Eu estava fungando na cama; completamente encolhido, enquanto minha mãe acarinhava meu cabelo claro, espetado, e me dizia que tudo ficaria bem uma hora.
Mas era estranho para mim pensar isso, logo após tomar meus remédios de pânico, porque aquilo significava que nada estava sobre controle, e sem controle era bem difícil das coisas estarem bem.
Eu estava triste e com medo.
Com medo de ter um ataque de pânico.
Com medo de perder Lisa.
Com medo de não conseguir a amar.
Eu sinceramente estava me perguntando se o problema não era eu.
Ela era tão perfeita e tão sorridente com toda aquela massa de cabelos rosa; como era possível que alguém não a amasse? E eu não sabia se a amava.
Talvez eu fosse um tolo mesmo.
Talvez eu não merecesse ela.
Talvez ela fosse boa demais para mim.
Talvez eu não servisse para ela.
Talvez... Só talvez, eu devesse a livrar de mim.
Talvez eu não a estivesse fazendo tão bem assim quanto todo mundo estava vendo.
Eu queria que ela fosse amada, mesmo que eu não conseguisse a amar.
Eu voltei a aumentar a frequência do choro:
- Mãe? - eu levantei a cabeça com os olhos ensopados. - Você acha que a culpa é minha? Por não saber se a amo?
- Filho, vocês estão com pouco menos de dois meses; não da pra saber se você ama uma pessoa nesse tempo. Não é sua culpa. - eu percebi, que aquilo fora exatamente o que Sebastian dissera, num dia e jeito diferentes.
Eu sentia muito.
Por não conseguir nem saber se eu amava Lisa.
- Sabe o que eu acho? - mamãe parecia adaptar uma idéia. - Que deveria passar a noite na casa de Sebastian.
Eu estranhei.
- Na casa de Sebastian? - eu franzi a testa. - Tem certeza, mas e se eu tiver...
- Você não vai ter, Victor. - ela me poupou de falar. - E é justamente por isso, que eu quero que você vá pra lá. Quero que se distraia.
Eu apenas assenti, sem muita vontade.Eu bati no portão de madeira dele umas três vezes e nada se alterou na cena.
Nenhuma luz acendeu, nenhuma resposta, então eu só dei meia volta.
- Acho que não tem ninguém...
Mas um barulho de chave na fechadura e o portão se abriu:
- Victor? Senhora Winters.
- Olá, Sebastian. Boa tarde. - mamãe o deu um sorriso agradável.
- Boa tarde. Tá tudo bem? - ele disse, e mesmo de cabeça baixa eu podia jurar que ele tinha um olhar recaído sobre mim.
- Eu achei que seria interessante para o Victor passar a noite aqui, com você. - ela tocou meu ombro, num casaco azul desbotado, que antigamente era do papai. - Algumas coisas aconteceram e...
- Foi a Lisa de novo, não foi, Victor? - a pergunta foi direta para mim, mas eu deixei um silêncio correr por ali, até eu conseguir erguer a cabeça para o encarar.
Soltei minha bolsa de pano no chão e sai correndo para o abraçar; ele me abraçou de volta e me segurou forte.
- Pode deixar, senhora Winters. - ele acariciou minhas costas, como um irmão mais velho que presta consolo ao mais novo; eu me senti algo pequeno, mas significante no mundo. - Eu levo ele pra casa pela manhã.
- Tudo bem. - eu só ouvi ela dizer, pois meus olhos estavam fechados e eu os apertava para frear as lágrimas, mas eu estava falhado. - Os remédios dele estão aí dentro. Se precisar.
Eu senti o movimento de cabeça de Sebastian e então eu desgrudei os braços dele e vi minha mãe acenar do carro, indo embora.
Eu sabia que aquela era uma decisão difícil para ela, mas por algum motivo inimaginável, ela sabia que podia contar com Sebastian e eu também sabia disso.
Acontecia que eu me sentia extremamente pequeno quando essas coisas aconteciam; como uma criança de colo, e toda vez que Sebastian me abraçava, eu desejava que lá no fundo o nosso DNA fosse igual e ele fosse meu irmão.
Ele me olhou de um jeito meio quebrado:
- O que aconteceu entre vocês? - então a pergunta finamente veio.
- Ela pediu para eu dizer... E eu não consegui. - me abracei.
Eu não sabia se o frio vinha de dentro ou de fora; eu só sabia que Sebastian pousou uma manta nos meus ombros, de qualquer forma. Como uma prevenção.
- Você não pode sabe o que é amor em dois meses. - ele fez com os dedos. - Ainda mais se nunca teve uma experiência parecida antes.
Eu fiquei quieto e funguei.
- Ela não pode te cobrar isso.
- As vezes acho que é minha culpa. - resumi.
- Victor, você não tem que ser como ela...
- Ela perguntou o que havia de errado comigo, por não conseguir dizer aquilo para uma garota. - meu olho começou a borrar. - Então, O QUE HÁ DE ERRADO COMIGO, SEBASTIAN?
- Exatamente nada. Você só não é uma copia fiel dela.
- Ela ia me dizer mais alguma coisa, mas desistiu... - as informações só colidiam umas com as outras, sem nem querer fazer sentido na minha cabeça.
- Acho que ela não precisava te dizer isso.
- Por quê? Eu sou frágil? Por causa dos meus ataques de pânico? Por causa...
- Victor, para. - ele segurou meu rosto com as mãos de forma firme e compacta. - Eu estou tentando te ajudar, não alimente essa neurose. - ele disse calmamente olhando nos meus olhos e eu me acalmei instantaneamente.
Eu só queria uma resposta. A resposta do que era amor.
Eu queria encontrar uma definição num livro, na internet, mas a única definição que eu podia encontrar, era em mim mesmo e aquilo me dava medo, porque... E se eu nunca encontrasse?
- E se eu nunca descobrir o que é o amor, Sebastian?
Ele me encarou naquela calma seleta de sempre:
- Não há como não descobrir. - ele deu de ombros. - É como um vírus; você acaba sendo infectado.
Ele colocou um palito de dentes na boca:
- A diferença é que só há um alguém que está na mesma compatibilidade que você, pode te passar esse vírus.
Eu fiquei quieto, pensando no quanto a analogia segura dele me dava medo:
- Mas não é uma coisa assim forçada; onde você tem que dizer coisas por obrigadação. - ele negou com o palito na mão. - Só flui e você se sente pronto naturalmente.
Então eu criei uma pequena esperança de um dia descobrir o que era aquilo e achar a minha própria definição para aquilo.
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U m a P r i m a ve r a Q u a l q u e r
Romance"Eu só queria uma resposta. A resposta do que é o amor. Eu queria encontrar uma definição num livro, na internet, mas a única definiçao que eu podia encontrar, era em mim mesmo e aquilo me dava medo, porque... E se eu nunca encontrasse?" - Victor...