Nesses últimos dias tenho me sentido bastante estranha, sabe aquele sensação de estar a ser seguida? Pois essa mesmo. Tenho recebido sempre ligações de números desconhecidos, e sempre que atendo não me dizem absolutamente nada e depois de minutos a ligação é cortada, é sempre assim, desde que acordo até a hora em que me deito. Às vezes recebo mensagens, mensagens completamente fora da percepção de qualquer indivíduo, é algo bem do gênero um ponto final, dois pontos, reticências, ponto de interrogação, ponto de exclamação, vírgula e etc parece que esse ou essa estudou mesmo, é tanto sinal de pontuação que não entendo e parece que às vezes quando está bem disposto envia-me smiles é muito estranho.
Hoje tenho três aulas, melhor levantar para não me atrasar. Tomo um banho de 20 minutos e me ponho dentro da minha saia cor de laranja completamente comprida, visto a minha camisa branca de mangas compridas, o meu casaco de malha cor de laranja, coloco os óculos na cara, solto o cabelo, coloco uns sapatos rasos brancos, pega na minha mochila e ponho-me a andar.
O edifício da universidade não é tão distante dos dormitórios o que facilita na locomoção. Primeiro tenho aula de biologia, depois aula de biofísica, e para terminar o dia física. Hoje o dia seria um pouco mais puxado. No meio da aula de biologia começo a passar mal e saio para ir ao banheiro.
Esses dias tenho me sentido assim muitas vezes ao ponto dos professores notarem que algo de errado se passa comigo. A Carol também já notou e no primeiro momento ela me perguntou se estava grávida, abanei a cabeça em sinal de negação eu não quero que ninguém saiba, não quero sentir que decepcionei a minha mãe, o meu pai, a Mónica, os meus avós paternos e maternos, os meus tios, amigos enfim as pessoas que eu amo e não quero perder, mas eu sei que será impossível continuar a esconder porque a barriga irá crescer e mesmo que demore para se notar, terei outras transformações corporais completamente visíveis.
Decido voltar para a sala depois de uns bons minutos no banheiro a vomitar, estou tão enjoada que nem tenho apetite. Ao entrar outra vez para a sala vejo algumas pessoas a olharem de forma estranha, começo a passar mal outra vez e corro para o banheiro outra vez. Quando me encontro a lavar rosto sinto alguém tocar-me nas costas, viro-me e dou de cara com o Ryan.
- O quê que fazes aqui? Esse é o banheiro das raparigas. - Digo.
- Eu vim ver se estava tudo bem contigo, vi-te a passar a correr e como estavas a demorar, decidi entrar e ver se estás bem. - Ele diz. Seus olhos estão fixos em mim, como se quisesse perguntar algo mas estava com medo da minha reacção. Percebo bem a inquietação do rapaz parado a minha frente com os olhos profundos.
- Ahnm... - Digo. - Eu... bem... estou bem, obrigada pela preocupação. - Digo finalmente e vejo ele me olhar de forma estranha como se estivesse a dizer "eu sei que estás a mentir„ preciso parar de tentar ler os olhares.
- Ahnm okay... - Ele diz e começa mover seu corpo magro cheio de tatuagens para fora do banheiro. - Ahnm... antes que me esqueça, melhor ires a enfermaria porque dizem que estás grávida. - Ele diz quando chega na porta. Olho para ele um bom tempo sem reação e quando fico mais calma decido falar algo.
- Eu não estou grávida, só estou a passar mal, mas obrigada. - Digo e passo por ele me dirigindo para a sala de aulas que agora já se encontrava vazia e só havia a professora.
- Kenya, é possível falarmos? - A professora pergunta receosa.
- Claro! - Respondo e me sento numa cadeira perto da dela, enquanto ela se dirigia para a porta para fecha-la.
- Kenya o quê que se passa contigo? - Ela pergunta com a voz carrega de preocupação.
- Nada professora. - Respondo e baixo a cabeça.
- Tu estás grávida? - Sua respiração pesada se faz ouvir seguida de um suspiro.
- Não professora, foi apenas um mal estar. - Minto.
- A quanto tempo tens te sentido assim? - Ela continua.
- Uns poucos dias, devo ter comido algo estragado. - Minto outra vez. Logo eu tão inteligente, que mentira idiota.
- Kenya não mintas, algo estragado não causaria uma certa mudança no peso do teu corpo, elas podem não ser grandes mas eu consigo notar, por mais que muitos nem liguem. - Ela diz e sinto uma vontade enorme de querer chorar.
- Eu... eu... - Desato-me a chorar e recebo um abraço reconfortante da mulher a minha frente.
Quando me acalmo vou embora sem dizer nada a mulher que continua lá sentada e me olha como se tivesse pena.
"E agora? Eu tinha duas opções, ou matava a criança e vivia eternamente com o peso de ter matado ela ou continuava a carrega-la no meu ventre, mesmo que isso fosse desapontar as pessoas que amava. O que eu faço?"
Desperto dos pensamento quando sinto o telemóvel vibrar, deslizo o polegar pelo ecrã e atendo.
- Alô? - Minha voz funda não me deixa dar continuidade. 3 minutos e a pessoa do outro lado continua calada sem dizer absolutamente nada. - Alô? Eu estou farta dessa merda, porra fala alguma coisa ou não voltes a ligar! - Grito em frustração deixando as pessoas do meu lado assustadas.- Te amo! - A voz irreconhecível diz e desliga a chamada sem dar tempo de falar nada.
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NURD
AléatoireEla era tão inocente, mas tão inocente que de inocente não tinha nada. Ela era cheia dos mistérios. Mistérios esses que se escondiam por trás de um par de óculos enorme, um cabelo super desarrumado, uma saia compridona e umas camisas de mangas com...