- Oi.
- Oi.
Joana estava há alguns dias sem manter uma boa conversa com Luke. Desejava-lhe boa noite, entregava algumas refeições e acompanhava as visitas do médico. Ela acreditava que Luke deveria permanecer escondido enquanto os verdadeiros culpados não fossem pegos, e se nunca fossem, Luke deveria continuar escondido. Mas o jovem não pensava assim, achava deveras arriscado.
Mesmo depois de conversar com Samuel, que lhe contou sobre o inspetor que começara novas investigações, Luke ainda permanecia descrente com a justiça. Ele jamais se perdoaria se algo ruim acontecesse com Joana por ser sua cúmplice.
- Terminou seu chá? – ela pergunta observando a bandeja ao lado de Luke na cama.
- Sim – ele pega a bandeja e num pequeno malabarismo, ainda sentado, a coloca no chão ao lado da cama.
- Não pode forçar a mão assim – ela o repreende – eu vim para pegar a bandeja.
- O médico já tirou a atadura, você viu – Luke diz abrindo e fechando a mão a sua frente.
- Uhn...
- Joana, sente aqui. – ele aponta para seu lado e ela hesita – por favor.
Ela caminha até ele e senta-se.
- Não vamos nos torturar mais – ele diz colocando uma mão em seu queixo, virando seu rosto para ele – eu entendo seu ponto de vista. Entendo mesmo. Em seu lugar, também não concordaria comigo...
- Eu tenho medo Luke – ela responde baixo – você está se recuperando, e logo quando puder andar sem ajuda, vai correndo para Old Bailey se entregar por um crime que não cometeu.
- Eu me sinto um covarde Joana – ela revira os olhos diante de tal fala – fico escondido, impotente e tudo acontecendo a minha volta...
- Luke! Você entregou-se no lugar de Annalize! Onde isso é covardia?!
Ele passa a mão nos cabelos.
- Você acha que poderá fazer alguma coisa atrás das grades? – Ela continua – Você reclama tanto da justiça... Se acha que ela não vai funcionar, você quer se entregar para ficar anos na prisão, ou mesmo ser sentenciado a morte?
Ele para pra pensar um pouco olhando para frente.
- Vamos supor – Luke diz voltando seu olhar para Joana – que seja como você quer. Eu fique escondido para sempre, caso a justiça não seja feita. Você ficará presa a mim dessa forma? Nunca poderemos sair juntos, eu nunca poderei te levar para um passeio, não poderemos nos casar diante de uma igreja, e filhos? Como terá filhos se diante da sociedade será uma mulher solteira?
"Casar, filhos..." – Essas palavras ecoam nos pensamentos de Joana. Ela fica em silêncio por alguns segundos antes de falar.
- Eu li em um livro uma vez, que não há alegria pública que valha uma boa alegria particular. Mas eu fugiria com você Luke, para um lugar que não lhe conhecessem, onde você pudesse andar livre, porque já estou presa a você. E eu sinceramente não me importo com o que pensariam de mim, mas eu sinto que você se importa. Uma família perfeita e convencional é seu sonho não é? – Uma lágrima cai de seus olhos – Talvez você deva ir para bem longe recomeçar a vida em outro lugar.
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Pedra Negra
RomanceNo decorrer da história do mundo presenciamos objetos fazerem parte de nossas vidas, damos significados à eles e muitos atravessam gerações. Mas, o que é realmente interessante são as histórias de vidas inteiras que se atravessam nessas peças, entre...