Depois que voltamos para a sala do director, recebemos todos uma suspensão. Depois de recebermos a tal suspensão não voltei a ver a Kenya, ela havia desaparecido com os pais dela, desaparecido não, ido embora sim.
Enquanto os meus pais conversavam com os pais da Candace decidi ir para a casa. Pelo caminho liguei várias vezes para a Kenya, mas as chamadas iam sempre para a caixa de correio. Eu não entendia porquê que ela precisava ser sempre tão má para mim.
''Acabar? Ela estava louca? Ir embora?'' Eu não sei, mas nada disso encaixava na minha cabeça, era difícil perceber e ainda mais complicado sem motivos suficientes.
— Hey, o quê que se passou na escola? - Logo que chego à casa oiço a voz da Déborah.
— Nada. - Respondo sem muita paciência.— Tem certeza? A tua mãe ligou para mim louca a querer saber se vieste para aqui. - Ela diz.
— Acho melhor eu ir embora. - Digo.
Viro-me para sair quando dou de cara com os meus pais. Finjo que não lhes vejo e tento sair de casa quando o meu pai me impede.
— Aonde é que você pensa que vai? - Ele diz enquanto esmaga o meu braço de tanta força.
— Para a minha casa. - Respondo.— Que casa? - Ele pergunta enquanto faz contacto visual e continua a apertar-me o braço.
— A minha casa, e já agora dá para me largar? - Respondo de forma rude.
— Deves estar a referir-te a casa que eu confisquei. - Ele diz.
— O senhor não pode confiscar, a casa é minha eu comprei com o meu dinheiro. - O meu braço já estava roxo de tanto que ele apertava.— Meu dinheiro queres tu dizer. - Ele diz.
— Seu dinheiro uma ova, eu não preciso do seu dinheiro para porcaria nenhuma, eu tenho o meu dinheiro.
— Dinheiro sujo, dinheiro ilícito, dinheiro que devias ter vergonha.
— Porquê que eu teria vergonha do meu dinheiro se o senhor não sente vergonha da sua fortuna mal explicada. Pelo menos com o meu dinheiro eu salvei e melhorei vidas, já o senhor é tão egoísta que até coloca o dinheiro emergido sei lá de onde na frente de todo mundo.
— Se orgulha tanto das vidas que diz que salvou, mas não consegue falar dos que matou, dos que destruiu, dos que acabou quando começaram a consumir a merda que vende. - Nesse momento fiquei calado.
— Larga ele, o senhor não vê que lhe está a machucar? - A Déborah grita chamando-me a razão outra vez.— Cala a boca Déborah! - O meu pai grita com ela.
— O senhor não pode falar assim com ela! - Digo no mesmo tom e sinto o meu braço ser apertado com mais força, tento me soltar e ele torce o meu braço me fazendo gemer de dor.
— Agora vamos começar a falar a sério! Eu mando nessa casa em primeiro lugar, quando eu mando calar vocês têm que obedecer e não responder no mesmo tom de voz como os meninos estão sempre a fazer como se fossemos todos amiguinhos. Voltando ao senhor Zarid, não pago colégio para filho nenhum ser suspenso e estar marcado como um dos péssimos alunos, se eu pago você precisa mostrar trabalho, cadê a educação que nós vos demos? - Seus olhos completamente negros devem me estar a enxergar alma nesse momento.— Que educação o senhor se está a referir? - A Déborah pergunta.
— Deve ser a educação que eles nunca nos deram. - Respondo e logo sinto um soco na barriga que me faz cair no chão e gemer de dor.
— Dá uma vergonha vos chamar de pais, que vocês nem imaginam. - A Déborah diz. Minha mãe é uma simples marioneta nessa casa, não fala, não se impõe, não faz porra nenhuma.— Déborah, já chega! - A marioneta da minha mãe diz.
— Agora a senhora já tem voz? - Pergunto.
— Zarid, por favor não vamos por aí. - Ela diz.
— Não vamos por aí? - Pergunto frustrado mesmo a tossir.
— Vocês não nos respeitam, nós somos vossos pais. - Ela diz chateada.— Respeitar? O quê que vocês fazem para ganhar o nosso respeito? A senhora devia pensar nisso antes de abrir a boca para pedir respeito. - A Déborah me ajuda a levantar.
— Se vive na minha casa, me deve respeito não importa se faço por merecer. - Meu pai diz.
— Como eu amo essa família, vivem entre tapas e beijos pena que os beijos só são dados quando estamos a pousar para a capa de uma revista e nas festas, porque quando estamos em "família„ vivemos mesmo só nos tapas. - A Déborah diz.
— Vamos ignorar os teus comentários irónicos Déborah. Zarid que história é essa da Candace estar grávida de ti? - A minha mãe pergunta.— Quem foi que falou isso para a senhora? - Pergunto.
— Ela foi ter connosco, disse-nos que está grávida e que o filho é teu. - Essa miúda só podia estar a brincar com a minha cara.
— Se essa história for mesmo verdade fique já a saber que vais ter de trabalhar para sustentar essa criança e prestar assistência a essa menina, porque do meu bolso não sai nenhum tostão. - O grande senhor Malik deixa claro a sua posição.
— O senhor não precisa se preocupar eu não vou fazer uso do seu dinheiro, eu tenho o meu. - Digo-lhe.
— Zarid, você vai ter que trabalhar e não fazer uso desse dinheiro que já tens.— O senhor só pode estar a gozar com a minha cara, eu não vou trabalhar.
— Vai sim, e vai trabalhar na minha empresa para receber salário como uma pessoa normal e como toda a pessoa normal começa de baixo, contigo não será diferente vai trabalhar como colector de lixo ou ajudante de limpeza, o que preferir. - "Filho da... Odeio esse homem„.
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NURD
RandomEla era tão inocente, mas tão inocente que de inocente não tinha nada. Ela era cheia dos mistérios. Mistérios esses que se escondiam por trás de um par de óculos enorme, um cabelo super desarrumado, uma saia compridona e umas camisas de mangas com...