17 - I c e C r e a m

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Eu bati no portão, e ouvi algumas vozes subsequentes.
Logo passos soaram perto e o portão destravou, mas não foi Lisa quem abriu:
- Olá, rapazinho.
- Anh, oi. - não era a mãe dela também. Era um homem. Com uma barba por fazer.
- A Lisa já está descendo.
- Ah, tudo bem. - eu fiquei encarando as coisas ao redor.
- Sou Anderson. O pai dela. - ele disse e logo a face séria foi substituída por um sorriso curvo. - E você?
- Sou Victor Winters. Eu sou só um amigo dela...
- Prazer. - ele apertou a minha mão. - Você quer entrar, para esperar por ela?
- Ah não. Não precisa se incomodar.
O que acontecia ali? Parecia que tudo e todos ao redor dela eram agradáveis.
Perto dela, as pessoas pareciam nunca ter dias ruins.
- Tchau, pai. - ela deu um beijo na bochecha do homem, que se agachou e depois passou pelo portão. - Ele falou alguma coisa boba? - ela perguntou enquanto caminhávamos pela calçada.
- Não. - considerei. - Ele é bem legal, na verdade.
- Ele é bobão. - e o primeiro sorriso da manhã. Como a primeira flor.
- Seus pais são legais.
- Eu quero conhecer sua mãe. - eu a encarei e os olhos dela estavam tingidos de um castanho que eu nunca vira por ali. - Ela deve ser uma boa pessoa.
- Ela é.
Fiquei pensando no que aquilo representava. Por que ela queria conhecer minha mãe?
A minha cabeça começou a fazer especulações vividas sobre o que o palpite dela significaria. E eu tinha margens de erro. Muitas, aliás.
- Ei, - ela estalava os dedos em frente ao meu rosto. - Quer tomar um sorvete depois da aula?
- Eu quero. - ela sorriu e foi como ver milhões de vagalumes iluminando uma florestas escura.
Lisa tinha essa capacidade de me fazer imaginar coisas simples
- De que sorvete você gosta? - ela me perguntou segurando firme as alças de sua mochila marrom.
- Baunilha e você?
Eu sabia.
Não tinha nada sem mais personalidade do que sorvete de baunilha. Todo mundo sabia que ou você escolhia morango ou chocolate.
- Eu gosto de morango. - isso explicava o cheiro dela. - Mas meu preferido é cereja. - e isso explicava ainda mais.
Cereja?
- Cereja? - coro dos meus pensamentos. - Nunca tomei sorvete de cereja.
Ela parou de andar e me encarou de olhos de estrela.
- Você vai ter que gostar, porque vai tomar hoje. - o sorriso dela foi se formando aos poucos.
Pensei se aquilo a tornava mais única.
- Qual a sua primeira aula? - ela me perguntou.
- Química e a sua?
- Biologia. - ela mostrou a língua. - Não gosto muito, mas algumas coisas são interessantes.
- Sim.
Nós já estávamos entrando para o pátio.
- Você me espera aqui para a gente ir à sorveteria? - ela perguntou e eu jurei que estrelas cadentes cortaram pelos seus olhos.
- Sim, eu vou estar bem aqui. - ela corou e se virou para pegar o caminho para às escadas.
- Até mais, Victor.
- Até mais Lisa.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora