28 - M a t c h ?

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- Ele simplesmente disse isso? - Lisa soava um tanto indignada pelo outro lado da linha.
- Pois é. - eu recolhia minha roupa suja e a colocava na máquina de lavar. - Não sei o que ele pode querer.
- Eu não gosto dele. - eu já previa a careta de mal humorada dela, com suas bochechas coradas em formatos circulares. - Ele é estranho. E triste.
- O que ele poderia querer comigo? - eu estava impaciente.
Infelizmente eu estava bem curioso.
- Você não deveria ir, Victor. - ela disse com uma voz de receio.
- Mas ele me disse pra ir. - eu relutava contra a impressão ruim em mim. - Talvez ele quiera só conversar...
- Ele é um brutamontes! - ela disse indiguenada. - Que horas ele marcou com você?
- Às cinco.
- Tudo bem. - ela parecia perpetuamente contrária á ideia. - Eu preciso ir, minha mãe tá me chamando. - eu ouvia os berros ao fundi. - Já vou!
- Tchau, Algodão Doce.
- Tchau, Victor. - e ela desligou.

Eram cinco horas da manhã e ainda estava bem escuro, por causa do horário de verão e estava bem escuro na rua.
A brisa fina me acompanhava enquanto eu andava á caminho da escola e uma garoa persistente começou a me saudar.
Eu ergui o capuz da minha blusa preta e levantei a cabeça para receber as finas gotas alegres, que pareceram dançar.
Sinceramente, eu não entendia o que Sebastian poderia querer comigo às cinco da manhã.
Eu sinceramente não achava que ele queria me bater, por que ele marcaria uma hora específica para isso? Não fazia sentido.
Ele fora até legal comigo; duas vezes. E por mais que ele tivesse um semblante que não fosse nada convidativo, eu não achava que ele era má pessoa.
Eu só estava um pouco receoso, eu não sabia o que esperar.
Eu abri o portão da quadra e ele já estava lá, com talvez duas cabeças a mais da minha altura:
- Você está atrasado. - foi quase em nenhuma emoção.
- Desculpe. - foi tudo o que consegui, observando a costas dele.
E na hora que ele se virou para mim, a bola pingou no chão algumas vezes, até parar e sair rolando.
- Quero que tente tirar a bola de mim.
- Mas isso é impossível...
- Tente tirar a bola de mim. - ele começou a andar e a bola parecia o acompanhar, enquanto ele a trocava de pés e passava por mim.
- Eu não consigo.
- Só tente, Victor. Tente. - ele disse, parando a bola. - Você não está nem se mexendo. - ele disse com um ar de manhã. - Vamos começar devagar.

Quando eu finalmente consegui tirar a bola dele, eu vi algo rosa cortando pela extensão da quadra e se posicionando na arquibancada vazia.
Sebastian pediu um tempo e eu fui de encontro á Lisa no meio da quadra.
- O que sua namorada tá fazendo aqui? - ele perguntou de longe totalmente ofegante.
- Namorada? - ela perguntou baixinho, com aqueles olhos, nos quais eu pude ver toda extensão da galáxia.
Meus olhos brincaram com os dela, enquanto continuávamos transfixados.
- O que você está fazendo aqui? - eu perguntei, enquanto os átomos dela pareciam visíveis em seus olhos.
- Vim garantir que você ficasse bem, mesmo que eu precisasse cuidar dos seus ferimentos depois. - um sorrisinho tímido e especifico. - Trouxe até um kit de primeiros socorros.
- Obrigado.
- Boa sorte. - ela saiu andando de volta á arquibancada com sua blusa de ursinhos.
- Podemos continuar? - ele me perguntou, com um quê da cena.
- Sim.
E nós voltamos ao jogo.
Foi incrível o quanto de coisas era possível fazer com a bola e em como eu absorvia tudo tão rápido, como se já soubesse aquilo, e estivesse apenas relembrando.
Sebastian foi paciente para me ensinar quando eu errava e eu fiquei feliz, porque ao contrário dos meninos da minha sala, ele não gritou comigo nenhuma vez e aquilo me fez pegar confiança.
- Bom, agora pelo meno você sabe como chutar uma bola. - ele disse, enquanto íamos para o banheiro. - Você está indo bem.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora