Magnólia estranhou um pouco a reação de Annalize, mas como tudo ali era estranho, não se importou. Annalize não pretendia falar com ninguém sobre suas suposições, ela não sabia em quem confiar ainda. O que ela sabia, é que precisava sair dali.
Do lado de fora dos muros da Casa de Recuperação Solar, Lonan havia chegado horas antes, ao amanhecer. O sol começava a derreter o orvalho, quando ele se dirigia a delegacia com Constantiny. O delegado Stein ficou extremamente surpreso, e parabenizou Lonan pelo ato. O rapaz ficou sabendo que Luke havia partido para Londres e o julgamento se aproximava.
Constantiny foi levada para uma cela especial para testemunhas, mas como uma medida protetiva, até que sua presença fosse solicitada pela jurisdição londrina. Da delegacia, Lonan já pensava em ir à mansão Vanklein. Precisava rever Annalize o mais rápido possível, mesmo que ainda fosse muito cedo. Passou no centro para pegar seu cavalo, que estava com seu pai na feira, como imaginava, já que o homem ia para lá muito cedo. Selou o animal e seguiu ao encontro de sua amada, sem dar muitas explicações ao homem que o criou.
Aproximando-se dos portões, Lonan ouvia um gemido. Desceu do cavalo e seguiu o som, que o levou até alguns arbustos. Lorenzo, quase desfigurado, gemia de dor. Lonan rapidamente tentou ajudá-lo e o reconheceu, lembrando-se de ter o visto trabalhando na casa de Anna.
- Eu preciso ajudar... Ela... – o rapaz tentava falar sem sucesso, já tomado por uma febre.
- Calma, não faça esforço, vou te ajudar.
Lonan olhou para os portões e novamente para Lorenzo. Não podia deixar o rapaz daquela maneira. O colocou no cavalo, e partiu para um pequeno hospital, mais próximo daquela área. Chegando lá, Lorenzo começou a ser atendido. Poucos minutos depois e com dificuldade, Lorenzo segurou o braço de Lonan, que estava ao lado de sua maca.
- Annalize...
- Como?
- Annalize... Ela foi levada...
- O que?! Por quem!?
- Para a Casa de Recuperação Solar... Um homem... Eu vi o símbolo na carruagem e no uniforme... Dos homens...
Lonan entrou em desespero e ansiava que aquilo fosse apenas um delírio febril, mão não era o que parecia.
- Explique-me melhor, o que aconteceu?! – ele exaltava-se.
- Havia uma festa... De Daguerre. Ela entrou. Fiquei esperando do lado de fora, então, quando ela saía a levaram, e quando tentei impedir...
Lonan ainda não entendia como aquilo aconteceu. Afinal, onde estavam Joana e Antonia? E porque Lorenzo a esperava fora de sua própria casa?
- Senhor, você está exaurindo o paciente! – repreendeu uma enfermeira.
- Eu vou ajudá-la. Eu volto. Apenas... Fique bem. – Lonan disse rapidamente antes de partir.
...
- O que pensa que está fazendo aqui?! – Grita Daguerre, quando um Lonan fora de si invade sua sala na fábrica.
O jovem o agarra pela gola da camisa, derrubando folhas da mesa no processo. O imprensa na parede.
- O QUE VOCÊ FEZ COM ANNALIZE?! – Vocifera.
- Eu não fiz nada. Seu louco, como entrou aqui?! – Diz Daguerre inconformado.
Lonan o puxa e empurra novamente, batendo as costas de Daguerre na parede.
- Seu miserável, você vai me dizer se não... – diz entre dentes, mas é interrompido por dois homens que o seguram, afastando-o de Daguerre, que massageia o pescoço.
- Mas que diabos está acontecendo aqui? – Diz Charlie, entrando na sala e vendo a cena assustado – Lonan? – o jovem lembrava-se de ter o visto na casa de Annalize.
- Esse desgraçado prendeu Annalize na Casa de Recuperação Solar, só pode ter sido ele! – Lonan gritava, ainda segurado por dois homens.
- O que?! Mas... Essa casa... – Charlie tentava pensar.
- Se Annalize foi levada para lá, foi para o bem dela. E pela avalição de um especialista. Ela está fora de si há um tempo, mas ontem foi à gota d'água. Podem perguntar a qualquer um que presenciou seu escarcéu – Daguerre diz e conta os papeis que recolheu do chão. Charlie arregala os olhos – e você – aponta para Lonan – se não sair daqui agora, chamarei a polícia!
Os homens vão empurrando Lonan, que não fazia mais tanto esforço, para fora da sala. O jovem teve sua confirmação. Enquanto saía da fábrica, pensava no que faria para tirar Annalize daquele lugar.
- ESPERA! – Charlie chama por Lonan, que para, já na calçada – Isso tudo é uma loucura, deixe-me ajudar – ele diz recuperando o fôlego perdido na corrida até ali.
Lonan semicerra os olhos para ele por uns segundos, lembrando-se do modo como ele falou com Anna. Mas não podia deixar o ciúme atrapalha-lo. Toda ajuda era bem vinda.
- Tudo bem. Vamos. – Lonan diz e continua andando.
- Ah... Para onde? – Charlie diz o seguindo.
- Para a Casa de Recuperação. Vou tirar Anna de lá – o jovem reponde sem olhá-lo.
- E como pretende fazer isso? Acho que não dá para simplesmente chegar lá e tirar alguém – Charlie alerta-o.
Lonan começa a soltar seu cavalo de um poste e ignora Charlie.
- Olha, porque não tentamos conversar com o médico que está a atendendo?
Lonan bufa.
- Eles devem estar juntos nisso! Você não entende – ele diz.
- Certo, você pode ter razão, mas... Deixe-me tentar? E se eu não conseguir... Então você faz o que quiser – Charlie sugere.
Lonan para pensando um pouco.
- Só uma chance. – ele afirma – mas tenho que passar em minha casa primeiro. É perto de lá. Na reserva. – Lonan sobe no cavalo, e revira os olhos quando Charlie se assusta com um movimento brusco do animal.
- Eu te sigo! – Charlie diz animado, correndo até um ponto de aluguel de cabrioles.
Lonan estava angustiado. Com medo do sofrimento que Anna poderia estar sentindo. Já havia ouvido histórias sobre aquele lugar, e não eram boas. Fez o cavalo galopar com rapidez, não parando em nenhum momento. Olhou para trás e viu o cabriole que o seguia. Pensou se havia feito bem aceitando a sugestão de Charlie.
Depois de um longo caminho, chegaram à reserva. O cavalo, extremamente cansado, foi liberto da cela por Lonan. O animal correu em direção a um córrego. Charlie começou a seguir Lonan, olhando tudo ao redor. Nunca havia ido à reserva. Era um lugar simples, de cultivo e lavoura, mas bonito.
O dia começava a ficar abafado e Charlie secava-se com seu lenço. Lonan, às vezes, o olhava pelo canto dos olhos, imaginando que aquele jovem rico, não deve estar nenhum pouco acostumado com aquele lugar. Ele chegou à sua casa e entrou, pedindo que Charlie o aguardasse na pequena sala, onde havia um sofá, uma mesa com um jarro cheio de flores e pilhas de livros em um canto.
- Alguém em casa? – Lonan dizia entrando em um corredor. Esperava que sua mãe ainda não tivesse saído para o trabalho na plantação, nem sua irmã.
Charlie olhou ao redor, mexeu nos livros, cheirou as flores e finalmente sentou-se.
- Vamos, já peguei o que preciso – disse Lonan depois de uns minutos, voltando à sala com uma bolsa de couro – explique tudo à nossos pais – ele avisa a sua irmã que vinha logo atrás dele.
- Sihu?! – Charlie diz surpreso e com um imenso sorriso.
- Charlie?! – Sihu responde paralisada.
- O que está acontecendo aqui? – Lonan pergunta depois de olhar entre eles.
Continua...
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Pedra Negra
RomanceNo decorrer da história do mundo presenciamos objetos fazerem parte de nossas vidas, damos significados à eles e muitos atravessam gerações. Mas, o que é realmente interessante são as histórias de vidas inteiras que se atravessam nessas peças, entre...