Annalize respirou fundo ao descer as escadas da entrada e avistar Dimitri, Sihu e Peter no jardim. Andou depressa até eles.
- Bela Anna! – disse Dimitri a abraçando. Annalize retribuiu o abraço e abaixou-se para acariciar Peter que já pulava em sua perna. Muito sem jeito ela levantou e ficou de frente a Sihu.
- Prazer Anna – Sihu estendeu a mão – sou Sihu, sinto que já lhe conheço.
- Muito prazer Sihu, posso dizer o mesmo.
As duas sorriem.
- Tenho uma entrega para você – disse a jovem entregando um envelope. Estava selado.
Annalize rasgou o papel com pressa, mas percebeu que foi um pouco mal educada e convidou seus mensageiros para entrar. Eles não quiseram, estavam receosos, mas depois que Annalize explicou que Daguerre não estava em casa, aceitaram. Também aceitaram as xícaras de chocolate quente trazidas por Margot e Peter lambuzou-se com a pequena vasilha de leite, aos pés de Dimitri.
Annalize encarava Sihu. Observava os detalhes de seu rosto que lembravam Lonan.
- Anna – disse Sihu quebrando o silêncio depois de alguns goles de chocolate – você poderia me dizer se meu irmão está voltando? Ele deve ter falado alguma coisa na carta.
- Ah sim, só um momento.
Annalize terminou de abrir o envelope e leu a carta, mas somente para si.
"Querida Anna, não sei expressar a saudade que estou sentindo de ver o seu sorriso. Resta-me fechar os olhos e lembrar dele, lembrar também da sua voz, serena e profunda e dos seus olhos negros. Escrevendo esta carta, percebo como é mais fácil lhe dizer coisas escrevendo-as. É como uma ação silenciosa e sem receios, que aquele que recebe conota às palavras o tom, às frases a expressão e o ritmo de como se gostaria de ouvi-las. Talvez descrevendo assim pareça um pouco laborioso, mas ao fazê-lo o sentimento impregna, ainda que depois o papel se queime. Mas, ainda assim, quero deixar claro que estou disposto a dizer em seu ouvido tudo o que você quiser, em alto e bom som, ou então num sussurro. Veja como são as palavras. Comecei a escrever para lhe dar informações... Então vamos a elas. Primeiro, encontrei Constantiny. Ela está num casebre no interior de Castle Combe. Estou partindo para lá hoje depois de escrever-lhe e espero conseguir levá-la de volta. Devo estar voltando de lá quando receber esta carta. Assim espero. Pedi a um rapaz que me ajudou no porto, que partia para nossa cidade, que fizesse a entrega na reserva. Não sei qual será o parecer do delegado sobre o depoimento de Constantiny, mas com certeza fará diferença. Ela não terá escapatória, dirá a verdade. É isso. Se possível peça a Dimitri, quem provavelmente lhe entregou a carta, que avise a minha família que logo estou de volta. Aliás, quando eu voltar e tudo isso se resolver, devo lembrar-lhe, você me deve uma foto. Com carinho, Lonan."
Annalize terminou de ler com o coração acelerado. Por cada palavra usada, que definitivamente estavam carregadas de sentimento e impregnaram-se. A esperança se renovou em seu peito e ela logo tratou de informar a Sihu que Lonan estava voltando. Annalize riu sozinha olhando novamente para a carta e controlou o ímpeto de beijar o papel. Sentada ao lado dela, Sihu aproximou-se estendendo as mãos.
- Posso? – ela perguntou com as mãos estendidas. Sem saber ao certo o que Sihu estava pedindo Annalize disse que sim.
Sihu tocou o rosto de Annalize levemente, passou os dedos por sobre suas pálpebras, nariz, bochechas, lábios e queixo. Depois nos longos cabelos.
- Você é linda – ela disse com ternura.
- Obrigada – Annalize disse sorrindo – você também é. Se parece muito com seu irmão.
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Pedra Negra
RomanceNo decorrer da história do mundo presenciamos objetos fazerem parte de nossas vidas, damos significados à eles e muitos atravessam gerações. Mas, o que é realmente interessante são as histórias de vidas inteiras que se atravessam nessas peças, entre...