47 - P h o t o g r a p h

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Estávamos deitados com as mãos sobre a barriga em sua cama, sem dizer uma palavra.
Algumas pessoas podiam achar estranho, mas eu gostava de ficar daquele jeito com Lisa.
Mesmo sem dizer uma palavra, eu só gostava de saber que ela estava do meu lado.
Então eu senti um olhar perto de mim, eu virei meu rosto e encontrei o dela:
- Oi.
- Oi. - eu sorri, não havia como não sorrir.
Otávio pulou na cama nesse legítimo momento, como se já se sentisse em seu próprio ambiente.
- Oi, Otávio. - Lisa disse, quando ele se aninhou perto de sua barriga. - Será que eu posso colocar minha cabeça no seu peito?
Eu achei diferente. Ela não costumava pedir.
- Claro.
E ela o fez.  Delicadamente.
Notei que ela estava com o olhar direcionado para baixo, para onde minhas mãos estavam.
- Eu gosto dos seus dedos.
- Obrigado. - eu pensei em algo para dizer e responder aquilo com certa equivalência. - Eu também gosto dos seus e principalmente dos nós dos seus dedos.
Foi aí que eu achei que tinha estragado tudo e me arrependi de ter dito aquilo. 
- Obrigada. - mas ela riu e fez eu me arrepender de me arrepender.  - Eu gostei de hoje.
- Eu fiquei com dúvidas sobre o que te dar. - eu adimiti. - Queria que fosse especial. Eu queria que você ficasse feliz, Algodão Doce.
Ela alinhou a cabeça na curva do meu pescoço.
- Obrigada pelo presente. - ela acarinhou a cabecinha do gato que ronronou baixinho.
- Eu também gostei de hoje. - me lembrei de não esquecer de dizer aquilo também. Sebastian me disse que detalhes eram importantes para mulheres, mas eu só queria que eles fossem importantes para ela. - Na verdade, eu gosto de todos os dias com você, Lisa.
Ela me olhou. Não havia nenhuma margem de sorriso no seu rosto, mas eu podia ver um na sua alma.
E ele era lindo.
Ela pousou a mão no meu rosto e encostou os lábios no meus levemente, como numa própria brincadeira de criança.
- Eu também.
Eu vi os grandes olhos dela conciliarem com o que ela disse.
Um silêncio magnético e ela deu um pulo da cama. Um pulo que assustou Otávio, que saltou da cama junto com a dona.
Ela voltou para a cama, e se juntou a mim, com o braços estirados segurando a câmera.
- Podemos tirar uma foto?
- Claro que sim. - eu sorri.
Eu não gostava de tirar fotos, mas era algo com ela. Uma lembrança. Dela. Aquilo já era o suficiente para me fazer aceitar.
A foto saiu pela abertura na câmera e ela sorriu:
- Essa pode ficar comigo? Porque é a nossa primeira foto.
- U-hum. - ela subiu na cama e pendurou no mural que ficava ali.
- Lisa, seu namorado tem que ir embora. - a moça loira, Regina, passou na poeta avisando sem nem tentar ser discreta.
Lisa bufou.
- Tudo bem, já está no horário mesmo. - eu disse me levantando e ajudando ela a descer da cama, segurando suas mão para ela pular.
- Não é isso. É que não gosto dela. - ela encarou a porta por onde Regina tinha passado.
- E por que não?
- Acho que ela vai fazer mal para o  meu tio.
Eu não soube o que dizer diante daquilo, então eu só assenti e fiquei quieto, fingindo que compreendia  a preocupação dela.
- Ela não parece gostar dele, sabe? - ela continuou enquanto desciamos as escadas.
- Eu sinto muito. - era isso o que eu deveria dizer?
- Tudo bem. - ela deu um sorriso compassivo. - Se ela o ferir, eu chuto o traseiro dela. - eu sorri um pouco.
- Boa noite, senhor Robert e senhor e senhora Sandle. - eu acenei para os que estavam presentes na sala. - Cadê ela?
- Não sei. Mas você não precisa a dar boa noite, vamos. - Lisa me pegou pela mão e me arrastou porta fora.

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