Q u a t r o D i a s D e p o i s
Mais um dia de escola.
E eu tinha história naquele dia.
Ela estava sentada no mesmo lugar.
Ela não estava participando da aula, muito menos sorrindo e fazendo seu cabelo de algodão flutuar.
E eu estava relativamente chateado.
Eu refletira sobre o conselho de mamãe durante praticamente, o que foi a noite inteira, mas ainda não conseguira fazer nada sobre.
Os ponteiros do relógio pareciam se deslocar em contraste com as montanhas que acabavam nascendo em mim.
Eu observava as costas dela num moletom azul, cheio de pontinhos fofos brancos, e pensava.
As pessoas encaravam muitas coisas como importantes; coisas que nem tinham um significado real.
Por exemplo, elas pagavam quinze, quase dezesseis, talvez dezessete reais mensais para algum aplicativo de música, para que pudessem escutar quando não estivessem em casa. E ainda diziam fazer aquilo pois não podiam viver sem.
As pessoas ligavam tanto para as séries e os filmes que assistiam, que se deixassem o netflix sem pagar por um mês, já seria o fim do mundo.
Mas para mim, ter coisas ou me abstrair delas, tinha o mesmo valor. Nada era tão essencial para mim, além do carinho da minha mãe, do conforto da minha casa, e do lar da minha própria mente.
Essas coisas, que as pessoas julgavam imprescindíveis, e as quais elas não conseguiriam viver sem, não passavam de meras aleatoriedades para mim.
Mas ela não. Deus, ela não.
Ela em poucas semanas ganhara um significado, como nenhuma das coisas tiveram; e todas as coisas, cada molécula de coisas que ela dizia, fazia ou me mostrava, de repente passaram a fazer parte desse universo de tolerância importante.
Lisa era mágica.
Depois daquele dia, Sophia mal me encarara e eu não tirava sua razão. Eu também não conseguira falar com ela. Eu não sabia se devia pedir desculpas, ou algo do tipo, mas me sentia minimamente incomodado com isso, o que me preocupava de fato, era Lisa.
Sempre ela.
Definitivamente, ela.E quando o sinal da última aula tocou, eu não estava empolgado para sair, porque eu não a levaria em casam assim como não a levei, em nenhum dos dias anteriores.
Eu não estava animado para chegar em casa, porque eu não receberia sua ligação e também porque ela não me atenderia se eu ligasse.
Andei pelos corredores do colégio. Tão cheios de gente. Tão vazios das minhas próprias emoções.
Não havia mais o colorido que geralmente cercava os quadros.
Continuei andando, num ritmo arrastado, quando percebi alguém á minha esquerda.
Não olhei para trás, mas pelo canto de olho, eu pude ver um cabelo preto, que andava me cercando nos últimos dias.
Achei ter sido impressão.
Mas não.
Ele era de cor clara, quase pálido. Seus olhos eram de um castanho tão escuro, que eu ficara em dúvida se eles eram castanhos ou pretos.
Seu cabelo escuro, era uma bagunça, entre cacheado e liso e seu corpo não era o mais atlético, mas eu podia dizer que ele tinha algum porte físico.
Ele parecia doente.
Eu não sabia quem ele era, muito menos, porque estava me seguindo nos últimos dias, mas ele me assustava um pouco.
Ele parecia um maníaco ou algo assim.
Mas quando eu atravessei os portões da escola e olhei pra trás, ele havia sumido.
Um vento frio me percorreu o corpo, e eu apertei mais o casaco verde, um tanto desgastado.
Eu estava seguindo, ainda na calçada da escola, quando algo me puxou para um beco, a alguns metros adiante.
- Olá, Victor. - encarei, aquele mesmo rosto que tinha me seguido.
- Oi. Eu acho. - matutei. - Quem é você?
- Sebastian. Meu nome é Sebastian McCurry.
- Desculpa, mas eu não conheço você. - eu tentei sair andando, mas ele me prendeu contra a parede de novo, dessa vez apertando meu casaco.
- Mas eu conheço bem você. - ele apertou meu pescoço.
Comecei a entrar em pânico, sem nem saber o porquê dele estar apertando o meu pescoço daquele jeito.
- Sou o namorado da Sophia. Ou era.
Meu cérebro captou a mensagem e eu sentia que faltava bem pouco para eu derreter na mão dele, e acabar virando nada além de poeira cósmica.
- E você beijou ela. - os olhos dele tremeram de leve.
- Eu não... - um soco. Bem no canto da boca, mas que soco.
E ele não me deu tempo nem de respirar; ele só continuou batendo no mesmo lugar, até que pequenos filetes vermelhos, com gosto de ferro, começassem a nascer, como flores silvestres.
E cada vez que ele batia na minha boca e minha cabeça voltava na parede sem reboco, eu sentia o corte afundar, mais e mais.
E aí, quando achei que ele tinha acabado, ele me pegou pela gola do casaco e me jogou na caçamba de lixo.
Tentei me levantar e correr, mas ele me pegou de novo, como se eu fosse um boneco em suas mãos, e começou a chutar meu estômago, me encolhi e tentei me proteger, mas ele parecia um furacão com mais braços e pernas do que eu podia contar.
- Sebastian, para! - ouvi uma voz gritar.
- Fica fora disso, Sophia. - nessa que ele se virou para ela, eu o dei uma rasteira, e chutei o meio de suas pernas.
Consegui sair correndo.
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U m a P r i m a ve r a Q u a l q u e r
Romans"Eu só queria uma resposta. A resposta do que é o amor. Eu queria encontrar uma definição num livro, na internet, mas a única definiçao que eu podia encontrar, era em mim mesmo e aquilo me dava medo, porque... E se eu nunca encontrasse?" - Victor...