01 - P i n k H a i r .

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Parecia que a comodidade momentânea podia ser extremamente confortável, quando se tinha uma vida imprevisível.
Cada detalhe da normalidade era como um abraço de uma amiga distante para mim.
Já faziam uns quatro anos desde... Bem, aquilo. E aquela era a quinta escola nesses quatro anos.
Eu sabia que precisava me adaptar; me fazer socializar com algo por mais que eu não gostasse de pessoas e das premissas da psicologia humana, ou da própria falta de suas delas. Eu precisava daquilo por mim e pela mamãe.
Eu sabia que ela estava bem cansada de ficar tentando me encaixar em algum lugar e eu também sabia o quanto ela se dedicava nisso. E eu a amava, por tentar tanto. Então quando entrei na rua daquela escola, eu prometi pra mim mesmo, que ficaria por ali.
Aquela seria a última.
Eu não precisava fazer amigos. Ou ser o garoto mais popular da escola. Eu só precisava estar lá, mesmo que não me fizesse notar; precisava estudar para alcançar meu objetivo de vida, mesmo que eu fosse invisível para todos. Mesmo que eu me sentisse invisível como se nem eu mesmo me importasse.
Eram seis e quarenta da manhã quando eu atravessei a rua para os portões da minha nova escola.
Haviam todos os detalhes para a constituição de um todo e assim, consequentemente, para a ocupação de um tempo.
Haviam grupos subdivididos; pela análise rápida que eu pude fazer, amigos que já se conheciam desde a terceira série, pelo jeito que se comportavam, agindo tão habituais uns aos outros.
Crianças que deveriam ser do fundamental, pelo jeito que mexiam seus ombros e pela forma escandalosa de como riam. Na flor da essência.
O barulho do imenso chaveiro da tia mal humorada da escola, que sempre sabia a que chave pertencia a cada fechadura. Era um tipo de superpoder? Um dom? Porque eu simplesmente não entendia.
E dentre todas as pessoas que pareciam tão mundanas, eu vi algo que não conseguiu permitir a minha visão continuar pairando.
Uma cabeça rosa. Sim, uma cabeça rosa.
Não era como uma toca, ou um gorro, ou qualquer outra coisa, porque era uma cabeça rosa; de cabelo rosa.
Eu me esgueirei pela multidão, tentando ver mais daquilo e descobrir a quem aquele cabelo pertencia, mas tudo o que eu consegui ver, foi a cabeça rosa entrando pelos portões, junto com o fluxo de gente.
Me perguntei se eu estava alucinando, pois assim que alcancei o pátio, não havia nenhum indício de alguém com uma cabeça... Rosa.
As pessoas ficavam pelo pátio. Elas riam, conversavam e se distraiam. E eu entendia o porquê. Era primeiro de agosto, todo mundo estava se reencontrando depois das férias da metade do ano. As férias de inverno.
Menos eu. Porque eu não tinha ninguém pra encontrar.
Então ao invés de ficar pelo pátio e procurar alguém que pudesse ser legal, eu simplesmente alcancei o segundo portão e subi o primeiro lance de escadas para a minha primeira aula do dia.
A primeira aula da metade do primeiro dia do ensino médio estadual.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora