56 - M u m ?

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Levantei gritando feito um louco:
- Shhhhhhhh! Tá tudo bem, tá tudo bem, filho. Estou aqui. Estou aqui. - minha mãe entrava pela porta e veio me dar um abraço emanando calmaria.
Eu olhei para o rosto dela e por um vislumbre de tempo, eu me assustei, até entender quem era aquela mulher que estava á minha frente, envolvendo meu rosto com um toque angelical.
- Ma-mãe? - eu pronunciei devagar. Como uma criança de poucos anos, pronunciando suas primeiras palavras.
- Oi, Filho. - ela olhou pro meu rosto e passou o polegar pela minha bochecha.
- Mamãe! - eu entendi e me joguei no seu abraço, num modo desesperado e coexistente.
- Shhh, meu amorzinho. Eu to com você agora. Já passou. Tudo já passou, vai ficar tudo bem, ok? - ela limpou o suor da minha testa e encarou meus olhos, de modo atordoado.
Eu suava e eu sentia como se calafrios estourassem pelo meu corpo. Mas não só isso. Pela extensão da minha alma.
- Eu não me sinto bem. Tudo esta de volta. Tá tudo de volta. - eu só conseguia repetir aquilo, como se pudesse me aliviar, mas eu estava em agonia. - A dor está de volta.
- Shhhhh, meu amor. - ela me abraçou de novo, enquanto eu me balançava em pânico branco. - Me ouça, - ela cercou meu rosto de novo. - O papai veio pra casa hoje.
Eu parei. Parei de me balançar; parei de me mexer; o choque nos cantos do meus cérebro suavizou.
- Ele veio? - eu perguntei, meus olhos se enchendo de novo.
- Veio. - ela deu um sorriso bonito, contornado por uma lágrima decadente. - E ele deixou um recado para você.
- Qual recado? - a visão começava a embaçar, devido as lágrimas embaçadas.
- O papai disse que ama você, Victor.
O medo foi suspenso. O choque foi embora. A dor voltou para o armário e foi trancafiada de novo. Como sempre era.
Meu coração começava a desacelerar e minha respiração assumia um ritmo mais normal; mais acentuada a alguem saudável.
- Papai...
Mamãe me encarou. Com um olhar severamente triste e me abraçou.
Aquele não foi um abraço para mim, foi para ela.
Minhas mãos se moveram para suas costas e eu notei que não tinha força para a abraçar.
Eu senti muito por isso.
Ela estava triste.
E a primeira coisa que minha consciência fisgou, foi que eu a tinha feito ficar triste. Eu a tinha feito lembrar...
- Vem, você tem que tomar um banho e eu tenho que preparar seus remédios e algo para você comer. - ela limpou as lagrimas e se levantou.
Eu só assenti e me levantei da cama.

- Obrigado. - eu disse, depois de tomar meus comprimidos e voltar pra cama, num pijama verde, confortável. - Mamã...
- Só um minuto, querido. - ela se voltou ao seu telefone. - Alô? - uma pausa e mamãe virou pra mim. - Oi, Lisa!
Lisa... Lisa...
Me senti ruim. Eu não queria falar com ela e isso se transmutou no meu rosto, enquanto eu negava euforicamente com a cabeça.
- Ele está dormindo ainda. - ela assentiu. - Sim, pode deixar, eu aviso. Um beijo.
- Eu não quero falar com ela. Não agora. - eu disse encarando os cantos dos meus dedos.
- Por que não? - mamãe se sentou na beirada da cama.
- Porque eu acho que a magooei ontem. Eu gritei com ela. Ela deve estar brava...
- Meu amor, você não estava... Bem.
- Eu estava doente mãe, pode dizer. - encarei os fatos e suas doutrinas. - Eu só não quero falar com ela agora.
- Tudo bem, como você quiser.
- Mãe?
- Hum? - ela se voltou para mim.
- E o Sebastian? - ela me olhou com um olhar impressionante e então ela sorriu.
- Ele trouxe você pra casa.
- Eu não me lembro do táxi...
- Ele veio andando. - eu não entendi. A festa ficava a mais ou menos dois quilômetros e meio da minha casa; era muito pra se andar. - Ele deixou a Lisa em casa e voltou pra cá depois; não desgrudou um minuto de você. Ele ficou até as cinco da manhã e depois foi embora, porque precisava ir em algum lugar.
Eu fiquei no meu silêncio. Perplexo.
- Mãe? Ele tentou ligar pra senhora, não tentou? - ela massageou as pálpebras e eu vi o quão cansada ela estava. - O que aconteceu? Por que a senhora não me buscou?
- Eu.. Eu... - ela abaixou a cabeça e seus cabelos estavam caídos na frente do seu rosto. - Eu esqueci o celular no silencioso; estava com o Renê... Não consegui acordar.
- Ah.
Eu me mantive neutro. Eu não podia culpar ela. Foi um incidente, não foi? Estava tudo bem.
- Vou deixar você só um pouco. Quer que eu ligue a TV?
Neguei com a cabeça.
- Vou desenhar. - ela assentiu e saiu, deixando a porta aberta.
Sebastian me levara para casa.
Aquilo era a única coisa na qual eu conseguia pensar.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora