05 - A B o o k s t o r e

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Não.
Eu não a vira na escola aquele dia.
Mas a aula de matemática estava interessante, apesar da professora ser uma idosa um tanto rabugenta; a aula estava legal, porque eu finalmente estava conseguindo desenvolver meu gráfico de função de segundo grau.
- Ei, você é o Victor, não é? - aquela menina que eu esquecera o nome, mas que também era nova, esperava uma resposta minha.
- Sou sim. E você é...
- Sou a Sophia. - ela estendeu a mão morena para mim.
- Prazer, Sophia. - eu apertei sua mão.
- O prazer é meu. - ela sorriu. - Será que eu posso me sentar? - ela apontou para uma cadeira vaga em frente a mim.
- Claro. - e ela o fez.
Esperei por algo que ela quisesse dizer, mas tudo o que ela fez, foi continuar observando meu caderno, enquanto eu terminava os exercícios:
- Você parece bom, mas você está errando feio nos sinais. - ela apontou a minha B e C.
- Ah sim, os sinais. - peguei a borracha. - Obrigado.
Ela soltou uma risadinha.
- Tudo bem. O que você tem que saber é que aqui é regra de sinais e não multiplicação. - ela disse. - Posso? - ela se ofereceu, pegando a borracha.
- U-hum. - a entreguei e ela apagou parte da minha conta. - Essa parte está certa, você só tem que refazer a segunda.
- Obrigado. - eu peguei meu lapis de novo.
- Por nada.
Continuei os exercícios.
- Você é muito boa em cálculo. - ela assentiu. - Deve gostar de biologia, já que quer ser pediatra.
- Ah sim. Na verdade é minha matéria favorita. - dessa vez eu assenti. - E qual a sua?
- História.
- Bem legal.
- Sophia. - aquela outra menina nova a chamou e ela se levantou.
- Dá licença, Victor. - eu apenas assenti.
Entendi o que estava errado e corrigi os cognatos. Levei para a professora e ganhei meu primeiro visto em matemática.

Eu estava sentado numa mesa mais para o fundo do pátio, comendo uma maça e lendo meu mangá, quando alguém me chamou:
- Será que eu posso me sentar?
Era o ruivo, bochechudo. O nome dele era... Everton.
- Claro.
- Sou Everton e você? - ele disse dando uma mordida no sanduíche.
- Victor Winters.
- Você quer? - ele ofereceu.
- Não, obrigado. - eu o ofereci a maçã.
- Cara, quem come maçã? - ele sorriu, mas continuei sério. - Você gosta de One piece?
- Sim. Meu anime favorito.
- Prefiro Farytale. - ele mordeu o sanduíche de novo.
- Não tem como gostar mais de Farytale. É uma imitação que deu errado.
Foi um intervalo divertido. Discutimos tanto sobre animes que nem vi o tempo passar.

Antes de ir pra casa, eu resolvi ir no Bonsucesso. Ia procurar alguma coisa para ler. Talvez eu encontrasse algo que o professor de literatura me indicou.
O fluxo de gente naquele dia nem estava tão intenso.
Era agosto. As pessoas não gostavam de agosto.
Mas as conversas, as risadas e o consumismo devairado estavam lá.
Eu não estava sendo pejorativo. Eu também me incluía nisso, afinal só de você estar num shopping, você já estava consumindo.
Ninguém ia para shopping para olhar as vitrines; era uma ideologia meio boba.
Eu estava concentrado numa edição de o pequeno príncipe, quando ouvi:
- Mas a nobel do centro tinha mangás!
- Desculpe senhorita, mas nós não vendemos mangás...
Eu me virei para ver quem estava tão interessado em quadrinhos japoneses.
Dessa vez não foi um choque.
Me senti eletrocutado mesmo.
O cabelo rosa dela estava debaixo de um gorro acinzentado, enquanto uma expressão brava estava retratada na sua face.
E eu me senti queimado sem ela nem me olhar. Senti dó do vendedor.
- Vocês têm que ter pelo menos um volume...
Ela gostava de mangás.
E eu tinha todos os volumes do que ela queria.
Pensei em ir até ela e a dizer que a emprestaria quantos ela quisesse, mas eu não me sentia confortável de fazer isso, então eu aproveitei que ela não estava me vendendo e fui para o caixa pagar pelo meu livro.
Eu paguei.
Peguei o livro.
Sai andando para a saída.
Mas ela me viu antes disso. E ela ainda estava indiguenada quando me encarou de boca aberta e eu pude notar mais um detalhe essencial sobre ela.
Ela tinha um espaço involuntário entre os dois dentinhos da frente.
Eu fugi dela. Pela segunda vez, eu fugi dela.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora