- Me espera na saída? - ela me perguntou, enquanto subiamos para as salas.
- Sim.
- Tudo bem. - a sala dela era no segundo andar. - Quer que eu te leve?
- Não precisa, se não você vai se atrasar. - eu apenas assenti. - Até mais, Victor. - ela beijou minha bochecha e saiu correndo com sua mochila marrom para alcançar as escadas para o segundo piso.
E enquanto eu caminhava para minha sala, eu pensava sobre ela. Como sempre. Como meu hábito mais comum e ao mesmo tempo mais sortido.
Nós estávamos namorando agora e eu não sabia fazer isso direito.
Desejei que ela não esperasse muito de mim, pois tudo o que eu tinha a oferecer era os meus sentimentos e minha falta de experiência. Eu esperava que ela fosse paciente para me ensinar algumas coisas.
Enquanto a professora lia um trecho do livro e eu fissurava meus olhos nela para parecer pelo menos um pouco interessado, minha mente se dilatava pela pele macia dela.
O que será que ela queria na hora da saída?
Eu estava ansioso.
Assim como naquela vez que nós marcamos um primeiro encontro. Mas revoguei esse pensamento imediatamente quando ele apareceu, porque o final foi drástico demais para me animar.
Eu passara uns quinze minutos gritando com a minha mãe enquanto tentava a explicar o que acontecera no dia anterior e no final eu sorrira. Como se aquilo fosse o desfecho de uma música muito bonita; a violino.
Mamãe disse que estava orgulhosa do "garotinho dela" e eu a abracei no fim.
Eu sentia como se todas as respectivas coisas da minha vida estivessem finalmente se encaixando.
Eu tinha uma namoradinha. E pensar nisso me fazia lembrar do cabelo de algodão doce dela...
E aquilo me desconcentrou tanto da minha linha de pensamento central, que quando eu percebi, eu estava pensando sobre como peculiar era beijar uma garota. Beijar Lisa, mais precisamente.
Ela parecia ter um gosto irredutível quando se olhava para ela e toda aquela massa de cabelo rosa; mas quando eu a beijava... Ah! Tinha um gosto maravilhoso de cereja e ainda havia algo como... Como chocolate quente com marshmallow que vinha sempre no final do beijo.
Mas voltando a linha de raciocínio, eu tinha uma namoradinha; eu tinha um melhor amigo; a minha mãe parecia finalmente bem, depois de tanto tempo e as coisas pareciam tranquilas com um gosto de fim de tarde.
Eu costumava me sentir assim quando meu pai estava vivo. E eu sabia que ele não estava aqui, mas eu ainda sim, continuava falando com ele toda noite, porque assim como eu dissera a Sebastian, eu acreditava que ele realmente podia me escutar.- Hey! - ela surgiu detrás de uma coluna com seu "oi" animado.
- Oi. - eu sorri. Estava fazendo muito isso ultimamente. - Então, eu vou te levar pra casa?
- Não. - ela disparou pelas escadas na minha frente. - Nós vamos no Bonsucesso. Preciso comprar umas roupas.
Comprar umas roupas. O Sebastian me falou sobre isso. Ele me disse para eu correr o máximo que minhas pernas conseguissem quando ela sugerisse isso, mas eu ainda não entendia o porquê.
- Ok. - continuamos andando para além da escola e seguindo em frente para o shopping que não ficava assim tão longe.
Nós estávamos andando lado a lado, enquanto eu a dava uns olhares meio tímidos, procurando por seus olhos, e ela estava distraída, em alguma música imaginária, que ela sussurrava com um semblante muito interessante.
Suas sardinhas pareciam pular de empolgação com a ida ao shopping.
Não demorou muito para chegarmos e quando o fizemos, nós entramos direto na Marisa e ela foi viajando pelas araras como se já fosse profissional naquilo.
- Você quer ajuda?
- Sim! - ela respondeu toda animada, enquanto pegava uma daquelas sacolas gigantes de plástico reforçado e jogava lá dentro algumas blusas.
Eu só observava, enquanto ela fazia praticamente uma vistoria nas roupas da loja.
Era divertido, ver ela correndo para lá e para cá como se tivesse praticamente em casa. Se sentindo praticamente à vontade.- E esse? - ela apareceu com um vestido gigante branco, com um certo decote nas costas e flores azuis bonitas em alguma sequência.
- Lisa, você não vai pagar por esse vestido. - eu me levantei da cadeira.
- Ué, e por que não? - suas feições se contorceram por uma resposta.
- Porque eu vou. - respondi, enquanto o rosto dela mudava de semblante e ela voava no meu pescoço para um abraço doce.
- Obrigada! Obrigada! - ela voltou correndo para o provador e eu simplesmente a esperei mais um pouco.
Sinceramente eu não entendera do que exatamente Sebastian estava falando quando me avisara para correr.
Foi tão divertido.
Tudo bem que eu não fazia a menor noção sobre estilos de roupas; eu sempre me vesti de modo tão casual, o que sempre me fez sentir tão confortável. Eu de fato não me importava se as outras pessoas estavam me vendo bem vestido, mas ela... Meu Deus do céu! Ela ficava chique até de pantufas de patinhos (eu afirmava isso com tanta veemência, porque eu já a vira com pantufas de patinhos e eu jurei sentir como o arco íris deve se sentir).Nós estávamos voltando; eu a deixaria em casa.
Nós estávamos seguindo pela avenida quando Lisa parou no meio da calçada e eu continuei andando.
Voltei alguns passos para checar o porquê dela ter dado uma parada súbita:
- Que foi?
- Victor. - ela segurou a gola da minha camisa, de modo desesperado, mas sem desgrudar os olhos da vitrine.
A vitrine que ela encarava mais precisamente, era a de um pet shop qualquer; e o que ela encarava mais precisamente, eram filhotes de gatinhos.
- Ah, Meu Deus! - ela disse e eu jurei ver mini estrelas nos seus olhos. - Olha, Victor - ela apontou o dedo na vitrine e puxou minha gola para que nossos rostos se juntassem, quase se amassando. - Olha como eles são fofos! - e ela falou aquilo com tanta convicção que eu me assustei.
- Eles são mesmo. - eu observava aquelas coisinhas pequeninas e de pelos, brincando e se jogando um em cima do outro.
- Vem, a gente tem que ir. - ela me puxou pela mãos. - Tchau, Gatinhos.
Nós continuamos andando em linha reta para chegar na casa dela e vez ou outra eu a encarava; ela estava sempre com a carinha mais fofa do universo, parecendo um daqueles emojis fofos.
- Sabe o que mais gostei hoje? - ela me perguntou enquanto eu a deixava no portão de sua casa.
- O quê? - perguntei.
- Do vestido com flores azuis.
- Ele é realmente lindo...
- Não seu bobão, eu gostei porque você me deu ele. Eu não me importaria se fosse um pano de prato. Eu gostaria da mesma forma. - ela encolheu os ombros num gesto tímido e eu me senti encolhido com aquilo também. - Boa tarde, Victor. - ela beijou minha bochecha.
- Boa tarde, Lisa.
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U m a P r i m a ve r a Q u a l q u e r
Romance"Eu só queria uma resposta. A resposta do que é o amor. Eu queria encontrar uma definição num livro, na internet, mas a única definiçao que eu podia encontrar, era em mim mesmo e aquilo me dava medo, porque... E se eu nunca encontrasse?" - Victor...