29 - S p r i n g

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Eu estava fazendo o dever de matemática, quando pensamentos aleatórios tomaram a minha mente, me distribuindo por várias teorias.
E eu queria fazer o dever de matemática. Eu realmente queria. Mas a minha cabeça, simplesmente não colaborava.
Eu ainda estava considerando a ação de Bruno há dois dias atrás.
Achei que fora Lisa, ele foi a primeira pessoa que fora legal comigo e eu sinceramente gostaria de entender o porquê.
Ele não tinha motivo aparente para fazer algo por mim; e mesmo assim ele o fez.
Eu também gostaria de descobrir mais sobre ele, porque ele sinceramente me deixava curioso.
As vezes eu via ele pela escola; e ele sempre parecia fechado. E talvez, até um pouco triste.
Eu fechei o caderno quadriculado e peguei minhas chaves, no chaveiro:
- Onde você está indo, mocinho?
- Ver a Lisa.
- Já terminou o dever? - minha mãe gritou da cozinha, enquanto eu ouvia as panelas colidindo umas com as outras. - Droga!
- Faltam duas questões, mamãe. Prometo fazer quando chegar. - corri até a cozinha e estalei um beijo em sua bochecha morena. - Quer ajuda?
- Não, tudo bem. Você volta a tempo do jantar?
- Sim.
- Traga ela para comer aqui. - ela disse com uma naturalidade, que eu gostaria muito de saber da onde vinha.
- Trazer ela para jantar com a gente? - eu repeti, quase incapaz de imaginar.
- Sim. Qual o problema? Já faz uns dois, três meses que você a conhece...
- Eu preciso ir, mamãe. - vi ela sorrir, mas se conservar.
Então ela negou com a cabeça, num gesto remoto, enquanto abafava a risada:
- Vai com Deus, filho.

Eu aguardava no portão branco dela, enquanto passos ressoavam e eu me perguntava se seriam dos pequenos pés dela.
Não importava quantas vezes eu a visse, meu átomos sempre se animariam com a idéia de a ver mais uma vez:
- Victor? - era a senhora Sandle.
- Olá, Senhora Sandle. A Lisa está?
- Ela está sim. Mas está ocupada arrumando a casa. - sua voz parecia generosa apesar da morte das minhas células.
- Ah, tudo bem então. - eu abaixei a cabeça, e fui dando meia volta.
- Mas se você quiser esperar por ela terminar... Eu acho que ela não demora muito. - me virei para a mulher de cabelos médio, com um sorriso amistoso nos lábios.
- Eu poderia a ajudar, se não tiver nenhum problema. - sugeri.
- Aposto que ela adoraria. - ela abriu mais o portão e eu tomei meu caminho.
- O senhor Sandle está?
- Na verdade, ele só chega mais para a noite. - ela disse.
- Ah, tudo bem.
- Pode subir. - e eu o fiz.
Assim, quê alcancei os degraus mais altos da escada, fui capaz de ouvir a vozinha dela seguindo alguma música realmente animada.
Ela não notara a minha presença. Eu tinha certeza disso, pois ela batia os cabelos de um lado para o outro numa dança maluca e engraçada, e ela tentava acompanhar as notas, mas ela sempre falhava.
Não pude deixar de soltar um riso.
Então ela se virou com um pano na mão:
- Victor! - eu não soube definir o que havia no rosto dela. - O que você tá fazendo aqui?
- Há um tempo atrás, eu disse que te ajudaria com o trabalho de casa. - eu dei mais alguns passos. - Acho que é isso. - encarei meus tênis desgastados pelo tempo.
- Você realmente veio me ajudar? - os olhos dela pareceram uma infinidade, e eu jurei ver estrelas. Mas não estrelas comuns. Não. Estrelas cadentes.
- Sim.
Então ela deu um sorriso tímido e fechado, que não me liberava seus dentinhos, e juntou as mãos, meio que se balançando de um lado para o outro:
- Estou tirando o pó. - eu assenti e peguei o paninho que ela me entregou.

- Eu ainda não entendo o porquê dele ter sido tão gentil. - eu dizia, enquanto terminava de limpar a estante.
- Sebastian é esquisito, eu não costumo falar com ele. - ela se envolveu em uma carranca divertida.
- Quem sabe, ele não tenha um bom coração? - eu dei de ombros.
- Talvez. - ela também deu de ombros. - Estou animada para o acampamento.
- Eu também.
Eu soltei o paninho e a encarei.
Seu celular começou a emitir sons exatamente fofos. Um conjunto de balbuçiações em uma voz claramente feminina. Eu estava atônito, até perceber que era uma música.
- Lisa? - minha voz pareceu viajar milhões de anos-luz até chegar em seus ouvidos.
- Oi?
- Você... Você aceita dançar comigo?
Os olhos dela cintilaram.
Meu coração palpitou.
Então ela sorriu e eu flori.
- Eu aceito, Victor. - ela soou como um paradoxo.
Ela pareceu tão jovem e tão madura ao mesmo tempo, que eu simplesmente não pude compreender.
Mas essa era a beleza daqueles cabelos tão rosa.
Ela caminhou até mim e eu depositei minhas mãos em suas costas, numa singularidade morna, enquanto ela recaia seus braços claros em meus ombros, que acabaram relaxando com seu toque.
- Me desculpe. Eu sei que não faz o menor sentido dançar de forma tão lenta essa música, mas é que... - os olhos dela me saudaram.
- Pode dizer. - foi um sussurro de luz.
- É que eu quero dançar com você, Lisa.
Os olhos dela foram infintos girassóis, e por um único momento, eu acreditei ser seu sol. Sua estrela primordial.
- Eu dançaria qualquer coisa com você, Victor.
Ela embalou nossos movimentos leves de um lado para o outro, enquanto, encaixava seu rosto rosto oval na curvatura do meu pescoço.
Me senti arrepiar quando a respiração dela brincou sobre a minha pele parda, como se também dançasse em conexão conosco.
Eu me senti tão bem.
A música acabou, mas nós continuamos.
A música mudou e essa era finalmente tudo o que nós precisávamos.
O rosto dela se voltou e nossos olhos se cumprimentaram como nuvens de algodão.
Eu estava sorrindo na minha mente.
Eu estava emocionado por ela ser tão linda e por eu estar dançando com ela.
Ela estava perto.
Eu nunca a senti tão linda.
Eu a Girei.
Houve uma animação de passos e ela relaxou nos meus braços de novo.
Eu a conduzi.
- Lisa, - eu passei uma de suas mechas de chiclete para detrás de sua orelha. - Não sei lidar com o fato de você... Ser a coisa mais impressionante que já vi.
A boca dela se abriu, seus dentinhos espaçados ganharam foco e eu juro por Deus, que era como se eu visse os átomos dela, com suas atmosferas elétricas em varias cores.
- Victor, eu...
Nossos olhos se deslocaram juntos, em um olhar rápido e então nós descemos, um com o olhar na boca do outro.
A boca dela pareceu tão rosinha; tão convidativa, e ela estava se abrindo, numa fração de segundos.
- Victor, eu quero...
Ela fechou os olhinhos e seus cílios pareceram se curvar num gesto majestoso.
Eu quis.
Meu Deus do céu. Como eu quis.
- Eu nunca... Eu nunca fiz isso.
Ela abriu os olhos, com um quê divertido.
- Você confia em mim? - ele assentiu. - Ok.
Mas ela não me mostrou só como beijar alguém.
Lisa me mostrou como fazer alguém se apaixonar devagar. Lisa me mostrou como fazer alguém se perder e se encontrar.
Ela envolveu meu pescoço, e seus olhos estavam baixos, os meus também.
Minhas mãos desviaram para sua cintura e seu corpo, parecia se aproximar.
A atmosfera mudou.
Eu sabia o que aconteceria a seguir.
Meus olhos fecharam.
Eu senti.
Os lábios dela tocaram os meus com uma suavidade mútua e aquele primeiro toque foi tão bonito, que foi como se ativasse discargas elétricas.
Tudo o que eu sentia eram os lábios dela sobre os meus e como aquele contato era gostoso.
Minha mão subiu para sua nuca e ficou por ali, num carinho simples, enquanto os dedinhos dela, em um moletom grosso, ficavam nas minhas bochechas.
Eu encaixei minha boca melhor na dela e o seu nariz bateu no meu.
Ela foi se afastando aos pouquinhos, mas não totalmente.
Ela encostou a testa na minha, e simultaneamente, nossos narizes mantiveram o mesmo contato.
Ela estava de olhos fechados, quando sorriu e eu me sentia como um pedaço de céu estrelado.
E então quando nossos olhos se encontraram depois daquele beijo, eu só consegui pensar em uma coisa: é assim que você se sente quando finalmente se apaixona por alguém?
Você se sente na primavera?

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora