Capítulo 67

1.9K 194 36
                                    

O desespero tomou conta de mim assim que vi a menina submersa naquela banheira, corri até ela e puxei-lhe pra cima e gritei o nome dela diversas vezes, mesmo sem respostas continuei ali desesperado chamando por ela, quando notei que ela não acordaria ali quase morri, naquele momento eu notei que ela estava absolutamente mutilada não só mental como fisicamente também, ela estava completamente magra, cheia de hematomas e cortes, ela estava completamente abatida, perdi-me nos pensamentos, enquanto a analisava.

- O quê que se passa Zarid? - Ouço alguém atrás de mim com a respiração ofegante perguntar, só aí caí na realidade de que ela tinha se afogado na banheira.
- Eu não... bem, eu chamei-lhe inúmeras vezes como ela não respondeu eu arrombei o banheiro e encontrei-lhe submersa na banheira. - Quando acabei de falar uma lágrima escorreu pelo meu rosto. O pai dela entrou em desespero e começou a fazer ligações e saiu do quarto.

Tirei-lhe da banheira desacordada e deitei-lhe no chão, peguei em uma toalha e enrolei-lhe. Ainda atordoado procurei pelo quarto algumas peças íntimas dela e a vesti. Entrei no closet para ver algo para ela vestir, mas quando ia vestir-lhe encontrei uns homens de branco, que pareciam ser paramédicos colocando-lhe numa maca.

Segui-lhes até o andar de baixo onde todos pareciam muito agitados. Fomos todos para a parte de fora da casa, vi o pai da Kenya entrar na ambulância e corri até ele e pedi para ir junto, ele concordou e eu subi, enquanto os outros subiam em vários carros para vir atrás de nós. No caminho em nenhum momento ele passou-me palavra, ele se mantinha sério segurando a mão da Kenya que permanecia desacordada e sem dar sinal algum.

Logo que chegamos no hospital os paramédicos correram com ela até uma sala onde nós já não podíamos entrar. Fomos para a sala de espera e lá ninguém falava merda nenhuma. O pai da Kenya sentado num sofá com a madrasta dela do lado a tentar acalma-lo, a Bonnie sentada noutro sofá a chorar com o Jared do lado a tentar fazer a mesma coisa que a Mónica fazia, a avó da Kenya que parecia pensativa e andava de um lado para o outro e eu que esta encostado a uma parede sem dizer nada.

- Vaz! - Depois de quase uma hora um homem de branco entrou na sala e chamou pelo pai da Kenya.
- E então Rui? - Eles não se tratavam de maneira formal pareciam se conhecer.

- Não precisas te preocupar, a Kenya vai acordar não sei a que horas ainda, mas ela vai, está apenas sedada. - Depois de ele dizer aquilo o alívio no rosto de todos era bem notável. - Já me ia esquecer, o quê que se passou com a Kenya?

- Como assim? Ela se afogou na banheira. - O pai da Kenya respondeu.
- Não me refiro a isso, ela está cheia de ferimentos, cheia de hematomas pelo corpo inteiro, sem contar que ela parece estar muito abaixo do peso. Tem alguma coisa que me queiras dizer com relação a isso? - O médico perguntou e vi o pai da Kenya ficar apreensivo.

- Eu não sei... Sinceramente, eu não sei. - Ele disse.
- Me acompanhas até a minha sala? - O médico perguntou.
- Eu posso vê-la? - O pai da Kenya perguntou.
- Claro, todos podem vê-la.
- Posso ir primeiro senhor Vaz? - Perguntei para o pai da Kenya.
- Tá, eu vou falar com o Rui na sala dele e depois eu vou vê-la, enquanto isso tu podes entrar. - Ele pousou a mão sobre o meu ombro e disse baixo "Obrigado por teres salvo a minha filha„.

Assenti com a cabeça e ele desapareceu com o médico. Me recompus e fui até o quarto em que ela estava. Logo que abri a porta vi a menina porque quem eu me tinha apaixonado, numa versão que eu nunca pensei ver, ela parecia fraca, com medo, estava cheia de curativos e estava bem mais magra. Ela dormia e o barulho daquela maquina me afligia, doía tanto vê-la assim.

Sentei-me na cama e comecei a acariciar seu rosto e seu cabelo, enquanto ela continuava a dormir, naquele momento uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Me aproximei do seu ouvido e comecei a falar.

"Desculpa por partilhar os meus segredos com as pessoas erradas.
Desculpa por não te dizer que te amava sempre que tive chance.

Desculpa por ter ciúmes e estar nervoso a toda hora, é por isso que arruino sempre as coisas.
Desculpa por eu me importar muito e fazer sempre caso em todo tipo de situação.

Desculpa por ser uma MERDA como amigo e um namorado Horrível, tu mereces melhor.

Desculpa por mudar de humor constantemente e estar triste.
Desculpa, mas eu não te posso ajudar porque sou mais fraco que você...„
- Logo que acabei de falar aquilo desatei-me a chorar. Mesmo que ela não me tivesse ouvido, eu sei das minhas falhas, mas eu tenho a certeza que ela ouviu mesmo estando a dormir.

Fiquei com ela por mais uns dez minutos enquanto o pai dela não vinha. Levantei-me da cadeira assim que ouvi-lhe falar qualquer coisa e me aproximei.
"Ryan! Não, Ryan espera eu preciso falar com você... Ryan...„ - Era o que ela dizia, enquanto dormia. Aquilo deixou-me completamente chateado, abandonei o quarto naquele exacto momento e fui para a sala de espera pegar o telemóvel do Jared para ligar para me irem buscar.

- O quê que foi Zarid? - O Jared perguntou assim que viu a minha cara de cú.
- Nada, só quero ir para casa. - Respondi, enquanto falava discava o número no telemóvel.

- Me engana que eu gosto. - Ele disse e eu saí sem nem me despedir.

Enquanto caminhava para fora do hospital o Jared veio a minha atrás. Subimos no táxi, e ele ficou a encher-me de perguntas e eu não respondi e nem disse nada, até chegarmos em casa. Pagamos o homem e atravessámos os enormes portões da mansão dos Malik.

- Oh, olhem só quem resolveu dar as caras por aqui. Bem que dizem que quem é vivo sempre aparece não é? - A minha amada mãe diz assim que me vê.
- Os mortos também aparecem minha amada mãe. - Digo e dou um sorriso irónico para ela.

- Dessa eu não sabia. - Ela diz enquanto me encara de cara feia.
- Pois fique já a saber que quando morrer, minha querida, não me esquecerei de ti e te virei buscar. - Disse e vi ela morrer de medo. - Agora se me dá licença, preciso ir aos meus aposentos. - Disse e fui até o elevador.


- Então eu lhe salvo, arrisco a porra da minha vida para achar-lhe sei lá onde e ela simplesmente sonha com um tal de Ryan okay né... Boa Zarid aprendeu a lição e nunca mais vai se meter em roubada por causa dessa menina, isso foi exactamente para deixares de ser idiota. - Falo para mim mesmo todo chateado assim que entro no meu quarto e atiro um dos meus frascos de perfume contra a parede.

- Hey, acalma-te okay? Afinal foi por isso que o menino saiu do hospital todo trombudinho, oh Zarid faça-me um favor e cresce, achas mesmo que são horas para ter ciúmes? - O Jared me encarou chateado.

- Não são ciúmes! - Respondi ainda chateado.
- E chamas a isso o quê? Birra de criança? É que só pode ser um dos dois, já que o meu amigo pensa em continuar no infantário. Não era mais fácil esperares ela acordar e falar com ela? Zarid por favor, cresce mais, eu pensava que eu era o infantil, mas você, vou te dizer... tens me tirado esse lugar. - O Jared me disse aquilo e depois o seu telemóvel começou a chamar. Odeio quando ele tem razão.


- Zarid, eu vou voltar para o hospital porque a Bonnie acabou de me dizer que a Kenya acordou, se quiseres sabes onde me encontrar. - Ele se aproximou de mim e deu-me um beijo na testa e saiu.

Fui atrás dele e voltamos juntos para o hospital.

- Aonde é que vocês se tinham metido? - A Bonnie perguntou.
- Estávamos lá fora a conversar. - O Jared diz.
- Ela ainda está acordada? - Pergunto.
- Está sim. - A Bonnie responde com um sorriso no rosto.
- Posso vê-la ou...?
- Podes sim.

Caminho até a porta do quarto e dou dois toques seguido de um "entra„. Logo que entro no quarto seus olhos vão de encontro com os meus. Me aproximo da cama e tento beijar-lhe a bochecha, mas ela afasta-se bruscamente, logo que percebe que fiquei meio triste ela força um sorriso.

- Kenya... - Abanei a cabeça antes de continuar. - O quê que se passa? - Perguntei com a voz trêmula e baixa.

- O que levamos dentro do peito ninguém sabe. Sustentamos um sorriso no rosto, enquanto sentimos o mundo desabar dentro de nós. - Foi o que ela disse e depois disso desatou-se a chorar. Naquele momento o monitor dos batimentos cardíacos começou a alterar-se e a Kenya apagou bem ali na minha frente. Eu continuava ali imóvel, enquanto os médicos a sacudiam e tentavamm reanimar-lhe.

NURDOnde histórias criam vida. Descubra agora