Capítulo 45

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Já era noite a faixa ainda não tinha caído, estava trancado no quarto a pensar em todas as merdas que o dia de hoje me havia proporcionado. Voltei a tentar ligar para a Kenya e continuava sem sucesso. Decidi vestir-me e ir até a casa dela.

— Boa noite, o que senhor deseja? - A governanta pergunta.

— Falar com a Kenya. - Respondo a senhora educadamente, que me convida para entrar em seguida.

A mulher deixou-me sentado na sala por alguns minutos enquanto ia ter com a Kenya para avisar que estava lá. Quando a mulher voltou pediu-me para que subisse com ela até o quarto da Kenya, ela deixou-me lá e foi-se embora.

— Oi... - Digo num tom baixo.

— Oi... - Ela responde no mesmo tom.

— O quê que estás a fazer? - Pergunto ao ver malas e roupas pelo chão do quarto.

— Estou a arrumar as malas. - Ela responde sem desviar atenção daquilo que estava a fazer.

— Tu ... - Por um momento as palavras escaparam e foi nesse momento que ela deu-me alguma atenção. — Tu vais mesmo embora? - Pergunto com uma voz tão funda que só faltavam as lágrimas.

— Eu vou sim, desculpa...- Depois de dizer tal coisa sem pestanejar tentou se aproximar de mim e tocar-me no rosto, me afastei de primeira.

— Desculpa? Tu estás nem aí para mim, queres mais é que eu me foda...

— Não é isso, você não sabe as minhas razões. - Ela diz e consigo enxergar seus olhos bem mais brilhantes por estarem marejados.
— Então me faça entender, porque eu não estou mesmo a perceber nada nessa história.
- Peço, enquanto me sento na cama.

— Eu... - Ela senta-se do meu lado e olha para mim sem dizer absolutamente nada, fecha os olhos por um tempo e quando os volta a abrir dá continuidade. — Eu não posso.

— Não pode? - Pergunto meio furioso mas sem levantar o meu tom de voz.

— Não, não é algo tão fácil de se explicar. -Ela abaixa a cabeça.
— Eu só não entendo como é que você pode ser tão egoísta Kenya. - Grito com ela e levanto da cama.

— Egoísta? Eu? Não me faças rir, de nós eu fui a pessoa que mais cedeu o seu tempo e que mais de si deu, ao contrário de você.

— Que tempo você cedeu? Você acha mesmo que eu não fiz nada? Você devia ter vergonha de falar sobre ceder ouvir um "Eu te amo„ da tua boca sabe quanto custa?

— Se custa é porque é verdadeiro. Eu não tenho que ficar a dizer que te amo a torta e a direita e não ser verdadeiro... - Corto-lhe.

— Então os meus não são verdadeiros?! É isso que estás a tentar dizer.

— Eu não tentei dizer isso, eu falei no meu caso. No teu caso só tu podes saber se o que sai da tua boca é de verdade. E já que você gosta assim tanto de mim como diz, devia fazer um esforço e me entender.

— Entender? Entender como se nem as razões eu sei?

— Confia em mim.
— Não confio em alguém que me vira as costas quando eu preciso.
- Depois de ter dito aquilo as lágrimas começaram a cair.

— Zarid...

— Zarid a merda Kenya, burro fui eu que pensei que se viesse aqui a essa hora você mudaria de ideias e ficaria.
— Eu não posso ficar, você não entende...
— Porquê que você parece tão desesperada como se estivesse a fugir?

— ...
— Okay, entendi. Eu também não te vou pedir para ficar, se quiser ir pode ir, mas também pode me esquecer!

— Então... tu estás a acabar comigo? - Ela pergunta com o rosto cheio de lágrimas, eu podia acalma-la e dizer que não porque era o que eu mais queria, mas eu também queria que ela ficasse e eu sabia que ela não ficaria portanto eu não ia fazer isso.

— Não, eu não estou a acabar contigo porque você já fez isso hoje de manhã no colégio, eu apenas estou a dar-te a oportunidade de esquecer alguém que nunca fez parte da tua vida de forma decente.

— Você sabe que não é isso que eu queria, você sabe que... - Ela cai no chão de joelhos, enquanto leva as mãos ao rosto para que eu não veja o seu rosto cheio de lágrimas. Podia até custar-lhe muito, porque a Kenya não se abateria com essa facilidade por algo que não custasse, mas a mim custava-me muito mais e isso ela não podia imaginar.

— Que? - Sentei-me no chão ao lado dela, mas não encostei um dedo que fosse nela.

— Que... — Ela engole o choro por um tempo e já mais calma levanta o rosto e olha-me nos olhos com o rosto cheio de lágrimas. — Eu te amo! - Naquele momento eu queria abraça-la e beija-la, o meu coração apertava, mas a minha mente não me queria deixar cair.

Levantei do chão e ela fez o mesmo à espera que dissesse ou fizesse algo. Então puxei-lhe pelo cabelo, abracei-lhe e dei-lhe um beijo na testa e disse apenas — Boa viagem. - Depois daquilo fui embora.

Depois de sair do quarto e fechar a porta, ouvi uns guinchos fechei meus olhos, engoli o choro e fui embora daquela casa. Eu podia até amar a Kenya, mas se ela estava a ir embora era porque ela não me amava do jeito que eu lhe amava, isso significava que alguém tinha que se foder como sempre. Eu podia dizer que eu é que me tinha fodido, mas não, eu preferi mandar ela se foder.

NURDOnde histórias criam vida. Descubra agora