Depois de conversar um pouco com a senhora Stein, Annalize, já muito cansada e de olhos inchados, dormiu. Cecily havia dito para conversarem mais amanhã. Annalize só a reconheceu quando Cecily lhe contou quem era. Ela estava diferente, mais abatida e com um tecido amarrado sobre a cabeça. Diferente de como Annalize se lembrava, dos jantares em que a viu com o delegado.
Pela manhã, todas as pacientes, como eram chamadas, foram levadas para um refeitório, onde uma espécie de mingau era servido. Todas as mulheres encaravam Annalize, ela era a única diferente, sem um vestido uniforme e tecido cobrindo a cabeça.
- Ei! Ei! – uma mulher de olhos fundos e arregalados a cutuca no caminho – Dá-me seu cabelo?! EM?! Dá-me! – a mulher passa a mão sobre os cabelos de Annalize.
- Mas... Eu... Ah... - Ela ficou assustada, não sabia o que fazer.
- Ginny, ela te dará sim, mas depois, agora a deixe em paz – intercede Magnólia.
- Quem é Ginny? Isso é uma ordem minha! Rainha Vitória! – Diz a mulher empinando o nariz.
- Ah sim, claro, mil perdões vossa majestade, mas não acha melhor tomar o seu desjejum? Olhe! Os serviçais já prepararam seu banquete! – Magnólia aponta para as grandes mesas com potes de mingau.
Ginny partiu para uma das mesas, reclamando que haviam sentado em seu lugar.
- Um conselho Annalize: não contrarie e muito cuidado para não ficar igual a elas – Magnólia aponta para algumas mulheres. Umas faziam movimentos repetitivos, outras soltavam gritos, outras catatônicas. Annalize sentiu imensa compaixão por elas. Haviam homens e enfermeiras por toda parte e quando alguma paciente parecia muito exaltada, era repreendida ou levada de lá. Annalize sentou-se, mas não conseguiu comer.
Ela começou a observar a dinâmica daquele lugar. Uma parte das mulheres foi trancada novamente, outra parte foi encaminhada para outra ala. Magnólia, Cecily e outras mulheres que dividiam a cela com ela, estavam neste último grupo. Annalize foi levada para outro lugar, uma pequena sala com uma mesa e duas cadeiras. Um sentinela encontrava-se na porta.
- Sente-se – disse a enfermeira – você já será atendida.
Annalize está extremamente angustiada. Pensando e repensando no que se tornou sua vida, e onde ela foi parar "será que alguém sabe que estou aqui? Meu Deus o que eu faço? Alguém precisa me tirar daqui!".
- Bom dia – Simon diz ao entrar na sala, com um leve sorriso – dormiu bem?
- Seu DESGRAÇADO! – Annalize avança sobre Simon arranhando seu rosto e ele tenta segurá-la. Acaba dando um tapa muito forte em seu rosto, que a deixa tonta.
No mesmo momento, o sentinela entra na sala e ajuda o médico a sentar Annalize novamente e a amarrar seu braços nos braços da cadeira, que continham cordas específicas para isso.
- Assim ficará difícil de conversarmos senhorita Annalize... – Ele diz desamassando a roupa e sentando-se em frente a ela.
- Por que me prendeu aqui? Você não tinha esse direito! SOLTE-ME! – Ela vocifera, ainda sem conseguir focar a sua visão por causa da tontura.
Com um cotovelo sobre a mesa, Simon apoia o queixo na mão fechada, como se estivesse entediado.
- Direito... Direitos... Sabe, quando uma pessoa perde a razão, ela também perde seus direitos – ele diz calmo.
- Eu não perdi a razão, e algo me diz que a maioria das mulheres desse lugar também não! E ainda que tivessem... - diz indignada - Quanto Daguerre lhe pagou? Qual foi seu preço? – ela respira fundo. A quantidade de tempo que ela está sem comer também não ajuda.
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Pedra Negra
RomanceNo decorrer da história do mundo presenciamos objetos fazerem parte de nossas vidas, damos significados à eles e muitos atravessam gerações. Mas, o que é realmente interessante são as histórias de vidas inteiras que se atravessam nessas peças, entre...