Capítulo 7

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- Podemos ir lá para fora? - Pergunto rindo da atitude dela que parecia tão minha. Ela não falou muita coisa apenas seguiu-me até a parte de fora do gabinete.

- Sim agora que cá estamos, o quê que queres?

- Hey, calma não precisas ser tão agressiva.

- Olha só para quem fala de agressividade, se não é o menino eu posso, eu faço e acontece.

- Dá para ter calma menina sou eu quem manda aqui e acabou?

- Pelo menos eu tenho educação.

- Não vamos por aí okay?

- Então despacha-te que eu não tenho tempo para isso. O quê que queres?

- Eu só queria... - Fiz uma pausa e pensei se era mesmo aquilo que queria fazer. Na noite passada eu havia conversado com o Álvaro sobre o que tinha acontecido e ele me ajudou a tomar a decisão mais acertada, e eu prometi para ele que pediria desculpas a Kenya. O Álvaro era o pai e a mãe que eu não tive.

- Querias?

- Pedir desculpas, pronto falei.

- Pedir desculpas porquê?

- Acho que também aí já estás a esticar-te, não achas?

- Não.

- Pedir desculpas pelo que aconteceu entre nós ontem, por ter chamado a tua mãe de puta, por ter te agredido e te chamado de feia. Estou desculpado?

- Com que então você sabe pedir desculpas... Uhnmm... Interessante.

- Porra! Dá para aceitar?

- Okay, não precisas chorar mais, mas um aviso a próxima vez que me magoares como ontem, se vires a levar um tiro a culpa não será minha, aconselho-te a olhar para os lados. - Essa miúda é assustadora, mas há algo nela que não parece ser tão assustador assim.

- Estás a ameaçar-me?

- Claro que não, eu sou um anjo. Por isso é que estou a falar contigo sobre a justiça divina.

- Se isso é justiça divina, rhum... Posso fazer um pedido?

- Depende.

- Por favor aceita, aproveita que hoje estou bozinho.

- LOL, você é que devia aproveitar a minha bondade, diz logo o que queres.

- Hoje estudamos em minha casa, por favor.

- Tua casa? - Ela parecia assustada.

- Sim, que mal tem?

- Você sabe das minhas regras.

- Quebramos só por hoje, por favor hoje eu não estou muito bem e não queria ir para a tua casa. Preferia mesmo a minha, e eu não deixo ninguém saber que você está lá. - Como eu falei para ela que não estava bem? Porquê que eu falei?

- Okay...

Saímos do edifício da direcção sem que ninguém percebesse que havíamos feito contacto. Pedi para o Álvaro pegar-nos na parte de trás do colégio para que ninguém percebesse.

Entramos no carro, ela cumprimentou o Álvaro que sorriu para ela e logo a seguir agradeceu. Seguimos para a casa. O carro estava em silêncio, a Kenya estava com um livro na mão, eu a mexer no telemóvel e o Álvaro a fazer a parte dele, que era nos levar para a casa. Logo que chegamos, descemos do carro e fomos para dentro de casa.

A caminho do meu quarto, enquanto atravessávamos a sala para apanhar o elevador esbarramos na minha mãe, que parecia surpresa.

- O... la, quis dizer olá! - Ela diz não tirando os olhos da Kenya.

- Boa tarde sim senhora! - A Kenya responde e eu miro a minha mãe. Ela olhava para a Kenya de um jeito esquisito.

- Filho preciso falar com você. - Não quis deixar transparecer a minha má relação com a minha mãe para a Kenya, apenas assenti e pedi para que algum empregado levasse a Kenya para o meu quarto.

- Quem é ? - Ela pergunta rude.

- Minha secretária é que não é. - Respondo irónico.

- Porquê que a trouxeste para aqui?

- Nós vamos estudar, agora posso ir? - Respondo sem paciência.

- Porquê que você não chamou a Candace para te ajudar?

- Quem disse à senhora que a Candace gosta de estudar?

- Não quero essa tua amiga aqui dentro da minha casa.

- Porquê? Me dá um bom motivo para que eu não a traga.

- Ela é... colorida, é de cor. Pronto falei.

- Colorida é a senhora que é tão preconceituosa.

- Não sou preconceituosa, só que essa gente gosta de roubar e etc, por isso não enriquecem.

- Tu chamas a menina de colorida e não és preconceituosa?! Ela é preta sim, tal como a senhora é branca e eu também, e tal como o preto, o branco também faz parte da aguarela, lá também tem vermelho, verde, azul e etc., isso só mostra as diferenças, mas resumindo essa aguarela significa que somos todos iguais, ela representa a humanidade e mostra que somos de cores diferentes sim, mas ela mostra também que somos todos humanos e isso nós torna iguais. Você não lhe conhece de lado algum para chamar - lhe de ladra, ladra é você que deu o golpe da barriga.

- Não me venhas queixar quando desaparecerem coisas no teu quarto e já aviso, antes de sair será revistada.

- Você não vai mandar revistarem a Kenya, se você fizer isso eu juro que nunca mais olho na tua cara. - Trancou-me a cara e eu dei-lhe as costas indo até o elevador.

Entro para o quarto tentado forçar um sorriso que não me adiantou em nada porque a Kenya notou. Atirei a minha mochila na cama e fui para o banheiro lavar o rosto, deixando a menina dos cabelos afro sentada na minha cama com o seu humilde livro. Logo que saio do banheiro ela me aborda.

- Sua mãe não gostou de mim não é? - Ela pergunta sem tirar o livro da cara.

- Quê isso tá maluca?! Não é nada disso. - Digo tentado disfarçar mais.

- Não precisas tentar tapar o sol com a peneira, não são todos que aceitam uma negra em sua casa se relacionando com seus filhos especialmente quando moram em uma mansão. - Me senti um pouco constrangido, não esperava tais palavras. Calei-me apenas e fui para o meu closet trocar de roupa.

Quando voltei, fiquei na porta do closet apreciando a Kenya a brincar com a Louíse. Me aproximei e a Louíse correu até mim.

- Mano! Mano! Olha só a minha nova amiga, ela não é bonita? - Ela pergunta saltitante no meu colo, enquanto a Kenya sorri e desvia o olhar.

- Oh, ela é tua amiga? Como é que ela se chama? - Pergunto para a Louíse.

- É sim minha amiga, nome dela é Kenya. O cabelo dela é muito bonito tal como ela, você não acha?

- Acho sim meu amor, agora você precisa ir porque nós precisamos estudar, mas no almoço você pode voltar a ver a sua amiga, okay?

- Está bem mano. - Ela fala meio triste, dou-lhe um beijo na testa e faço-lhe cócegas. Ela vai até a Kenya dá um beijo e sai do quarto.


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