CAROLINE VICENTE
Meu cérebro não quer assimilar certas coisas. A minha amiga desaparecida e o meu namorado algemado a minha frente. Eu não sei se tenho raiva ou pena, eu não sei se estou machucada ou se quero saltar para cima de alguém a partir-lhe os cornos.
— Eu não fiz nada, eu juro! - O rapaz loiro a minha frente tem os olhos azuis marejados. Não sei se quero chorar com ele ou matar-lhe.
— Se não fizeste como é que o teu sangue foi lá parar? - Pergunto com a voz trêmula. Eu quero acreditar nele, mas as evidências não deixam.
— Eu não sei, eu não mexi em nenhum momento no telemóvel dela, eu como todos aqui estou surpreso. - O menino loiro chora ao proferir tais palavras.
— Nós precisamos leva-lo agora para prestar declarações! - Os polícias afirmaram e o levaram de lá.
Nesse momento me sinto quebrar por dentro por não saber como me posicionar. Por um lado tenho a amiga desaparecida, por outro lado tenho o namorado a ser preso e o motivo é o tal desaparecimento dessa amiga. Eu tenho raiva, eu tenho nojo, tenho medo do que possa vir a acontecer, do que tenha acontecido.
MICHAEL PEREIRA
Não consigo entender o que aconteceu. Eu só consigo me lembrar de ver a Kenya entrar para o café, fazer a refeição como sempre e depois sair de lá como já era de costume, em nenhum momento eu falei com ela algo que não tivesse a ver com o pedido feito, em nenhum momento peguei no telemóvel dela, mas como é que o meu sangue foi lá parar?! Não consigo parar de pensar em tudo o que aconteceu naquele dia e no que me estava a acontecer bem naquele momento.
"Eu ia ser preso por algo que eu nem sei, algo que não me aparece na mente, algo que...„ - Minha cabeça vai explodir só de pensar em tantas coisas.
Continuo no carro da polícia sentado entre dois homens fardados, algemado e sem saber o que fazer, ou o que falar. Nesse momento tudo está tão confuso, nem a minha namorada acredita em mim. Ela não falou directamente que não acreditava, mas pela expressão do seu rosto, pelas palavras utilizadas eu vi o quão desapontada ela estava, e isso só fez o meu chão se abrir.
O carro para e logo vejo a porta ser aberta. Sou puxado para fora do carro e acompanhado para a parte de dentro do recinto chamado de delegacia, continuo algemado e tenho coração nas mãos. Sou colocado dentro de cela escura e suja, com apenas uma cama de solteiro no canto direito.
Sento-me na cama já que é o único remédio e passado sete horas ou oito naquele lugar vejo a cela ser aberta e entrar um homem fardado.
— Levante-se! - Ele diz num tom autoritário.
— Para quê? - Pergunto e sinto ele me algemar outra vez e tirar-me da cela com ele.
— Está calado! - Ele diz rude.— Para onde me está a levar? - Insisto e sinto ele me empurrar para frente de uma porta.
Estou de frente a uma porta preta de metal, ela parece pesada e eu tenho os meus olhos postos nela de cima pra baixo. O homem aproxima-se e empurra porta a nossa frente dando-me uma outra visão, uma visão para o interior de uma sala onde tudo parecia bastidores de filme dos anos 90, tudo parecia muito preto e branco ou talvez fosse só na minha mente, já que não assimilava tão bem por estar aí tanto tempo e sem saber exactamente o que fazer ou ter respostas para as minhas perguntas. Entramos para a sala e fui colocado em uma cadeira em frente a um homem com um olhar sinistro.
— E então senhor Pereira o que me tem a dizer? - O homem pergunta. Acho que ele deve ser o delegado.
— Eu sou inocente, eu não fiz absolutamente nada. - Digo.
— Isso é o que todos dizem. - Ele diz irónico.
— Essa é a verdade e eu não posso fazer nada. - Digo e o homem parece se enfurecer.— Como assim não pode fazer nada? - Ele bate com as mãos na mesa e me deixa assustado. — Temos uma rapariga desaparecida, o seu sangue é encontrado na telemóvel dela e você me diz que não pode fazer nada. Vendo bem já que não pode fazer nada, eu posso deixa-lo apodrecer na cadeia e jogar a chave fora se você não fizer essa menina aparecer em função de segundos.
— Mas...
— Não tem mas, onde é que ela está? O que você fez com ela?
— Eu já disse que não fiz nada, eu não sei nada sobre o desaparecimento dela. - A porta da sala é aberta.— Senhor delegado entramos câmeras na aquela zona e pedimos as gravações do dia em que a menina Vaz desapareceu e as trouxemos para serem analisadas. - Os vídeos foram postos a rolar inúmeras vezes e nenhum sinal de como o telemóvel foi parar no lixo e nem como a Kenya desapareceu, mas pelo menos havia o vídeo que mostrava como o meu sangue foi parar no telemóvel. Quando havia ido deitar o lixo naquele dia haviam cacos no saco, um dos cacos fez um rasgão enorme na minha mão e foi assim que o meu sangue foi lá parar.
KENYA ONIKA VAZ
A minha cabeça dói, dói tanto que mal consigo abrir os olhos. Acho que vou chorar de tanta dor, forcei os meus olhos a abrir devido a luminosidade que havia naquele lugar que eu tentava reconhecer. Me sinto fraca, não sei onde estou, só sei que me encontro num quarto completamente velho as pinturas desgastadas na parede e o chão velho denunciam que o local é velho e cheira mal.
Estou deitada em uma cama que não sei de quem é, e o mais engraçado é que me sinto tão cansada sem me lembrar de ter feito algum esforço, me sinto tão fraca, e não me lembro de ter comido, me sinto tão perdida porque não sei como cheguei a esse lugar e que eu desconheço.
Tento levantar-me da cama, mas o meu esforço é vão porque não tenho forças para isso. Reparo em mim e não há vestígios das minhas roupas, estava apenas de sutiã e calcinha e um robe bem leve por cima.
"O quê que aconteceu comigo?„ - Penso assim que reparo na minha figura.
Ouço barulho de passos fora do quarto, acho que vêm na minha direcção, porque o barulho vai se intensificando a cada passo dado. tento me sentar na cama com muito esforço por estar tão fraca e quando consigo sentar vejo a maçaneta ser girada, não demora muito e vejo um corpo a se mover com uma bandeja nas mãos para dentro do quarto assim que a porta é aberta.
— Bom dia meu amor, que bom que você já acordou! - Minha voz falha e não consigo dizer nada assim que lhe vejo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
NURD
RandomEla era tão inocente, mas tão inocente que de inocente não tinha nada. Ela era cheia dos mistérios. Mistérios esses que se escondiam por trás de um par de óculos enorme, um cabelo super desarrumado, uma saia compridona e umas camisas de mangas com...