O sorvete não era de cereja, mas estava gostoso. E o rosto dela estava todo lambuzado. Ela parecia uma criança, que não sabia comer doce.
E eu estava sorrindo por isso:
- Está muito gostoso.
- É. Eu acho que sim. - eu sorri. - Vem cá.
Ela se aproximou com os olhos curiosos de sempre e eu levei o dedo ao canto de sua boca, limpando o sorvete de flocos que ficara ali.
- Obrigada. - os olhos dela pareceram música.
- Tudo bem.
E aí eu lembrei de algo. Mais necessariamente, de algo guardado no fundo da minha gaveta, entre papéis, e trancado, ainda por cima.
- Eu tenho uam coisa para te mostrar. - seu sorriso de chocolate espaçado, estava lá. - Fecha os olhos.
- Ok! - ela levou as mãozinhas aos olhos e esperou.
Eu realmente não sabia se ela estava trapaceando e olhando por entre os dedinhos de unhas sem esmalte, mas eu nem me importei muito com isso.
- Pronto, pode abrir. - ela me olhou, esperando por algo.
- Cadê?
- Naquele dia que você disse que amou a raposinha que eu desenhei, eu simplesmente soube que... - respirei fundo. - Que eu precisava fazer algo. Então desde aquele dia... - eu puxei um pano que cobria meu mural e assim ela pôde ver vários esboços de uma garota, pendurados por ali. -... Eu tento desenhar você.
Haviam bastante Lisas no meu mural, nas mais variadas poses e sempre com o cabelão rosa solto.
- Victor... - sua boquinha se abriu no que era um formato quase usual, quando ela estava impressionada.
- E aí, eu finalmente consegui chegar num resultado que... Que eu considerava bom. - eu disse, a entregando timidamente a folha de sulfite.
Eu abaixei a cabeça, porque eu não queria que ela percebesse que meu rosto inteiro tinha esquentado e devia estar vermelho.
No desenho, ela estava com toda aquela imensidão rosa de cabelo, solta. Seus olhos estavam exatamente grandes, como eu sempre os via, (bom pelo menos na parte do tempo que ela não ameaçava Sebastian), suas sardinhas também estavam desenhadas, pois eu não podia deixar um detalhe tão importante de lado.
Ela também estava usando exatamente aquele mesmo vestido que eu já vira uma ou duas vezes antes daquele dia, mas no desenho, era apresentada uma versão mais curta dele, como se ela fosse apenas uma garotinha.
Havia também uma tiara de gatinho nas sua cabeça.
- Ei. - ela pegou meu queixo, com delicadeza e ergueu minha cabeça para que nossos olhares se encontrassem. - É a coisa mais bonita que alguém já fez para mim.
E foi quando eu percebi os olhinhos dela.
Eles estavam cheios de água; água pronta para começar a chover pelas suas bochechas de sardinhas.
- É a coisa mais linda - ela sorriu. - que eu já vi. - e como no primeiro desenho, ela abraçou o papel. - Eu adorei.
- Não chora. Eu não queria fazer você chorar. Me desculpa... - eu comecei a ficar meio desesperado por perceber que ela talvez chorasse.
- Tudo bem. - ela fungou. - Eu estou feliz. - e um sorriso bem espontâneo tomou seus lábios. - Eu vou guardar isso para sempre. - então ela ergueu o mindinho, e só assim eu entendi. - Eu prometo.
Eu também ergui meu mindinho. A diferença é que eu não sabia o que prometer.
- Eu prometo... - eu pensei um pouco. - continuar desenhando para você.
Suas bochechas revelaram círculos rosa.

VOCÊ ESTÁ LENDO
U m a P r i m a ve r a Q u a l q u e r
Storie d'amore"Eu só queria uma resposta. A resposta do que é o amor. Eu queria encontrar uma definição num livro, na internet, mas a única definiçao que eu podia encontrar, era em mim mesmo e aquilo me dava medo, porque... E se eu nunca encontrasse?" - Victor...