Tomaz chegou extasiado naquele dia em sua casa. Também pudera, o que tinha feito com seus amigos, não era coisa a se fazer a nenhuma espécie viva, ainda mais em pessoas. Atirar pedras era algo muito "sagrado", digamos assim, porém em tempos idos.
Havia uma humilde anciã que perambulava pelas ruas há dias pedindo comida de casa em casa, com aquele olhar triste porém amedrontador, como diziam alguns. Por vezes conseguia algo para comer, porém sempre na lata de lixo. Não havia ali na cidade uma alma condescendente sequer para lhe dar um prato de comida. A barriga roncava como os grunhidos dos ratos nos esgotos.
"Quem será essa mulher?", algumas pessoas do bairro diziam. "Apareceu do nada, como se tivessem jogado ela aí", diziam. "Talvez caiu do céu, assim como anjos caídos ", diziam outras, maldosas.
Tomaz e sua turma, incomodados com aquela senhora, repudiavam a ação desasseada da velha, sujando as ruas como cachorro vira-lata, ou carros de lixos que não fazem o seu serviço e deixa a rua banhada de chorume. Naquela noite, então, Tomaz e sua turma resolveram dar um fim na pobre mulher que dormia no chão da pracinha da pequena cidade.
Era por volta de duas da manhã quando a velha foi acordada com uma enorme pedra que Tomaz atirou em seu peito. A velha acordou angustiada, arfando espanto, mas, forte como sempre fora, logo pôs-se de pé. Depois, mais pedras lhe foram arremessadas. A mulher bem que tentou correr, mas não tinha como escapar. Tropeçou, mas caiu, e a maldade começou, ainda mais perversa, como se a idosa fosse um monstro, uma aberração que devia ser eliminada da terra.
"Parem com isso, seus malditos!"
Mas a turma de Tomaz continuava e insultava a velha com adjetivos abomináveis:
"Velha imunda, bruxa, doente mental, saia da nossa pacata cidade!"
"O diabo que é! Suas pragas!", rogava a mulher. "Não vou embora daqui".
Então a turma de Tomaz continuou com a chuva de pedras surrando a pobre anciã que começava a cambalear e a perder os sentidos. Mesmo assim, Tomaz e sua turma não parava a saraivada.
— Já chega, gente! — gritou uma garotinha. Mas Tomaz não a ouvia e continuava jogando as consistentes pedras.
— Não! Ela deve morrer! — ele gritava. — Meu pai disse que ela é uma bruxa do século XIII. Devemos eliminá-la e nos tornaremos heróis.
Então todos continuaram com a saraivada até que, em um espetáculo sombrio e aterrorizador, a velha criou asas sofrendo uma mutação assustadora e, mesmo abatida, voou por metros de distância até cair num terreno baldio. Angustiados, os amigos de Tomaz fugiram do local. Tomaz, no entanto, curioso, subiu o imenso muro e viu aquela pobre senhora ali, borbulhando sangue pela boca. Porém, pétreo, sem sequer piscar, estremeceu. O que viu, era algo assustador, maquiavélico. Tomaz não pôde mais discernir a pobre anciã, velha e indefesa, mais sim uma criatura diabólica, idêntica a um urubu, um imenso urubu banhado em sangue, e ainda agonizando palavras ininteligíveis, talvez convocando seus confrades, para que a pudessem lhe acudir.
Todos correram para suas casas, uns traumatizados. Jamais pensavam que Tomaz fosse tão louco a ponto de persusadi-los a apedrejar a pobre senhora que apenas pedia comida de porta em porta. "Minha mãe vai me matar, pensava uma. Amanhã, por certo, nos noticiários todos vão destacatar a terrivel morte desta pobre senhora". pensando na maldade que haviam feito.
E foi o que aconteceu, logo os noticiários da cidade divulgavam a horripilante morte da pobre idosa, completamente mutilada por paus e pedras.
Na casa dos de Tomaz, estes estranharam o atraso do filho na mesa de café da manhã. Preocupados, foram até ao seu quarto e, ao abrirem a porta, se estremeceram. A mãe de Tomaz bateu forte com a cabeça na parede, desmaiando em seguida, pois jazia ali o corpo do filho circundado por imensos urubus que devoravam o corpo do rapazinho. E, o que chamou mais atenção, não que o aniquilamento do pequeno fosse irrelevante, mas uma escrita na parede, funesta, escrita a sangue, dizia o seguinte:
Fim
Autoria: Jim Patrik
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ESPECTROFOBIA (Contos de Terror)
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