51 - M a d A t M e ?

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- Lisa! - eu parei um pouco e me apoiei numa placa de trânsito. - Lisa, para!
Mas ela não parava e eu não conseguia mais correr.
Ela bateu o portão na minha cara.

Depois de bater no seu portão branco, o que pareceu ser umas trinta e sete vezes sem pausa, eu resolvi que era melhor ir pra casa.
E eu realmente tentei ligar. Mas seu telefone nunca parecia disponível para mim e eu comecei a ficar triste.
E enquanto eu tomava meu banho, eu pensava no porquê dela estar brava dessa vez.
Não havia uma razão. Ela nem me deixara explicar.
Me Encolhi embaixo da água quente, enquanto o vapor do chuveiro embaçava o espelho.
Eu nem queria de fato a abraçar. Eu só quis que ela parasse de chorar, porque ela me deixou em pânico. Mas aquilo foi tudo.
Foi um ato desesperado.
Me senti errado mesmo assim. Talvez eu realmente não devesse a abraçar, porque agora eu era o namorado de Lisa. Não. Talvez eu não devesse abraçar mais menina nenhuma.
Devia soar como falta de respeito.
Abaixei minha cabeça para a água molhar meus cabelos claros e então eu me senti totalmente inocente.
Talvez eu devesse comprar mais sorvete de cereja e a pedir desculpas.
De novo.

Devia ser a terceira vez que eu batia no seu portão naquela noite, quando ele se abriu, me revelando um cabelo meio cinza e não rosa.
Me senti tão solitário quando não foi ela quem abriu a porta para mim, que até acariciei meu braço, que estava protegido pela minha blusa vermelha de manga longa.
- Olá! - ele disse, todo animado.
- Oi, senhor Robert. A Lisa está?
- Não, ela saiu para ir ao mercado com a mãe e o pai dela. - eu assenti. - Quer deixar algum recado?
Eu já estava me sentindo confortavelmente desconfortável, por estar tendo que encarar ele nos olhos, pois eu sabia que havia alguém machucando do seu coração, e como se o universo tivesse calculando os "x's" de suas grandes equações maldosas, ele fez uma piada.
A namorada do tio Robert apareceu.
E eu arregalei tanto os olhos, que o próprio senhor Robert olhou para trás, buscando o que me causara tanto espanto.
- Não, obrigada. Eu já vou indo. - eu disse e me adiantei quando vi Regina vindo na minha direção.
Ainda ouvi o vento me trazer algum sussurro dela, mas eu já estava longe demais para saber o que havia sido, então não consegui identificar.
Eu deveria ir para casa, afinal, eram sete e vinte e nove e eu disse à mamãe que eu voltaria logo, mas as minhas pernas me levaram para o terminal de ônibus e não para o caminho inverso.
Sentei numa das barras que haviam ali e observei alguns caras com seus skates e não sei exatamente o porquê, mas lembrei de Sebastian.
- Alô, Sebastian? - isso porque havia um silêncio morto do outro lado.
- E aí?
- Você está ocupado?
- To fazendo tapioca, por quê? -aquela era uma cena que eu não conseguia imaginar exatamente.
- Lisa está brava comigo.
- Me diga quando ela não está brava com alguém? - ouvi ele deixar algo de lado. - O que aconteceu?
- Ela me viu abraçando a Sophia.
- E o que mais? - era meio estranho o fato da total indiferença dele; eu achei que ele pudesse ficar um pouco alterado, devido Sophia ter sido sua namorada
- Foi isso.
- Victor, tenho uma notícia para você. - eu esperei, com medo. - Sua namorada é louca.
- Você acha que eu fiz errado? É só que eu não consigo ver gente desesperada na minha frente, e eu queria que ela parasse de chorar...
- Victor, você não tem que se explicar. Para ninguém, na verdade. - houve uma pausa e ouvi o som de panelas caindo. - Droga! Não desliga.
Eu sabia que ele estava longe do telefone, porque ele estava resmungando, enquanto panelas pareciam ser guardadas. - Oi.
- Mas, eu a magoei...
- Victor, você é puro. Você fez de coração; foi só um abraço. Todo mundo sabe que você gosta da Lisa. - ele fez uma pausa muito mal calculada.
- Você ia dizer mais alguma coisa?
- Todo mundo sabe que você gosta dela. - ele suspirou. - Ela deveria saber também.
Aquilo me queimou, um pouco. Não, aquilo realmente me queimou.
Sebastian fez silêncio do outro lado e eu ainda estava assentindo quando desliguei o telefone e voltei a caminhar para casa.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora