- MÃÃÃÃÃÃÃE! - ela chamou, tirando os sapatos de chuva e os deixando do lado de fora.
Fiz o mesmo.
- OI! - foi quando percebi que a mãe dela era no mesmo ritmo que ela.
- Esse é o Victor. - ela me deu uma olhadela. - Meu novo amigo.
- Prazer Victor, sou a Suzana. - ela ofereceu a mão e eu a apertei.
- Não tem problema eu esperar aqui, até...
- Relaxe, Victor. - ela deu de ombros. - Fique à vontade.
- Obrigado. - mas ela já tinha me dado as costas.
Sinceramente, eu não esperava que a mãe dela fosse tão despreocupada. Eu quase tive um surto epilético quando ela me convidou para entrar, só de imaginar as mil e uma perguntas que a mãe dela me faria e no fim, a preocupação era em vão.
- Sua mãe parece legal. - comentei.
- Na maioria das vezes. - ela começou a subir as escadas de madeira. - Vem.
- Não tem problema? A gente subir? - eu estranhei.
- Relaxe, vamos ficar na sala.
- A sala da sua casa fica na parte de cima? - ela assentiu, enquanto sentavámos no sofá.
Aquilo me fez pensar como ela não tinha nada de convencional. E como as coisas sobre ela não podiam ser clichês.
Lisa não tinha nada de normal. E por um momento, eu pensei como a comodidade era chata perto dela. E por mais que a comodidade representasse segurança, eu adorava a sensação de imprevisibilidade dos olhinhos dela.
- Então... Você vai naquela festa? - resolvi puxar assunto.
- Que festa? - a boca dela se abriu fofamente no mínimo gesto.
- A da Sophia.
- Não. Acho que não. Eu não gosto muito de interagir. Sou mais na minha.
Eu apenas assenti, enquanto a redundância do silêncio se fazia presente de novo.
Então eu criei coragem para finalmente a encarar, sem desviar o olhar.
Tudo bem que a minha coragem só veio porque ela estava de cabeça baixa, olhando para a meia de ursinhos em seus pés pequenos.
Ela parecia um anjinho.
De cabelos rosa.
De cabelos rosa de algodão.
- O que foi? - de repente os olhos dela estavam maiores do que nunca.
E a única coisa que soava na minha cabeça era "eita".
- Nada.
- Você estava olhando o meu cabelo, não estava? - ela disse numa gentileza ventosa.
- É... Eu estava.
- E você gosta do meu cabelo?
Eu sabia que era um elogio que deveria sair mais naturalmente; mas Agradeci a Deus, por ela não notar o meu fracasso e desistir de mim:
- Eu gosto muito do seu cabelo. É tão bonito...
- Você gostaria de tocar?
Fiquei com medo dela detectar nos meus olhos a minha frequência cardíaca.
Eu não estava preparado para falar, então eu apenas assenti.
Lisa pegou a minha mão e levou até uma mecha de seu cabelo.
Foi o nosso primeiro contato. Foi a primeira vez que eu senti todos os meus átomos arderem. Mas mesmo assim, estarem em ordem.
Foi a primeira vez que notei que todas as flores deveriam desabrochar pra ela.
Eu comecei a mexer no cabelo dela; na verdade eu comecei a brincar com ele e eu rezei muito para ela não achar que eu fosse estúpido.
Mas ela riu.
Deus! Ela gargalhou e encolheu os ombros num gesto tímido e acolhido.
- E aí, parece mesmo algodão?
- Eu posso te chamar assim?
- De algodão? - ela me olhou um tanto confusa.
- De algodão doce?
Considerei o quanto aquilo era estranho. Eu deveria manter minha boca fechada e...
- Eu adorei! - os olhos dela viraram meio círculos risonhos. - É bem fofo, na verdade.
- Você não achou bobo? - ela negou, com uma face muito séria, que era difícil dela mostrar.
- Claro que não. E além disso, eu sempre quis um apelido. - eu dei um sorrisinho. - Eu vou pensar num apelido pra você.
- Ok. - retribui o humor dela.
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U m a P r i m a ve r a Q u a l q u e r
Romance"Eu só queria uma resposta. A resposta do que é o amor. Eu queria encontrar uma definição num livro, na internet, mas a única definiçao que eu podia encontrar, era em mim mesmo e aquilo me dava medo, porque... E se eu nunca encontrasse?" - Victor...