Capítulo 15 - Não Enlouqueça

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Menina! - chamava Margot - abra para eu pegar as roupas molhadas, Luke me avisou, estou vendo a molhação que fizeram nessa casa - dizia ela olhando o chão em volta - recomendo um banho quente!

Annalize segurou alguns soluços, o que diria a Margot? Secou um pouco o rosto com as costas das mãos e levantou-se. Quando abriu a porta, Margot arregalou os olhos.

- Menina! O que aconteceu?

Annalize não conseguiu emitir palavras, pois parecia que dize-las desencadeava o choro.

- Não precisa me contar agora - disse Margot com compaixão - vamos, precisa se trocar. Vou preparar um banho morno.

Annalize sentou-se na cama, sentindo certa ardência nos olhos ao piscar. Falaria com Margot, mas não agora. Queria dormir, apagar. Quantas coisas num só dia ela enfrentou, como tudo passou tão rápido. Ela viu Margot abrir a porta da casa de banho em seu quarto, levando toalhas secas, depois se retirou avisando que esquentaria a água.

Nas casas mais ricas haviam as chamadas casas de banho, frutos da modernidade. Eram aposentos nos quartos dos moradores que, entre outras coisas, continham uma banheira e lareira ou outro aquecimento, já que correntes de ar eram um perigo muito temido, por poderem provocar resfriados que facilmente evoluíam para pneumonia.

Com a banheira já cheia e morna, Margot deixou Annalize a sós, dizendo que voltaria mais tarde para levar algo para ela comer. Margot pareceu adivinhar que Annalize não desceria para o jantar essa noite. Ela conseguiu agradecê-la e dar um sorriso leve.

Annalize entrou na banheira devagar após se despir e submergiu. Seus cabelos pareciam flutuar a sua volta. No fundo d'água começou a refazer todo seu percurso até ali, se sentia mal pela impotência diante das situações. Pensou nas oportunidades que teve, os conhecimentos que adquiriu, as gotas de sabedoria que absorveu de seu pai, de Arthur, de Tatsuo, de sua mãe... Seu carinho, os princípios que ela lhe passou, o cuidado de Margot, a amizade de Joana, o companheirismo de Luke...

"Não há motivos para eu ser tão fraca assim... O medo não precisa me paralisar, é minha escolha. Na verdade... Eu não sou fraca, me mostro fraca e deixo minha força sair por pequenas frestas em minha armadura. Armadura?" Annalize achou graça deste último pensamento, lembrando-se das histórias que já ouviu antes de dormir sobre reinos encantados, onde os guerreiros com suas armaduras reluzentes salvavam as princesas em perigo. "Acho que não sou a princesa na minha história..." pensou ela.

Levantando bruscamente da banheira para respirar, retomou o fôlego com força, respirando pela boca. Empurrou os cabelos para trás e decidiu que a partir de agora agiria diferente.

Mais tarde, comeu a refeição que Margot lhe trouxe e dormiu, sem chorar.

...

Annalize corria sem rumo pela floresta de baixo de uma tempestade. Deparou-se com uma clareira onde viu seu pai preso, afundando em meio a uma grande poça de lama. Ele gritava. Ela correu para ajudá-lo esticando sua mão, tentava puxa-lo com toda sua força. Piscou e estava na biblioteca. Seu pai com um livro na mão lia um poema de François Villon:

Et Jeanne, la bonne Lorraine
Qu'Anglais brûlèrent à Rouen;
Où sont-ils, où, Vierge souvraine?
Mais où sont les neiges d'antan?

E Joana, a boa Lorena

Que os ingleses queimaram em Ruão;

Onde eles estão, onde, Virgem soberana?

Pedra NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora