44 - L o s t

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- Você esperou ela por três horas? - Sebastian fez com os dedos; ele pareceu indiguinado.
- Sim.
Sebastian só passou a mão pelos cabelos lisos e escuros.
- É, acho que você tá perdido. - ele deu uns tapinhas na minhas costas.
- Perdido? - eu pisquei rapidamente. - Como assim?
- Quando você se apaixona, você se perde.
Eu não sabia se aquilo era ruim ou bom, então eu só fiquei quieto para que ele pudesse continuar e eu criar uma margem sobre aquilo.
Mas ele não falou nada, só jogou os cabelos rebeldes para trás de novo e girou o Palito de dente na boca com os dedos.
- Isso é bom ou ruim? - então eu perguntei, finalmente.
- Bom, isso só quem pode decididir é você. - ele deu de ombros, num gesto inoportuno.
- Sebastian, ainda estou confuso. - eu me virei melhor para entender do que ele falava.
- Quando você se apaixona Victor, há um bocado de coisas boas e ruins, mas como que você lida com elas que acaba decidindo se estar perdido nisso é bom ou ruim.
"Depende do que você escolher".
- Sebastian eu...
- Deixa pra depois, sua namorada tá vindo. - ele pulou da mesa do pátio, pronto pra sair andando.
- Ei Sebastian, vem aqui, eu quero falar com vocês dois. - vi a sobrancelha dele subir e seu rosto ficar intrigado.
- Você quer falar mesmo comigo? - ele perguntou para ela.
- Sim, ué. Por quê?
- Você só me mete cascudo, Lisa. - ele cemicerrou os olhos pra ela.
- Isso é uma exceção excepcional. - ela disse com uma face honrada, enquanto empinava o nariz.
- Metida. - ele sussurrou.
- Quê?
- Nada, nada. - mas eu estava quase certo de que ela ouvira.
Ele me falara sobre aquilo. Quando você dizia algo e uma mulher respondia "o quê" era sinal de que alguma coisa estava errada.
- Quero que vocês apareçam na minha casa na sexta feira.
- Por quê? - perguntou Sebastian.
- Vocês vão ver.
- Tá, mas por quê? - insistiu ele.
- Sebastian, você quer apanhar? - ele bufou metódico.
- Tá, tchau. - ela saiu pulando.
- Sua namorada é meio louca, Victor. - ele a apontou ao longe.
De repente uma menina parou na nossa frente. Mais necessariamente, Sophia parou na nossa frente.
- Oi, garotos.
- Oi. - eu respondi quase sem som. Sebastian só desviou os olhos e olhou para qualquer lugar que não fosse referente à ela.
- Oi, Sebastian. - ela despontou meio tímida, segurando o braço.
- E aí?
Foi tão seco que eu me senti machucar.
- Será que eu posso falar com você? - ela pediu.
- Pode falar. - houve um silêncio, em que apenas a música do fone de ouvido dele se transmitiu.
- Eu quero falar em particular. - ela estava distorcida.
- É muito importante?
- Deixa queito. - ela pareceu morrer em desistência.
- Tchau, Victor. - ela saiu a pequenos passos.
Sebastian suspirou, puxou os fones dos ouvidos e o palito da boca:
- Espera, Sophia.
Eu fiquei lá no banco azul do pátio, pensando no que estar perdido significava para mim. E sim, eu tinha plena noção de que era cedo demais para eu esbanjar uma concepção sobre aquilo, então eu só resolvi anular meus pensamentos por ora.
E para Sebastian? Ele ainda estava perdido? Isso era bom ou ruim? Já significara algo bom alguma vez?
Porque eu lembrava do brilho morto dos seus olhos quando ele me bateu daquela vez no beco. Mas eu também vira um brilho esquisito no seu olhar logo agora, enquanto ele a ignorava.
Pensei que devesse falar com ele depois da aula.

Eu ia falar com Sebastian depois da aula, porque eu achei que fosse algo assim que os amigos fizessem; eu também não sabia como deveria agir, porque nunca tive um amigo. Mas houve um problema.
Ele desapareceu.
Ele simplesmente sumiu, então eu só fui caminhando sozinho pra casa.
A mãe de Lisa pegara ela mais cedo na escola, pois ela tinha dentista, então eu estava passando por aquela mesma calçada, com meus fones pretos no último volume, quando algo me fez retroceder nos meus passos.
Eram aqueles mesmos gatinhos fofinhos do outro dia. Eles me olhavam com olhinhos dóceis e miavam bem fininho quando eu batia com o dedo bem de leve na vitrine, para chamar sua atenção.
- Eu não sabia que você gostava de gatos. - uma voz cinza soou nas minhas costas.
Eu ergui o olhar para ele e me voltei aos gatinhos:
- Nem eu.
Houve uma pausa em que os gatinhos miaram um pouco, como um convite.
- O que aconteceu, Sebastian?
- Nada importante. - ele trocou o palito de lado na boca. - Vai comprar de feliz aniversário para ela?
- Para ela quem?
Sebastian me encarou num turbilhão de listras azuis.
E eu demorei para me adequar e entender do que ele estava falando.
- Que aniversário?
- Lembra quando a Lisa chegou mais cedo e nós chamou pra ir à casa dela na sexta? - eu assenti. - Então.
- É o aniversário dela?
- Temos um campeão. - ele deu um sorriso ríspido e trocou o palito de lado na boca, de novo.
- Eu não sabia que ela fazia aniversário na sexta.
- É, estou vendo.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora