00 - T h e B e g i n n i n g

121 8 3
                                    

Não era tão trágico assim quanto parecia; não era um absurdo, como as pessoas geralmente diziam. Era até normal. A mamãe era instável, mas era normal.
Eu já havia me acostumado e agora ela tinha que se acostumar.
Ela dirigia focada na estrada, como se de fato, tudo estivesse bem. E eu? Eu trocava a música da minha playlist.
Estava chovendo um pouco. A estrada estava molhada. O vidro embaçado. Era até bonito de se ver o dia nublado, mas eu sinceramente preferia aqueles dias pouco mais quentes, de céu azul; um céu rodeado de nuvens de algodão que pareciam geladas.
- Mamãe, você não precisa chorar. - eu disse, enquanto via ela mesma chover dentro do carro pela terceira vez na nossa curta viagem. - Está tudo bem.
- Tudo bem, Victor. Tudo bem. - ela disse, mas como que para si mesma.
- Você sabe que foi a melhor coisa que podíamos fazer. Nós não íamos conseguir continuar naquela casa. - eu disse, olhando em direção á sua barriga, com um leve tom de tristeza.
Nós estávamos saindo de Itanhaém; da casa que continha lembranças demais para serem comportadas por nós dois.
Ela me olhou nos olhos e eu vi órbitas no seu olhar. Mas o que me assustou, era que elas estavam paradas; mas ela deu um sorriso estrelado e enxugou as poucas lágrimas com as costas da mão calejada.
Eu ficava um pouquinho triste. Pela mamãe. Ela era uma pessoa boa e agora ela estava triste. Os olhos pretos dela, estavam tristes. Uma pessoa de tantas emoções, de tantas linhas de riso pelo rosto... Estava triste.
Eu não queria que ela tivesse perdido isso. Se perdido.
Eu me sentia abstrato por não poder mudar a situação; eu me senti fraco por ser inútil.
Eu queria ser bom o suficiente para alguém; eu queria ser bom o suficiente para a mamãe.
-

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora