- Podemos ir lá para fora? - Pergunto rindo da atitude dela que parecia tão minha. Ela não falou muita coisa apenas seguiu-me até a parte de fora do gabinete.
- Sim agora que cá estamos, o quê que queres?
- Hey, calma não precisas ser tão agressiva.
- Olha só para quem fala de agressividade, se não é o menino eu posso, eu faço e acontece.
- Dá para ter calma menina sou eu quem manda aqui e acabou?
- Pelo menos eu tenho educação.
- Não vamos por aí okay?
- Então despacha-te que eu não tenho tempo para isso. O quê que queres?
- Eu só queria... - Fiz uma pausa e pensei se era mesmo aquilo que queria fazer. Na noite passada eu havia conversado com o Álvaro sobre o que tinha acontecido e ele me ajudou a tomar a decisão mais acertada, e eu prometi para ele que pediria desculpas a Kenya. O Álvaro era o pai e a mãe que eu não tive.
- Querias?
- Pedir desculpas, pronto falei.
- Pedir desculpas porquê?
- Acho que também aí já estás a esticar-te, não achas?
- Não.
- Pedir desculpas pelo que aconteceu entre nós ontem, por ter chamado a tua mãe de puta, por ter te agredido e te chamado de feia. Estou desculpado?
- Com que então você sabe pedir desculpas... Uhnmm... Interessante.
- Porra! Dá para aceitar?
- Okay, não precisas chorar mais, mas um aviso a próxima vez que me magoares como ontem, se vires a levar um tiro a culpa não será minha, aconselho-te a olhar para os lados. - Essa miúda é assustadora, mas há algo nela que não parece ser tão assustador assim.
- Estás a ameaçar-me?
- Claro que não, eu sou um anjo. Por isso é que estou a falar contigo sobre a justiça divina.
- Se isso é justiça divina, rhum... Posso fazer um pedido?
- Depende.
- Por favor aceita, aproveita que hoje estou bozinho.
- LOL, você é que devia aproveitar a minha bondade, diz logo o que queres.
- Hoje estudamos em minha casa, por favor.
- Tua casa? - Ela parecia assustada.
- Sim, que mal tem?
- Você sabe das minhas regras.
- Quebramos só por hoje, por favor hoje eu não estou muito bem e não queria ir para a tua casa. Preferia mesmo a minha, e eu não deixo ninguém saber que você está lá. - Como eu falei para ela que não estava bem? Porquê que eu falei?
- Okay...
Saímos do edifício da direcção sem que ninguém percebesse que havíamos feito contacto. Pedi para o Álvaro pegar-nos na parte de trás do colégio para que ninguém percebesse.
Entramos no carro, ela cumprimentou o Álvaro que sorriu para ela e logo a seguir agradeceu. Seguimos para a casa. O carro estava em silêncio, a Kenya estava com um livro na mão, eu a mexer no telemóvel e o Álvaro a fazer a parte dele, que era nos levar para a casa. Logo que chegamos, descemos do carro e fomos para dentro de casa.
A caminho do meu quarto, enquanto atravessávamos a sala para apanhar o elevador esbarramos na minha mãe, que parecia surpresa.
- O... la, quis dizer olá! - Ela diz não tirando os olhos da Kenya.
- Boa tarde sim senhora! - A Kenya responde e eu miro a minha mãe. Ela olhava para a Kenya de um jeito esquisito.
- Filho preciso falar com você. - Não quis deixar transparecer a minha má relação com a minha mãe para a Kenya, apenas assenti e pedi para que algum empregado levasse a Kenya para o meu quarto.
- Quem é ? - Ela pergunta rude.
- Minha secretária é que não é. - Respondo irónico.
- Porquê que a trouxeste para aqui?
- Nós vamos estudar, agora posso ir? - Respondo sem paciência.
- Porquê que você não chamou a Candace para te ajudar?
- Quem disse à senhora que a Candace gosta de estudar?
- Não quero essa tua amiga aqui dentro da minha casa.
- Porquê? Me dá um bom motivo para que eu não a traga.
- Ela é... colorida, é de cor. Pronto falei.
- Colorida é a senhora que é tão preconceituosa.
- Não sou preconceituosa, só que essa gente gosta de roubar e etc, por isso não enriquecem.
- Tu chamas a menina de colorida e não és preconceituosa?! Ela é preta sim, tal como a senhora é branca e eu também, e tal como o preto, o branco também faz parte da aguarela, lá também tem vermelho, verde, azul e etc., isso só mostra as diferenças, mas resumindo essa aguarela significa que somos todos iguais, ela representa a humanidade e mostra que somos de cores diferentes sim, mas ela mostra também que somos todos humanos e isso nós torna iguais. Você não lhe conhece de lado algum para chamar - lhe de ladra, ladra é você que deu o golpe da barriga.
- Não me venhas queixar quando desaparecerem coisas no teu quarto e já aviso, antes de sair será revistada.
- Você não vai mandar revistarem a Kenya, se você fizer isso eu juro que nunca mais olho na tua cara. - Trancou-me a cara e eu dei-lhe as costas indo até o elevador.
Entro para o quarto tentado forçar um sorriso que não me adiantou em nada porque a Kenya notou. Atirei a minha mochila na cama e fui para o banheiro lavar o rosto, deixando a menina dos cabelos afro sentada na minha cama com o seu humilde livro. Logo que saio do banheiro ela me aborda.
- Sua mãe não gostou de mim não é? - Ela pergunta sem tirar o livro da cara.
- Quê isso tá maluca?! Não é nada disso. - Digo tentado disfarçar mais.
- Não precisas tentar tapar o sol com a peneira, não são todos que aceitam uma negra em sua casa se relacionando com seus filhos especialmente quando moram em uma mansão. - Me senti um pouco constrangido, não esperava tais palavras. Calei-me apenas e fui para o meu closet trocar de roupa.
Quando voltei, fiquei na porta do closet apreciando a Kenya a brincar com a Louíse. Me aproximei e a Louíse correu até mim.
- Mano! Mano! Olha só a minha nova amiga, ela não é bonita? - Ela pergunta saltitante no meu colo, enquanto a Kenya sorri e desvia o olhar.
- Oh, ela é tua amiga? Como é que ela se chama? - Pergunto para a Louíse.
- É sim minha amiga, nome dela é Kenya. O cabelo dela é muito bonito tal como ela, você não acha?
- Acho sim meu amor, agora você precisa ir porque nós precisamos estudar, mas no almoço você pode voltar a ver a sua amiga, okay?
- Está bem mano. - Ela fala meio triste, dou-lhe um beijo na testa e faço-lhe cócegas. Ela vai até a Kenya dá um beijo e sai do quarto.

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NURD
RandomEla era tão inocente, mas tão inocente que de inocente não tinha nada. Ela era cheia dos mistérios. Mistérios esses que se escondiam por trás de um par de óculos enorme, um cabelo super desarrumado, uma saia compridona e umas camisas de mangas com...