fazendo o garçom arregalar os olhos – Doutor Hall. É cliente aqui?

- O médico? Sim. Vem de vez em quando.

- O que me diz dele?

- Uhn... Um bom sujeito. Com algumas posses, solteiro, amigo de pessoas importantes...

- Como quem?

- Sei que é amigo do prefeito, do dono do jornal, do diretor da Casa de Recuperação Solar, dos donos da Fábrica Rosas Vanklein...

- Essa Casa que você citou, é a que na verdade é uma espécie de hospício?

- Isso o senhor que está dizendo... Nunca fui lá – o garçom diz ainda secando copos.

- Certo... Ele vem aqui com esses amigos?

- Já veio com o doutor Simon, o diretor do hosp... Da casa de recuperação. Mas ele vem com mais frequência com o senhor Vanklein.

- Daguerre?

- Esse mesmo. O outro irmão Vanklein não era de sair. É o que dizem... Pobre homem, Deus o tenha. Mas também com aquela mulher linda que ele tinha... Para que sair de casa não é mesmo? – O garçom pisca e Edmund o encara sério, fazendo o sorriso do homem se esvair aos poucos – Com todo respeito, digo.

- Me vê mais uma dose – O inspetor pede anotando coisas em seu bloco, e o garçom apressa-se a servi-lo.

"Nada como um Scotch e um garçom falastrão para se clarear as ideias..." Edmund pensou antes de sair do Pub e ir para seu quarto de hotel, onde pensou antes de dormir, com quem falaria no dia seguinte.

Continua...

Desculpem por estar curto, mas esse pedacinho é importante.

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