Capítulo 74

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Estou trancada neste quarto desde ontem à noite a rabiscar em papéis, a fazer ligações, a usar mapas,  a pesquisar no computador. Estou confusa, com medo e o mais importante estou fodida com essa merda.

Meus olhos estão inflamados, me sinto cansada, me sinto mal, me sinto fraquejar.

Eu não acredito que ele foi capaz. Ele me prometeu que tudo ficaria bem e que eu não tinha que me preocupar, porque tudo ficaria bem.

Ele me enganou. É sangue do meu sangue e me enganou. Ele é meu avô, o homem que cuidou de mim quase sempre que precisei. Agora já não tenho dúvidas que se aproximou de mim por interesse, que jogou comigo e sei lá mais quantas pessoas. Sinto muito em dizê-lo, mas o meu querido avô é um grandessíssimo filho da puta!

"Preciso tomar banho, descansar um pouco e comer alguma coisa". — Penso.

De repente vejo a porta do meu quarto ser empurrada,  oh boas esqueci-me de fechar. Simulo uma cena como se estivesse nua e a porta é fechada imediatamente.

— Desculpa Kenya. Sou eu,  a Cátia. - Suspiro.

Antes de deixá-la entrar escondo todo o material que tenho.

— Pode entrar Cátia. - Digo e ela entra.
— Desculpa eu e o teu avô só queríamos saber se estavas bem, afinal de contas não apareceste nem para o pequeno almoço e nem para o almoço.
- Ela diz e entro em alerta. Eu não tinha noção das horas, estava completamente perdida no tempo e no espaço.
— Que horas são? - Pergunto preocupada.
— São 17 horas. - Ela diz e arqueio as sobrancelhas.
— Oh! Desculpa, eu acordei à pouco. Me distraí ontem à noite e acabei por dormir tarde.
- Digo e forço um sorriso.
— Não faz mal, queres que peça para trazerem comida para ti?
- Ela pergunta.
— Sim,  agradeceria imenso. - Digo e vejo-lhe caminhar em direcção a porta, mas antes que saia o meu avô entra no quarto.
— Meu amor, o quê que se passa?
- Ele parece preocupado, mas a minha vontade é pedir pra que não me chame assim e cale a porcaria da boca. Eu estou com tanta raiva que nem sei explicar.
— Nada! - Soo fria e rude.

Naquele momento os olhares da Cátia e do meu avô caem sobre mim.
— Estás bem Kenya? - A Cátia pergunta com medo de uma resposta no mesmo tom. Eu sei que me descontrolei, saiu sem querer.
— Cátia, dá-nos licença por favor.
- O meu avô pede e logo em seguida a Cátia sai.

— Agora entre nós minha querida, que atitude foi essa? - Ele pergunta sem desviar os olhos dos meus.
— Nada, foi sem querer deve ser do cansaço.
- Tento disfarçar.
— Tens certeza Kenya? - Ele pergunta desconfiado e tenho certeza que não para de me estudar pelos olhares que me dá.

— Claro! - Tento soar o mais convincente possível. — Eu já conversei com a Cátia e ela entendeu perfeitamente. - Digo e no momento em que ele diria alguma coisa a porta do quarto foi aberta novamente pela Cátia que trazia a minha comida num tabuleiro. 

— Desculpe, eu só vinha trazer a comida da Kenya e nada mais. - A Cátia se desculpa e no momento que ia sair do quarto vejo o meu avô levantar da cama caminhar até ela e fazer-lhe um carinho no ombro como quem diz "não foi nada„ e sair do quarto sem explicar muito.

Fiquei parada a olhar para o tabuleiro durante um tempo sem dizer nada. Eu estava a processar as idéias e a colocar tudo no lugar.

— Não vais comer? - A Cátia interrompe-me dos pensamentos, mas quando isso acontece idéias novas se formam.

— Vou sim, só estava a pensar... - Digo.
— Posso saber em quê? - Ela pergunta simpática.
— Cátia, tu gostas do meu avô? - Pergunto e vejo-lhe constranger perante aquela questão.

NURDOnde histórias criam vida. Descubra agora