Capítulo 51

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Já se passaram alguns dias, eu não voltei a ligar, não voltei a enviar sms, não voltei a ler as nossas mensagens trocadas que por vezes me deixavam alegre, não voltei a chorar, não voltei a pensar nele... claro que isso é mentira, é quase impossível não pensar nele, não pensar nas palavras rudes que ele usou, mas uma coisa é certa depois que a ferida sarar eu vou excluí-lo do meu planeta.

Naquele dia eu chorei imenso, eu chorei, mas chorei tanto que nem haviam mais lágrimas. Eu chorei por estar magoada, chorei porque havia tentado, chorei porque ele fez questão de não notar o meu esforço, chorei porque pensei que o erro estava em mim, eu chorei de raiva.

Naquela noite meus soluços eram as palavras que não pronunciara em momento algum quando aquela menina de cabelos longos encaracolados, de pele morena, de nome Caroline se dirigiu a mim. Ela tentou, juro que tentou, mas de mim não obteve nada a não ser os soluços, as lágrimas e a tristeza. Naquela noite ela me protegeu, ela cuidou de mim, ela não fez muitas perguntas, deixou-me só, mas com ela do lado a abraçar-me, e quando dei por mim já era outro dia.

Foram muitos e longos dias para digerir cada palavra que ele proferiu. Foram muitos e longos dias com a cabeça cheia, com os olhos inchados, cansaço por não dormir a noite.

Talvez a culpa fosse minha por chegar até onde tudo chegou. Talvez isso só me tenha acontecido porque eu me deixei envolver, eu podia ter ido embora antes que o meu coração começasse a bater por ele, eu podia, eu juro que podia, mas eu não o fiz.

"Ai como eu fui burra„

De uns dias para cá tenho melhorado bastante, estou sempre a falar com o Jared, por mensagens de texto, voz, skype e essas coisas todas. Também falo sempre com a Bonnie, e sempre que podemos, fazemos vídeo chamada, eu, ela e o Jared e as vezes até a Carol participa.

Os meus primeiros dias de aula haviam sido desastrosos. Estava sempre com dores de cabeça, cansada, os olhos inchados, cabeça cheia e sei lá mais o quê. E a pior parte eu descobri que o maldito que atirou-me capuccino ao cabelo era amigo da Carol e frequentava o meu quarto. Também fiquei a saber que o nome dele é Ryan e que graças a Deus não somos da mesma turma.

Hoje acordei muito melhor, então decidi ligar para o meu pai antes de me preparar para as aulas. Estou cheia de saudades dele e da Mónica. Falei com eles por um bom tempo, eles disseram que tinham saudades, e perguntaram-me o quê que eu achava de ganhar um irmão ou uma irmã, não me opus em nenhum momento, a Mónica é maravilhosa comigo, me trata como se fosse filha dela, as vezes acho que ela se sente incapacitada por não poder ter filhos, por tanto eu não me ia opor se eles quisessem adoptar uma criança.

Quando acabamos de falar, fui tomar banho e vestir-me para as aulas. Vesti-me super rápido e peguei nos meus livros, era tempo de recuperar o tempo perdido, o tempo que andava cabisbaixa, triste e não prestava a atenção nas aulas.

Cheguei na turma com um sorriso e bem incomum, o que fez os colegas terem a sua atenção em mim. Sentei-me no fundo enquanto acompanhava a aula de mecânica, o professor era quase um génio e eu nem havia reparado nisso esse tempo todo. Quando a aula terminou fui ter com o professor tirar algumas dúvidas e perguntar se podia ter aulas extras. Ele logo concordou e ficou super feliz, as aulas extras não eram porque não percebia nada, eu percebia e aliás percebia tudo, as aulas eram uma forma de apressar o meu processo e ocupar a minha mente, e além disso aprender coisas novas e criar projectos avançados. Eu sabia que era louca, mas aquela loucura pelos estudos, me alimentava e me ajudava a superar muita coisa.

Logo que saí da sala senti uma mão puxar e jogar-me contra a parede com força. Gritei e gemi de dor, devagar levantei a cabeça e logo os meus olhos castanhos encaram os seus olhos escuros e a sua expressão facial quase nula.

- Com que então andas a fugir de mim? - O tal do Ryan diz, enquanto continua a prender-me contra a parede.

- Não sei do que estás a falar. - Na verdade eu sabia perfeitamente. Desde que eu vi-lhe no meu quarto com a Caroline comecei a desviar. Sempre que ele entrasse eu saía ou ficava na casa de banho. Se o encarava nos corredores da universidade ou dos dormitórios, desviava e fugia. Algo nele me fazia lembrar o Zarid e isso me atordoava completamente, era odioso sentir-se assim por causa de um rapaz que eu não conhecia de lugar nenhum.

- Com que então andas a fugir de mim? - Ele volta a repetir a pergunta com os seus olhos negros postos em mim.

- Não sei do que estás a falar. - Respondo outra vez, fazendo-lhe serrar os punhos e dar um soco na parede. Assusto-me e logo lhe volto a encarar.

- Com que então andas a fugir de mim? - Ele pergunta pela terceira vez e já farta daquela situação decido responder.

- Não tenho motivos para fugir de ti, tu não me és nada pacóvio. - Respondo já meio enraivecida, mesmo com medo do que ele venha a fazer.

- Não é o que parece princesa. - Ele diz irónico a última parte e dá-me um sorriso de boca fechada como se me estivesse a dizer, não estou aqui para brincar.

- Deixa-me ir embora seu insolente. - Tento afastar-lhe e ele faz mais pressão sobre mim, cortando a minha respiração aos poucos.

- Vais continuar a usar palavras caras para me insultar? - Ele ri-se.

- Ignóbil, inócuo, pedante,tênue... - Grito na cara dele.

- Tu ... LOL... tu até que és engraçada. Se soubesses que eu sei o significado de cada palavra usada, acho que não devias repetir essas coisas se não eu te mostro quem é tênue aqui, e tenho a certeza que não sou eu. - Ele termina a frase e se afasta um pouco deixando-me recuperar o ar perdido depois de um bom ataque de tosse.

- Mas porquê que me andas a perseguir? - Pergunto.

- Porque se tornou divertido. Eu gosto do jogo a caça e o caçador, acho que agora entendes não é? Eu gosto da aflição da caça quando está prestes a ser apanhada. Eu gosto de comer a caça com classe. - Quando ele falou aquilo, passou a língua pelos lábios de forma sexy e em seguida mordeu o lábio inferior.

Nesse tempo curto período dei uma joelhada na sua intimidade e saí de lá a correr, enquanto ele gemia de dor. Corri até o edifício dos alojamentos e agradeci muito a Deus por só ter uma aula hoje. Logo que abri a porta do quarto com a respiração ofegante vi a Caroline levantar-se da cama preocupada.

- O quê que se passa Kenya? - Ela ajuda-me a sentar na cama e tira-me os óculos do rosto.

- Porquê que o estúpido do teu amigo não para de me perseguir? - Perguntei revirando os olhos.

- Quem? O Ryan? - Ela pergunta.

- Pois, esse pacóvio mesmo. - Respondo chateada e ela solta uma gargalhada me deixando mais furiosa ainda. - Mas, Carol isso não tem graça nenhuma. - Digo.

- Por acaso até tem HAHHAHAHAHAH... não acredito que tu estás assim por causa do Ryan. Ele é super inofensivo... ele não morde, quer dizer nunca me mordeu mas a ti, isso eu já não sei. - Depois de falar aquilo soltou outra gargalhada. Me levantei da cama chateada e fui para o banheiro lavar o rosto.

Voltei para o quarto e sentei-me na cama, o riso da Carol era insuportável. Como ela podia rir-se de uma situação dessa? O psicopata do amigo dela não para de me perseguir e ela acha piada, não só acha com também faz. Quando ela ficou mais calma peguei no telemóvel e fiz uma vídeo chamada com o Jared.

NOTA: *FÉRIAS | HOLIDAYS | КАНИКУЛЫ* Estou de volta.
* Feliz aniversário ISABELLA LOKARTH BUTA GONÇALVES 💎❤

NURDOnde histórias criam vida. Descubra agora