18 - A K i s s

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Nunca me senti tão elétrico por alguma coisa.
Era como se o verão tivesse chegado e eu finalmente pudesse ir á praia.
Eu podia sentir a areia nos meus pés e a magnitude da brisa do mar na minha pele.
Eu estava tão feliz, que até o que a professora de física falava me parecia interessante, especial.
Especial como ela era.
Além de estar feliz por ter conseguido a chamar para sair, eu estava feliz por ela ter aceitado fazer uma coisa tão boba comigo.
Aquilo era um encontro?
Mas para ser um encontro eu não deveria usar algo como um terno e ir a buscar num carro? Mas eu não tinha um carro. Eu só tinha dezesseis; nem podia dirigir ainda.
Minha empolgação foi sumindo.
Eu não deveria ir a buscar em casa e dizer olá para a mãe dela, como faziam nos filmes? Não deveria a dar um buquê de flores?
Eu não tinha um buquê.
Eu deveria elogiar os olhos dela. Sim. Isso eu podia fazer. Eu poderia passar a minha vida inteira a dizendo o quanto o castanho dos seus olhos era bonito.
Eu fiquei instintivamente preocupado. Eu era simples. E ela era a complexidade das galáxias; como eu poderia representar uma simples estrelinha para ela?
Eu não tinha nada planejado, mas eu só queria que ela ela risse. Eu queria que ela gostasse.
Não. Eu queria que ela gostasse de mim.
Derrubei o lápis que rodava nos dedos ao chegar a essa conclusão.
- Ops. - alguém pousou o lápis na mesa, antes que eu pudesse sequer tocá-lo no chão. - Acho que deixou cair.
- Obrigado. - eu disse, vendo Sophia com uma expressão de sorriso e brincos de argola.
- Eu nem vi você indo embora da festa.
- Ah... Eu, anh...
- Você estava com aquela menina, não estava? - ela não me encarou nos olhos e agradeci a Deus por isso. - Aquela de cabelos rosa.
Eu só assenti. Não queria a minha voz sobre Lisa perto de alguém que não fosse ela.
- Ela é sua namorada?
Eu encarei os olhos de Sophia e de repente eles estavam grandes e agudos.
- Ah, não. Anh, não mesmo... Eu e ela... A gente...
- Tudo bem, Victor. - ela disse, abaixando a cabeça de novo. - Até mais.
Eu não entendi o que aconteceu e preferi não entender.
Voltei a copiar as fórmulas de giz na lousa.


Eu estava parado no fim da escada. Esperando por ela.
Meu coração martelava em cores que não existiam e eu era capaz de sentir.
Eu batia meu pé esquerdo no chão, quando não estava andando de um lado para o outro para conter o nervoso.
Olhei meu relógio. Meio dia e meio. E ela ainda não havia descido.
Será que ela havia desistido de sair comigo? Será que ela teria repensado e vira que eu não podia pagar muito mais do que um sorvete para ela? Será que isso era de fato tão importante?
Ouvi passos suaves atrás de mim, e estranhei já que os passos dela deveriam ser mais animados, mas quando me virei, não foi os cabelos dela que vi.
- Sophia?
- Victor, eu tinha que te dizer uma coisa. - eu nunca vi os olhos dela daquele jeito.
Eu nunca vira os olhos de ningueem daquele jeito. Parecia um misto de emoções.
- Eu... Eu... Victor, eu gosto de você! - ela soltou de uma vez.
Tomei um susto e minha boca se abriu em um "O" estranho.
Não. Eu me senti estranho.
- Quê?
Ela olhou para o chão e seus lábios começaram a torcer, como se ela estivesse amargurada.
Ela se aproximou e eu estava tendo um ataque de pânico em silêncio, até que ela enconstou seus lábios nos meus.
Ela não ousou mais nenhum toque e eu fiquei parado que nem um poste.
Ela encostou os lábios nos meus de modo suave, poderia ter sido até bonito, se eu sentisse alguma coisa por ela. Mas não. Eu não sentia.
- Me desculpa, é que minha bolsa prendeu na cadeira e eu fiquei tentando...
Aquela voz.
Eu me afastei de Sophia e olhei na direção da escada.
Era ela.
O meu sonho.
O algodão doce rosa com gosto de cereja.
"Lisa", foi um sussurro.
Ela estava no alto das escadas, encarando a cena toda, com a bolsa marrom nas mãos. Os olhos dela se desfaziam, virando um dos planetas sem luz do universo. E sua boca estava num formato estranho; parecia uma linha. Seus dentinhos retratavam um acido que pareceu querer chover pelos seus olhos.
- Lisa. - eu consegui dizer, quando ela saiu correndo pelas escadas. - Lisa! - eu sai correndo atrás dela.
- Victor. - ouvi alguém chamar, olhei para Sophia e seu rosto doeu.
Continuei correndo atrás de Lisa.
Eu só sabia que eu tinha visto o rosto dela murchar como se fosse uma rosa e ver os olhos dela encher significativamente rápido, foi como ver um buquê inteiro de rosas se despedaçar.
Saí do colégio em busca dela.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora