72 - G o i n g A w a y ?

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Sebastian finalmente tinha atendido seu celular, e eu descobri que ele recebera uma proposta, que eu diria irrecusável:
- Então você está indo pra Brasília hoje? - eu perguntei, enquanto encarava um ponto no espelho e segurava o fixo entre o ombro e a orelha, porque tentava tirar uma mancha do mesmo espelho.
- Sim. Às uma hora da manhã, eu estou saindo de casa.
- Entendi.
Aquilo foi triste.
Sebastian fora convidado para ser ajudante numa academia de Muai Thay na capital.
- Então você está indo embora? - foi uma pergunta retórica e dramática. Válida de Shakespeare.
- É. Acho que é isso.
A voz dele não tinha uma nota de empolgação e eu não entendi o porquê.
Já fazia um tempo na verdade que ele tentava entrar lá. Ele me contara. Achei que talvez aquilo fosse o seu sonho.
Eu deveria ter ficado feliz por ele, e uma parte de mim estava, mas na realidade, tudo o que eu via, era meu único amigo indo embora.
O meu irmão indo embora.
A única companhia espontânea que eu conseguira encontrar.
Mas eu estava tão aéreo.
Tão aéreo que nem percebi que aquilo não era um ato nobre e sim uma negligência humana, o egoísmo.
Eu sentia falta de ficar três dias sem falar com ele, então aquilo era o raio central da tempestade que estava me acontecendo.
- Victor? Você ainda está aí?
- Sebastian? - não esperei uma resposta. - Será que eu posso ir com você até o aeroporto?
Houve um momento:
- Eu adoraria. - outro silêncio. - Até mais, Victor.
E sobre Lisa...
Eu não liguei mais o celular, mas ela veio bater no meu portão; mamãe fora lá fora todas as vezes e a dissera que eu não me sentia confortável de a receber.
Todas as 3 vezes.
Era metade de janeiro e logo mais as aulas voltariam e eu seria obrigado a ver ela de novo.
A minha cabeça rachava, toda vez que eu me permitia divagar sobre o assunto e encontrar uma saída para aquilo.
Não era difícil encontrar uma saída; o difícil era saber qual era a saída se eu ainda gostava tanto dela.
Era uma dolorosa saída.
"Nunca, Nunca na sua vida, Victor, você pode deixar alguém dizer que você não e seus sonhos não são importantes..." "Nunca deixe uma pessoa dizer que você não é suficiente...".
Nunca.
Mas o que eu podia fazer se já havia acontecido?

Enquanto eu andava a curta distância com aquela blusa branca social, eu pensava no quanto eu preferia um vento leviano aquele calor torturante de janeiro.
Talvez aquele dia tivesse sendo o do aniversário de alguém.
12 de janeiro.
Talvez estivesse sendo o dia feliz de alguém.
Mas não o meu.
E quando eu bati no portão branco, eu não me senti tão nervoso, quanto eu pensei que estaria.
Eu não conversara com mamãe sobre aquilo; nem com Sebastian.
Apenas com Deus. E com  papai.
Eu me senti tão leve; como um gesto natural da ordem.
E eu ainda estava triste, mas de repente algodão doce e nuvens de algodão não tinham o mais o mesmo significado.
E eu fiquei com medo de odiar nuvens por isso, mas não havia  rancor e eu ainda odiava pipocas, então achei que aquele fosse o meu sinal.
Meu legítimo sinal.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora