KENYA ONIKA VAZ POV
Eu não lhe odiava, eu me odiava. Me odiava porque eu era suja, porque eu permiti que ele me tocasse, porque eu permiti que ele me usasse, porque eu permiti que seu corpo se juntasse ao meu, porque eu permiti que seus lábios se colassem aos meus, porque eu permiti que seu membro invadisse o meu, porque eu permiti que ele me controlasse, me mandasse, me amasse, me batesse, me maltratasse.
Eu podia ter raiva do mundo inteiro, mas não, eu apenas tinha raiva de mim. Eu tinha nojo de mim, tinha pena, tinha raiva, tinha ódio e mais alguma coisa, eu tinha tudo menos amor próprio. Meu amor próprio desapareceu com a dignidade que eu já não tinha.
Eu podia lutar, bem, eu podia lutar contra ele, mas eu não podia lutar contra mim. Eu podia bater-lhe, ferir-lhe, e mais alguma coisa, mas eu não podia fazer isso comigo, porque o efeito não era o mesmo, se eu me ferisse eu continuaria a me sentir suja, e ia querer ferir-me mais e mais até estar limpa, imagina só até onde eu iria com isso. Conseguiu imaginar? Pois, exactamente isso, eu precisava me suicidar para acabar com isso. Ele não precisava morrer, eu é que precisava desaparecer, porque mesmo que ele morresse eu continuaria a sentir-me imunda e não haveria banho nenhum que tirasse essa sujidade toda do meu corpo.
"Tu não sabes o que se passa na mente de uma pessoa... A pessoa está aqui a sorrir, mas ela está a pensar em se suicidar„
Há dias que eu não como, ele trás a comida e eu simplesmente atiro contra ele ou contra a parede, aí ele me bate e me penetra como se nada tivesse acontecido. Já pensou em viver esse horror? Claro que não, ninguém pensa em viver isso e os que vivem mesmo sem querer, de certeza que pensam em suicídio, eu não serei a primeira a querer livrar-se do inferno em que vivo.
Não tenho coragem de ver a minha imagem em um espelho, eu estou nojenta. Não me reconheço mais, tenho cortes por toda parte do corpo, marcas de chicote nas costas e nas pernas, marcas de canivete nos braços e no rosto, marcas de chapadas no rosto e de apertos no pescoço. Sabe as marcas de canivete? Não foi ele, fui eu. Eu me cortei, e sabe o que mais? Eu queria ter me cortado mais, eu queria ter cortado meus pulsos de forma a atingir alguma veia, tudo para acabar com isso, mas ele foi bem mais rápido que eu, ele me impediu de me causar uma dor mínima comparada a que ele me causa, ele me impediu de desaparecer da vida dele, ele me impediu de para de sofrer, ele me impediu de querer estar longe dele, ele me impediu de morrer, enfim ele me impediu de me matar.
"Como uma pessoa impede a outra de se matar? COMO?? Mas ele não percebe que eu já não quero essa MERDA?‚‚
— Olá amor, bom dia! - Ele diz sorridente. Eu continuo na cama fraca e sem mover nenhuma palha que seja para colaborar com essa loucura.
— Porquê que você não dá um tiro na minha cabeça? - Pergunto sem remorso algum, afinal eu queria que naquele instante ele fizesse aquilo comigo.
— Quê isso amor? Nunca mais fales isso. Eu te amo, eu nunca faria isso contigo. - Ele diz enquanto se aproxima da cama e coloca uma das suas mãos sobre mim.
— Me deixa morrer por favor. - Peço e ele parece atordoado com as minhas palavras.
— CHEGA! - Ele grita. — Eu vim te buscar para comermos juntos lá no meu quarto, porque eu tenho uma surpresa pra ti e também tem uma comida que eu sei que você gosta imenso. - Ele diz sorridente e me ajuda a levantar da cama.Prendeu o meu cabelo em um coque e me tirou do quarto mesmo eu estando apenas de roupa íntima e robe. Logo que chegamos na porta do quarto dele, ele tapou-me os olhos e abriu a porta. Fomos caminhando para dentro do cômodo, enquanto eu tinha os olhos vendados por uma das suas mãos e outra mão em volta da minha cintura.
— Surpresa! - Ele grita assim que que retira a mão que cobria meus olhos. — Vem sentar amor. - Ele puxou-me para uma cadeira de frente a dele e destapou a comida. Só de ver aquele prato enorme cheio de arroz, batata frita, feijão preto e bife eu tinha náuseas, aquele podia ser um dos meus pratos favoritos, mas naquele momento era tudo o que sentia, vontade de vomitar.
— Amor estás bem? - Ele pergunta quando repara na minha cara de nojo.
— Estou óptima! - Digo sarcástica.
— Não precisas mentir eu sei que não, deve ser por causa do bebê. - Ele diz e eu olho para ele sem dizer nada. Não tinha reacção. — Não precisa esconder, eu sei que você está grávida há muito tempo, só não queria dizer para não te deixar assustada baby. - Ele diz e começo a me alterar um pouco.
— Fica longe do meu filho, ele não tem nada a a ver com isso. - Digo e ele assente com a cabeça.Ficamos em silêncio por muito tempo, enquanto ele comia eu brincava com a comida e ele apenas me observava, como se estivesse a ver uma obra de arte e estivesse fascinado com aquilo.
— Bem, não viemos aqui para isso. Eu queria fazer um pedido para você Onika meu amor. - Levantei a cabeça do prato e foquei nele.
— Que pedido? - Perguntei séria.
— Onika você aceita casar comigo? - Olhei para ele e comecei a rir. De tanto que ele me chamava de Onika, eu já começava a ganhar um certo nojo daquele nome.
— HA HA HA... Okay, qual é a brincadeira? Cadê as câmeras Vinny? - Perguntei.
— Que câmeras?! Eu estou a falar a sério Onika. - Ele disse sério.
— Eu preferia mil vezes que você me matasse, que me esfolasse, me chicoteasse, me violasse do que casar com você, sabe o inferno? Eu conheci daqui da terra mesmo, com a sua ajuda meu camarada. Sabe o quê mais? Vai te foder Vinny e me deixa em paz, vê se procura uma arma e me dá um tiro na cabeça logo, quanto mais eficiente e rápido for, melhor. - Digo e saio do quarto a caminhar com dificuldades devido a fraqueza no corpo.
— Onika! - Ele seguiu-me até o corredor.
— Eu já disse para me matares por favor! - Ele agarra no meu braço com força.
— Pensa nessa criança, eu seria um óptimo pai pra ela, nós seríamos uma família maravilhosa. - Ele diz desesperado e eu começo a rir na cara dele deixando-lhe mais nervoso.
— Ela não precisa de um pai como você, ela já tem um pai excelente, Zarid Raider Malik, conhece? - Pergunto e vejo ele se enraivecer mais.— Para com essa merda! Para de falar essas coisas, você é minha entendeu? Minha! SÓ MINHA!!! - Ele grita descontrolado.
— Eu sou de quem eu quiser, até mesmo se o Papa me quiser eu serei dele! - Gritei bem perto do rosto dele.
Senti suas mãos apertarem o meu pescoço me impossibilitando de respirar. Logo em seguida recebi socos no rosto descendo até a barriga, por mais que eu tentasse proteger, ele era mais forte que eu. Fui atirada pro chão e chutada várias vezes, já sagrava na cabeça e pelo nariz, mas ele estava se fodendo pra mim. Só me lembro de ser levantada do chão força e atirada pela escada abaixo.
Meu sangue escorria dos pés a cabeça e meus olhos lutavam para não se fecharem.
— Mãe, por favor... eu só preciso do teu amor... - Foi tudo o que consegui dizer em sussurro.
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NURD
AléatoireEla era tão inocente, mas tão inocente que de inocente não tinha nada. Ela era cheia dos mistérios. Mistérios esses que se escondiam por trás de um par de óculos enorme, um cabelo super desarrumado, uma saia compridona e umas camisas de mangas com...