74 - T a k e C a r e O f M e

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Eu bati no portão de madeira.
Não demorou muito para ele vir e me abrir passagem.
Não dissemos um "oi".
Eu só entrei e fui direto pra sua sala.
Suas malas já estavam todas prontas na sala, e aquela cena foi um pouco decepcionante, mesmo que eu soubesse o que encontraria quando o visse:
- Eu falei com sua mãe. - eu assenti com a cabeça. - Ela falou que tudo bem vocês olharem a casa para mim, enquanto eu estiver fora.
Eu assenti mais uma vez, com medo de como a minha voz pudesse soar:
- Quanto tempo... Você vai ficar fora?
Ele enfiou as mãos nos bolsos e eu jurei me assustar com a falta de um palito de dentes na sua boca.
- Meu contrato é de um ano. - eu abaixei minha cabeça também. - Se tudo der certo, eu não volto.
Eu assenti com meus olhos querendo embaçar.
Mas eu não tinha esse direito.
Inclusive, eu não o contara nenhuma partícula do que estava acontecendo; eu não queria o preocupar e o fazer  ficar.
Eu não me perdoaria se ele perdesse uma oportunidade tão boa como aquela, porque eu estava triste.
Estava tudo bem, não estava?
Aquilo era parte do processo de aprendizado e crescimento da vida, assim como o amigo de alguém havia dito.
Então eu não podia o prender com isso:
- Sebastian,
- Hum?
- Não me abandona, ok? - nessa hora, meu olho já não me obedecia mais. - Por favor, não vai embora da minha vida.
"Eu... Eu não posso perder alguém como você e...
"Eu vou sentir tanto a sua falta!"
Meu olhar se fragilizou e eu quis me bater por soar tão vulnerável, mas aí eu percebi.
Eu sempre soava.
Porque ele deveria ser meu irmão mais velho; porque ele vinha cuidando de mim desde que me pediu desculpas aquele dia; desde que abriu seu coração para mim...
- Victor... - ele soltou as malas e veio andando na minha direção.
Sebastian me deu um largo abraço, que nem foi tão apertado assim, mas foi extremamente aconchegante; ele levou a mão á minha cabeça e eu o abracei mais forte, enquanto águas transparentes fluíam das minhas vias lacrimais.
Eu me senti quando tinha 6 anos de novo, e meu pai voltara de uma longa viagem.
Meu pai me segurara exatamente como Sebastian estava fazendo.
- Eu nunca deixaria alguém como você pra trás. - foi com isso que comecei a sacolejar no seu abraço. - Nunca.
Eu assenti e abaixei a cabeça, deixando as lagrimas cicatrizarem nas minhas bochechas.
- Hoje quando fui falar com sua mãe - ele ainda me abraçava. - Ela me contou sobre Lisa.
Eu saí do abraço.
Me afastei dele, como se de repente ele ardesse. Como o sol.
Lisa.
Por um momento eu esquecera dela, e a menção ao nome dela assim, me fez ficar estático.
- Ela... Ela... - não havia o que dizer.
Só havia um fato contatado. - Ela quebrou meu coração, Sebastian. - eu abaixei minha cabeça. - Me desculpe; eu não consegui manter a promessa.
- Eu fui tolo, Victor. - ele levou um palito de dentes á boca e foi como sentir uma onda de paz finalmente brotar no ambiente, como uma samambaia saindo da parede.
Foi assim que eu soube que tudo estava bem:
- Eu não podia fazer você prometer não ter seu coração quebrado.
- Ela me machucou e eu disse isso á ela. - eu confirmava os fatos. - Eu a deixei, Sebastian.
Ele assentiu e veio me abraçar de novo.
Mas eu não chorei tão desoladamente assim dessa vez.
Foi um choro controlado. Quieto.
Um choro de conformismo.
- E eu ainda não sei o que é amor, mas... Não é isso.
- O amor não é cruel, Victor. - ele disse pegando as chaves de sua casa e me guiando para fora.
- Para onde estamos indo? - eu perguntei confuso, secando o rosto.
- Pra sua casa; vamos passar a noite lá, jogando video-games. - ele disse trancando a porta com um sorriso, espontâneo, sem amarras.
- Pra minha casa? Mas e você? E sua viagem? Você... - chequei meu celular. - Deveria estar indo para o aeroporto.
- Não. - ele disse passando o braço pelos meus ombros, enquanto subiamos a rua -  Eu deveria estar tomando conta do meu irmão mais novo.






















E foi assim, que eu descobri como é se apaixonar por alguém. E que nem todo primeiro amor é o amor da sua vida.
Lisa pode ter sido primaveril, mas talvez do que eu precisasse mesmo, fosse de outras estações.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora