Capítulo 55

1.9K 201 15
                                    

Nesses últimos dias tenho me sentido bastante estranha, sabe aquele sensação de estar a ser seguida? Pois essa mesmo. Tenho recebido sempre ligações de números desconhecidos, e sempre que atendo não me dizem absolutamente nada e depois de minutos a ligação é cortada, é sempre assim, desde que acordo até a hora em que me deito. Às vezes recebo mensagens, mensagens completamente fora da percepção de qualquer indivíduo, é algo bem do gênero um ponto final, dois pontos, reticências, ponto de interrogação, ponto de exclamação, vírgula e etc parece que esse ou essa estudou mesmo, é tanto sinal de pontuação que não entendo e parece que às vezes quando está bem disposto envia-me smiles é muito estranho.

Hoje tenho três aulas, melhor levantar para não me atrasar. Tomo um banho de 20 minutos e me ponho dentro da minha saia cor de laranja completamente comprida, visto a minha camisa branca de mangas compridas, o meu casaco de malha cor de laranja, coloco os óculos na cara, solto o cabelo, coloco uns sapatos rasos brancos, pega na minha mochila e ponho-me a andar.

O edifício da universidade não é tão distante dos dormitórios o que facilita na locomoção. Primeiro tenho aula de biologia, depois aula de biofísica, e para terminar o dia física. Hoje o dia seria um pouco mais puxado. No meio da aula de biologia começo a passar mal e saio para ir ao banheiro.

Esses dias tenho me sentido assim muitas vezes ao ponto dos professores notarem que algo de errado se passa comigo. A Carol também já notou e no primeiro momento ela me perguntou se estava grávida, abanei a cabeça em sinal de negação eu não quero que ninguém saiba, não quero sentir que decepcionei a minha mãe, o meu pai, a Mónica, os meus avós paternos e maternos, os meus tios, amigos enfim as pessoas que eu amo e não quero perder, mas eu sei que será impossível continuar a esconder porque a barriga irá crescer e mesmo que demore para se notar, terei outras transformações corporais completamente visíveis.

Decido voltar para a sala depois de uns bons minutos no banheiro a vomitar, estou tão enjoada que nem tenho apetite. Ao entrar outra vez para a sala vejo algumas pessoas a olharem de forma estranha, começo a passar mal outra vez e corro para o banheiro outra vez. Quando me encontro a lavar rosto sinto alguém tocar-me nas costas, viro-me e dou de cara com o Ryan.

- O quê que fazes aqui? Esse é o banheiro das raparigas. - Digo.

- Eu vim ver se estava tudo bem contigo, vi-te a passar a correr e como estavas a demorar, decidi entrar e ver se estás bem. - Ele diz. Seus olhos estão fixos em mim, como se quisesse perguntar algo mas estava com medo da minha reacção. Percebo bem a inquietação do rapaz parado a minha frente com os olhos profundos.

- Ahnm... - Digo. - Eu... bem... estou bem, obrigada pela preocupação. - Digo finalmente e vejo ele me olhar de forma estranha como se estivesse a dizer "eu sei que estás a mentir„ preciso parar de tentar ler os olhares.

- Ahnm okay... - Ele diz e começa mover seu corpo magro cheio de tatuagens para fora do banheiro. - Ahnm... antes que me esqueça, melhor ires a enfermaria porque dizem que estás grávida. - Ele diz quando chega na porta. Olho para ele um bom tempo sem reação e quando fico mais calma decido falar algo.

- Eu não estou grávida, só estou a passar mal, mas obrigada. - Digo e passo por ele me dirigindo para a sala de aulas que agora já se encontrava vazia e só havia a professora.

- Kenya, é possível falarmos? - A professora pergunta receosa.

- Claro! - Respondo e me sento numa cadeira perto da dela, enquanto ela se dirigia para a porta para fecha-la.

- Kenya o quê que se passa contigo? - Ela pergunta com a voz carrega de preocupação.

- Nada professora. - Respondo e baixo a cabeça.

- Tu estás grávida? - Sua respiração pesada se faz ouvir seguida de um suspiro.

- Não professora, foi apenas um mal estar. - Minto.

- A quanto tempo tens te sentido assim? - Ela continua.

- Uns poucos dias, devo ter comido algo estragado. - Minto outra vez. Logo eu tão inteligente, que mentira idiota.

- Kenya não mintas, algo estragado não causaria uma certa mudança no peso do teu corpo, elas podem não ser grandes mas eu consigo notar, por mais que muitos nem liguem. - Ela diz e sinto uma vontade enorme de querer chorar.

- Eu... eu... - Desato-me a chorar e recebo um abraço reconfortante da mulher a minha frente.

Quando me acalmo vou embora sem dizer nada a mulher que continua lá sentada e me olha como se tivesse pena.

"E agora? Eu tinha duas opções, ou matava a criança e vivia eternamente com o peso de ter matado ela ou continuava a carrega-la no meu ventre, mesmo que isso fosse desapontar as pessoas que amava. O que eu faço?"

Desperto dos pensamento quando sinto o telemóvel vibrar, deslizo o polegar pelo ecrã e atendo.
- Alô? - Minha voz funda não me deixa dar continuidade. 3 minutos e a pessoa do outro lado continua calada sem dizer absolutamente nada. - Alô? Eu estou farta dessa merda, porra fala alguma coisa ou não voltes a ligar! - Grito em frustração deixando as pessoas do meu lado assustadas.

- Te amo! - A voz irreconhecível diz e desliga a chamada sem dar tempo de falar nada.

NURDOnde histórias criam vida. Descubra agora