23 - I am S o r r y

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Eu conversava com Lisa. Bom, mais ou menos.
Na realidade, ela falava, falava e eu assentia, tentando acompanhar o fluxo de assuntos que saiam num tom cada vez mais animado.
- E aí, ela disse que gostava de pirulito de uva... - ela fazia expressões faciais engraçadas, que eu nem imaginava existir, e eu estava prestando muita atenção no jeito que o rosto dela ficava, até que eu vi aquele cara escorado no portão.
- Que foi? - eu não sabia, mas meu sangue tinha parado de bombear. - Victor, o que foi? - ela se virou e ficou na ponta dos pés, tentando entender o que acontecia.
- Aquele é o menino que me bateu...
- Eu vou lá. Vou arrancar a cara dele. - ela saiu andando determinada e eu agarrei e segurei sua mochila, mas isso não adiantou nada, porque ela se livrou da bolsa e saiu correndo por entre a multidão.
Nao demorou muito, para eu ouvir certos gritos dela, e ela começar a apontar na minha direção. Os olhos caóticos dele passaram por mim, sem apresentar nenhuma reação e ela voltou, bufando.
Ele não pareceu nenhum pouco afetado.
E ela pareceu um tourinho.
- Me dá minha bolsa. - ela agarrou a bolsa.
- Como você ainda está viva?
- Eu disse para ele ir torcer pescoços de galinha para descontar a raiva. Sebastian é um encrenqueiro de mão cheia!
- Como sabe o nome dele? - nós estávamos seguindo o fluxo de pessoas para dentro da escola.
- Estudo com ele desde a quinta série. - ela fez cinco com os dedos. - Ele é meio estranho.
- Ah. - guardei aquela informação.
Ninguém sabia quando ele tentaria me espancar de novo.
E provavelmente isso aconteceria logo, pois Lisa o confrontara.
Eu não estava bravo com ela. Ela era altamente corajosa e eu fiquei orgulhoso por mais uma demonstração disso.

Quando o sinal bateu, ninguém me seguiu, não houveram olhares esquisitos e tudo que estava rolando, era eu e Lisa indo para casa, enquanto eu olhava para trás ainda na paranóia.
Eu a deixei no portão de sua casa, enquanto ela me deixou com aquele típico sorrisinho corado de vermelho em suas bochechas, e meus músculos estavam quase despreocupados, quando uma voz me alcançou:
- Victor.
Comecei a rezar o pai nosso e todas as rezas que eu aprendi com a minha mãe mentalmente, mas por fora, eu sorri:
- Oi.
- Oi. - ele me estendeu sua mão e eu não entendi.
Ele ia apertar minha mão e quebrar meus ossos? Ou me jogar por trás do seu ombro? Assim na frente de todo mundo? Não podia nem ser no beco, de novo.
Comecei a chorar internamente.
Levei minha mão à sua, meio desconfiado, e já estava me preparando para o chão, quando tudo o que aconteceu, foi um mínimo aperto de mãos.
- Eu queria me desculpar. - ele pareceu levemente deslocado e eu fiquei mais em dúvida ainda. - Sophia me contou o que realmente aconteceu. Nós terminamos depois disso.
- Eu sinto muito. - considerei, tremendo só de lembrar o que aquilo provocou. E eu não estava falando da surra.
- Sei que não foi sua culpa; eu me precipitei. - ele continuou me com seu olhar queito. - Eu deveria ter falado com você antes, mas eu sou meio bruto.
- Tudo bem.
- Então, como pedido de desculpas, eu trouxe isso para você. - ele me deu dois ingressos.
Eram extremamente coloridos, mas não prestei muita atenção.
- Não, eu não posso aceitar. Parece caro. - eu tentei devolver, mas ele recusou minha mão.
Eu não costumava fazer julgamento das pessoas, mas sinceramente, Sebastian não parecia uma pessoa muito confiável. Eu ainda estava receoso.
- Não, tudo bem. - ele disse firme. - Eu fiz questão de passar e comprar como pedido de desculpas.
"São ingressos para um parque de diversões que é nômade. Vai ter um show também".
- Mas por que dois? - eu perguntei, observando melhor os ingressos.
- Um é seu e o outro é da sua garota. - eu pasmei com as últimas duas palavras.
- A minha o quê?
- Aquela baixinha, brava de cabelo rosa. - ele fez um gesto com a mão, indicando uma certa altura.
- Ela é sim.
- Então, leve ela. Ela vai gostar. - ele assentiu. - Bom, até mais, Victor. - ele enfiou as mãos nos bolsos do casaco e foi embora.

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