61 - A L o s t S t a r

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Eu estava deitado na minha cama, pensando nas coisas que Sebastian me dissera e mais no que eu sentia por Lisa, quando o meu telefone tocou e eu li uma coisa que eu nunca imaginara ler no visor:
- Senhora Sandle? - atendi no primeiro toque.
- Oi, Victor. A Lisa está aí? - a voz da mulher simpática estava como nunca esteve; acelerada. Parecia prestes a atropelar alguém.
- Não, senhorita Sandle. Ela saiu de manhãzinha e foi pra casa, por quê? - aquilo me fez lembrar de um detalhe que passara despercebido.
Ela não me ligara.
- Victor, você pode dar um pulinho aqui em casa, por favor? - o senhor Sandle assumiu a ligação.
- Claro, eu já estou indo. - eu desliguei e desci correndo para pegar minhas chaves.
Minha mãe não estava em casa, porque ela trocara de horário, então ela só voltaria lá pras onze e meia.
Passei pela porta, com as minhas costelas se queixando do meu ritmo.

- O que houve? - eu perguntei, a ver que todo mundo andava de um lado para o outro.
Na linguagem humana, aquilo não parecia um bom sinal. Quando se tinham adultos, que já eram normalmente preocupados, e que executavam exatamente todas as suas tarefas se preocupando com as contas, com a hipoteca ou até mesmo para a ração para gato, andando de um lado para o outro, aquilo resultava em questões nada boas.
- Aconteceu uma coisa aqui hoje. - a senhora Sandle, resolveu falar.
- O quê? - minha garganta coçava.
- Eu descobri que fui traído. - o tio de Lisa se manifestou. - Ela surtou e foi pro quarto. Quando a chamamos, ela tinha fugido.
- Nenhuma idéia de onde ela possa estar? - meu cérebro dava curto.
- Não. Ela não atende o celular e você era o único em quem ela poderia confiar para recorrer, então agora eu não sei. - a mãe dela parecia à beira de um surto e eu titubeava para alcançar alguma idéia.
Otávio pulou no meu colo de repente e se aninhou ali, como se precisasse de carinho.
Eu o segurei com um braço e com a mão desocupada acarinhei sua cabecinha e seu focinho.

Nós quatro pensavamos em alguma solução; nós não podíamos ligar para a polícia, porque só poderíamos acionar eles se ela tivesse sumido há vinte e quatro horas. Mas esse não era o caso. Calculamos juntos umas sete horas.
Foi aí que meu telefone vibrou no bolso da jaqueta beje e a casa inteira fez silêncio pra escutar o que eles queriam:
- Alô?
- Victor?
- Lisa?!
Eu vi alívio, vi um pouco ainda de preocupação, vi choro e mais uma renca de emoções aglomeradas no rosto das pessoas ali.
- Lisa, onde você está?
- Você está na casa dos meus pais? - eu sabia que mentir era feio; e ela era uma das últimas pessoas para quem eu mentiria; eu sabia que resposta eu teria que dar e sabia que ela era bem diferente da verdade se eu quisesse a encontrar:
- Não. Mas sua mãe está atrás de você. - priviligiei a mentira, porque eu estava pra entrar em desespero.
Eu não sabia onde ela estava, se estava bem; na realidade, eu tinha certeza que o psicológico dela estava um tanto alterado pelo que acontecera.
- Eu to no Jabaquara. Na estação. - ela soltou, sem nenhuma premissa de desconfiança.
Tive uma pontada de felicidade por ela confiar daquele jeito em mim e me senti confortável.
- Eu não quero voltar pra casa.
- Por que não? Você brigou com seus pais? - eles ouviam tudo a sós.
- Não. Eu só... Eu só queria ficar sozinha um pouco. - eu percebi que ela era uma estrela, mas naquele momento ela não pertencia à uma constelação, ela era só uma estrela viajante, vagando pelo universo em busca de algo. - Mas eu não quero mais ficar sozinha. - e de repente, ela deixara de ser uma estrela perdida.
- Você quer que eu vá te buscar?
- U-hum. Mas só você.
- Tudo bem, eu estou indo.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora